O ataque ao ‘social graph’: como isso afeta você

Você está vendo um monte de publicações de pessoas que você nunca seguiu nas suas redes sociais? Está difícil aumentar seu número de seguidores ultimamente?

Muita gente percebeu que isso está acontecendo e não gostou nada disso. Tanto que existe um abaixo-assinado criado por uma fotógrafa nos EUA para que o Instaram volte a ser como era. A petição tem o apoio de Kylie Jenner (que, sozinha, tem nada menos que 360 milhões de seguidores no Instagram).

Contribuo com uma breve análise e reflexão a partir da coluna de Ronaldo Lemos deste 1 de agosto na Folha de S. Paulo e deste link aqui.


Social graph” ou gráfico social é aquele que representa as relações que você mantém com as pessoas via redes sociais. É amigo de fulano, que está ligado a ciclano, que conhece fulano e por aí vai.  Por conta de estarem assentadas sobre essas conexões é que as redes sociais se chamam assim, aliás.


O Facebook começou com o intuito de conectar pessoas, e o fez por bastante tempo. Ajudou a gente a reencontrar amigos, familiares, reaver um bichinho de estimação perdido, agir por uma causa coletivamente, protestar, organizar eventos. O Instagram também nasceu para isso, mas se propôs a criar conexões por meio de imagens.


Agora, as redes sociais como as conhecemos estão mudando de rumo, e pode ser que não tenha nem mais sentido chamá-las de redes sociais.
Se hoje a gente recebe aproximadamente 20% de conteúdo vindo de pessoas aleatórias, isto é, fora das nossas redes, esse percentual está para aumentar, e não se sabe bem para quanto (informações de Ronaldo Lemos, em sua coluna na Folha de S. Paulo de 1 de agosto de 2022).

De todo modo, a tendência – que já pode ser observada – é que passemos a ver muito conteúdo de desconhecidos nas redes, isto é, de pessoas e empresas que nunca seguimos – e pouco daquelas pessoas que nos interessam e com quem gostamos de estar conectados.

Prioriza-se o comercial em detrimento das genuínas conexões que temos feito há muitos anos pelas redes online.

Apesar disso, o Mark Zuckerberg jura que estão sendo pensadas estratégias para conectar as pessoas pelo Metaverso – um projeto que vem sendo acusado de ser um tanto alucinado e inflamado sem pistas de que realmente pode dar certo.

O que muda para quem produz conteúdo?

Vendo pelo lado de quem produz conteúdo, é o seguinte: o vídeo que você produz sobre aquele assunto que domina irá aparecer junto a outros, de especialistas parecidos (assim classificados pelos algoritm0s, o que é mais um problema!), mas vai aparecer para um público ditado pelos algoritmos. Muito pouco da sua produção irá aparecer para os seus próprios seguidores e as pessoas com quem você um dia achou que deveria se conectar.

Isso vai contra tantas ideias positivas de aproximação entre as pessoas e contra o necessário fortalecimento dos laços sociais para vivermos num mundo já tão difícil. Todas as batalhas do planeta são coletivas. 


Tudo que não precisamos é de redes sociais que priorizam o consumo, em vez de priorizar o que sempre fizeram: a manutenção do contato com as pessoas que formam as nossas redes.

Nem quero pensar nos desastres políticos que isso pode provocar.


As nossas conexões em rede vêm alimentando os pequenos negócios; permitindo que um consultor ou professor avance em sua carreira, conquistando mais adeptos gradualmente; permitindo que um músico apresente seu trabalho a mais gente a partir de amigos de pessoas conhecidas e afins; permitindo as divulgações de serviços locais como cursos, restaurantes etc. A nova política algorítmica pode destruir todo esse apoio, que é a única coisa (na minha opinião) realmente boa das redes sociais online, hoje.

O ser humano é social; as redes tendem a não ser mais

O ser humano é assim: social por natureza. Mas as redes que temos, infelizmente, não são. A boa notícia é que essas redes baseadas em algoritm0s não existem sem nós. 


Se nos convencermos de que existimos sem elas, e de que podemos criar ou demandar redes muito melhores, estaremos no caminho certo. Nós, afinal, sempre existimos a partir das redes sociais; porém, das redes sociais REAIS.

Imagem do post: Jonny Gios on Unsplash