Os empregos e os bichinhos de pelúcia da máquina

A temida máquina de bichinhos e sua garra. Foto: Google Images

Uma das minhas maiores frustrações na vida é nunca ter conseguido pegar um bichinho de pelúcia, nunca um sequer, numa máquina de brinquedos do tipo dessa aí da foto. Quando fui para Amsterdã, gastei muitas (não vou revelar quantas, tenho vergonha) moedas de um euro tentando pegar um Minion numa máquina num parque a céu aberto, achando que por estar na Europa de férias estaria imbuída de uma espécie de poder mágico que iria, finalmente, quebrar o feitiço e me deixar ter a alegria de capturar um bichinho.

Mas nem lá eu consegui.

E por que estou aqui falando de máquinas de bichinhos que mais parecem, ao menos para mim, máquinas de tortura? Porque, brincadeiras à parte, até hoje todas as vezes em que me propus a procurar um “emprego”, usando essa palavra e derivados, eu me senti assim, tentando pescar um brinquedo numa caixa transparente dessas. E aí quis compartilhar com vocês que cada vez menos gosto da palavra “emprego”, provavelmente porque esse é o sentido que ela me traz. Vivemos tempos turbulentos e empregos (e bichinhos de máquina) estão escassos, mas o fato é que essa palavra me incomoda e sempre incomodou, mesmo antes dessa crise em que muitos a minha volta estão sem um… trabalho.

E o que é emprego? E o que é trabalho?

Isso, vamos falar em trabalho. Eu proponho isso, simplesmente porque as relações de TRABALHO estão mudando; o emprego, uma delas, está deixando de ser a única para muita gente e vemos tantos exemplos de gente bacana empreendendo, reaprendendo, estudando, se reinventando, se virando, até do avesso. É desses exemplos que penso que temos que tirar forças quando o barco balança como tem feito. Não acredito, mesmo que quiçá sob o protesto de muitos, que a melhor forma de conseguir trabalho é bradando aos quatro ventos: “Preciso de um emprego!”

Até porque, na verdade, a gente não precisa de um. A gente precisa de dinheiro, para pagar contas, e o emprego é uma forma possível de conseguir isso, mas não a única. A gente precisa de mais coisas, também. Que tal a satisfação de realizar algo? De fazer algo que gostamos de fazer, e em que acreditamos? Consegui isso quando parei de pensar em emprego e pensei em trabalho. Sob pressão, conseguir pensar assim não é nada fácil. A vida manda sobreviver e a gente quer viver.

Que pressão.

Tenho pensado muito em como vivemos uma era de transição, e em como estamos sendo cobaias nisso. Mas também tenho pensado que, como é essa a maré e não tem outra agora, é nela que temos que navegar, tomando as rédeas, assumindo o leme. E não há mal nenhum em tentar surfar, já que as ondas estão aí, gigantes. Acho que parar de pensar em emprego e pensar em trabalho (e naquilo de que realmente precisamos: realização…) é uma boa forma de começar a surfar.

Um exemplo de como o trabalho pode acabar atraindo um emprego, ou mais trabalho e algum dinheiro, é que uma vez me candidatei a ser voluntária numa empresa e, quando me procuraram, tinha certeza de que seria proposto para mim um trabalho sem retorno financeiro. Mas, para a minha surpresa, eles queriam me pagar para fazer o que eu tinha me voluntariado para fazer. E eu, claro, achei ótimo, pois precisava trabalhar, precisava do dinheiro, apesar de ter topado até mesmo fazer sem que ele viesse, ao menos de início. E como eu consegui uma coisa dessas?

Certamente foi tentando.

Bom, eu tentei a sorte, acreditei mais em mim um bocadinho, escrevi um e-mail para uma pessoa que eu não conhecia me apresentando, enfim. Outra maneira de surfar as ondas deste oceano revolto: ousar. Ousei, e ousaria dizer que algumas das velhas regras de “etiqueta” da busca por trabalho (insisto nesta palavra) estão antiquadas.

Vale ser mais cara de pau agora? Eu acho que sim. Mais criativo? Não tenho dúvida. Afinal, o que se tem a perder se já perdemos tanta coisa? Claro, existe bom senso para tudo. Mas me parece que o momento pede um pouco mais de destemor e desembaraço. É preciso brilhar em meio a muitas pessoas, todas basicamente na mesma luta. O que traz mais duas necessidades: de solidariedade e a de colaboração. Mas essas eu acho que são bem-vindas sempre.

O pior medo é o de mudar… o que já não está bom

Já estive desempregada, mas, sem trabalho, foram raras as vezes. Aprendi que, em tempos de desemprego – e sempre, na verdade – trabalhar é ótimo. Ainda que seja para si mesmo, estudando, aprendendo um idioma novo; num café do amigo, servindo cookies e frapês; como voluntário; freelando, mesmo que ganhando pouco; investindo em algo que pode demorar a gerar frutos, enfim. É difícil lutar contra o desânimo que um momento complicado traz, mas será que não é mais difícil ainda deixar que o ócio mal aproveitado se aproprie dos nossos cérebros tão ricos?

O importante é, com o perdão da brincadeira porque ninguém é de ferro, diante das dificuldades não se sentir como eu me sinto em relação a esses bichinhos de máquina. Ou seja, totalmente impotente! Entendo a necessidade de “pescar bichinhos” que todos nós temos. Mas me parece bom pensar também em como criar as nossas próprias “máquinas de bichinhos”, em como fazer para ser as garras e não depender delas, ou até deixar de querer (ou de ser?) bichinhos um dia, porque teremos algo ainda maior e melhor. E não há nada de mau nisso.

Até porque, em tempo: empregos já tive muitos, mas bichinhos de máquina, até hoje, nenhum.