Vício em tecnologia: o que estamos fazendo?

Escrevi uma matéria sobre o uso da tecnologia de inteligência artificial da IBM (chamada Watson) no Museu do Amanhã do Rio de Janeiro e na Pinacoteca de São Paulo. No Museu do Amanhã, o recurso localiza-se ao final da exposição principal, que é permanente. Para entender com detalhes como funciona e ler outros depoimentos e entrevistas, peço que o leitor visite a página da matéria no site Porvir, onde foi publicada.

O que venho abordar aqui neste post é uma das reflexões que a apuração da matéria me trouxe. Para levantar as informações, fui conhecer pessoalmente a tecnologia no Museu do Amanhã, batizada de IRIS+. Lá, conversei com especialistas e visitantes, entre eles um garoto de onze anos, para colher depoimentos para a reportagem. Eis que, ao lhe perguntar o que o afligia, ele respondeu: o vício. Tímido, foi bem sucinto em sua resposta, mas nem precisava mesmo falar muito, impactante que soou aquela afirmação para mim. Para completar, lhe perguntei o que ele havia aprendido ali, naquele dia, e ele me contou que se deu conta de que a tecnologia não é so vicio, mas pode ajudar as pessoas, também.

Tela da IRIS+, inteligência artificial do Museu do Amanhã

Talvez os familiares e professores desse menino já tenham chamado a sua atenção por ele estar “pendurado” no tablet, videogame ou no celular (como acontece com o meu enteado, esse da foto do post, ou outras tantas crianças que conhecemos). Talvez não. Mas o fato é que, caso esteja acostumado a ouvir esse tipo de comentário, ele é somente um em meio a um mar de dependentes das tecnologias, sejam eles jovens ou não. Muitas vezes, quem chama a atenção das crianças também está no caminho de se viciar, ou já é viciado. Ao menos, ele demonstrou uma postura consciente a respeito da questão.

Não vou, neste post, entrar no mérito de discutir o que caracteriza vício ou dependência. Há quesitos médicos para identificá-los? Sim. Mas, aqui, vou me limitar à faceta do vício que é aquela do bom senso e do bem estar (talvez a primeira barreira a ser ultrapassada rumo a uma dependência maior): se está nos fatigando, nos esgotando, roubando nosso tempo de atividades importantes, fazendo as pessoas chamarem a nossa atenção… tem grandes chances de ser vício. Foi assim com Catherine Prince, que escreveu este artigo para o New York Times. Ela concluiu que precisava encontrar uma maneira mais saudável de se relacionar com seu smartphone.

Lembro que fiquei absolutamente impressionada quando, ao assistir “Lo and Behold, Reveries of the Connected World”, de Werner Herzog (sobre o qual já comentei aqui antes) soube que adolescentes usam fraldas porque se recusam a levantar para ir ao banheiro durante as intermináveis partidas de videogame que disputam, sem poder correr o risco de perder. O documentário versa sobre essas e outras impugnações do mundo digital, sem deixar de destacar, por outro lado, algumas das grandes maravilhas fascinantes da nossa vida tão conectada.

“Heroína eletrônica”

Em 2014, um estudo da Universidade de Hong Kong revelou que cerca de 6% da população mundial seria viciada em internet. Na China, existem centros de reabilitação para dependentes da rede, que são como acampamentos militares, como conta esta matéria do Business Insider. No vídeo abaixo, dá para sentir um pouco do clima de um local como esses:

Nesse minidocumentário, no qual os games aparecem como os campeões de vício, um especialista refere-se aos jogos como uma espécie de “heroína eletrônica”. Ele fala do tal medo (preocupante, para dizer o no mínimo) que os dependentes sentem quanto a pausar para ir ao banheiro e perder o jogo. Muitos aparecem fumando enquanto jogam, o que mostra outro vício associado. Outros não se identificam como viciados. Os pais são aconselhados quanto às formas de lidar com o problema dos filhos. O especialista questiona: “Vocês sabiam que eles se sentem sozinhos?”

Conectados, mas sozinhos

A pesquisadora Sherry Turkle reforça esse argumento. Estamos hiperconectados, mas… nunca estivemos tão sozinho, diz ela, que é autora de vários livros sobre o tema e professora no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

As pessoas deixam de se comunicar num mundo em que só se fala em comunicações e no qual as redes sociais online proliferam. Batem seus carros porque estão lendo mensagens no celular, ou checando suas redes sociais. Vidas são perdidas – no sentido literal ou não – em função desse vício. Perdem-se vidas, perde-se tempo. Ganha-se tempo com as tecnologias, também, é claro; sou uma entusiasta delas, afinal. Mas faço questão de criticá-las. Penso ser fundamental que todos nós façamos isso, pois somos os principais interessados. Tecnologias são feitas por nós e para nós, então para que nos interessam? Como podem nos ajudar, ampliar nossas capacidades, contribuir para que evoluamos como sociedade? Mais do criticar, isso é buscar aprofundamento, tentar compreender a função das tecnologias, o que está por trás delas, o que nos move para que tentemos tanto desenvolvê-las, aonde queremos chegar, em que elas nos transformam. Quem somos com as tecnologias? Quem seríamos sem elas? Somos dominados por elas ou as dominamos? #ficaareflexão

Imagem do post: foto de Luís Berbert

Os museus e a inteligência artificial

Recentemente, tive o prazer de entrevistar profissionais do Museu do Amanhã e da Pinacoteca de São Paulo, além de um especialista da IBM, para escrever sobre o uso da inteligência artificial nesses dois museus. Trata-se de um recurso múltiplo, capaz de aproximar o público das exposições e envolver os visitantes em uma experiência diferente.

Há muitas incertezas no cenário do uso da I.A., seja em museus ou em qualquer contexto. Mas não há dúvidas de que a tecnologia abre vários caminhos novos para que o público explore formas inovadoras de se relacionar com as exposições nesses espaços de uma maneira mais ativa.

As entrevistas resultaram em uma matéria publicada no site Porvir.

Leia a matéria 

Foto do post: Guilherme Leporace/Museu do Amanhã

Vida, ciência, tecnologia: seleção de reportagens e artigos

Train PhD students to be thinkers not just specialists

Aqui no Brasil, imagino que bastante gente não saiba que a sigla PhD quer dizer ‘Doctor of Philosophy’. Pode ser até porque seu significado, na prática, anda deixado de lado. A ideia dos pesquisadores Gundula Bosch e Arturo Casadevall, que estão por trás da R3 Graduate Science Initiative na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, em Baltimore, Maryland, é fazer exatamente esse esforço: o de colocar o Ph de volta nessa sigla, para valer. Os pesquisadores alertam quanto à falta de pensamento crítico e de reflexão na formação de pesquisadores, e foi para mudar isso que criaram o programa.

Sem educação, os homens “vão matar-se uns aos outros”, diz António Damásio

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Empresas tecnológicas barram pornô manipulado por inteligência artificial

Uma das preocupações que surgem com o desenvolvimento das tecnologias de inteligência artificial é a manipulação indevida de nossos dados e imagens. Imagina se seu rosto fosse “encaixado”, por meio de uma tecnologia, no corpo de atores/atrizes em um filme pornográfico? Aconteceu com algumas atrizes famosas, como mostra essa matéria do El País. E você aí achando que o maior perigo são os robôs.. que nada, são os humanos, mesmo…

A doença de Alzheimer não pode com a música

A música pode ser, para o cérebro, uma memória muito diferente das demais. Por isso, pessoas com Alzheimer são capazes de cantarolar canções antigas, apesar de terem dificuldade com outros tipos de conteúdo. Essa matéria fala sobre isso.

The “Father of Artificial Intelligence” Says Singularity Is 30 Years Away

Em cerca de 30 anos, as máquinas serão muito mais hábeis e rápidas que nossos cérebros, a tecnologia será mais barata, e assim teremos a singularidade tecnológica. É nisso que acreditam vários especialistas em inteligência artificial. Como venho repetindo por aqui, há pesquisadores que defendem que a questão não está apenas no cérebro, então… será que a singularidade tecnológica vai ser atingida mesmo somente com os devices feitos à semelhança de nossos neurônios e suas conexões? Bom, essa é mais uma matéria que diz que sim.

Imagem do post: Joel Filipe @ Unsplash