O que Arquitetura de Informação e UX têm a ver com Inteligência Artificial?
A arquitetura de informação é um conceito que se relaciona com um outro, mais amplo: o de Experiência do Usuário, ou UX – User Experience. Quando você navega em um ambiente virtual e consegue fazer tudo o que precisa, encontra as informações que esperava num tempo razoável, se sente bem navegando ali sem se perder e tudo o mais, você tem uma boa EXPERIÊNCIA com aquele ambiente digital, que pode ser um site, um ambiente de aprendizagem virtual ou um aplicativo. Quando é assim, e a sua experiência flui bem, curiosamente, você provavelmente quase nem percebe a forma como aquele site se estrutura. Mas, se algo sai errado, logo vamos perceber o que a arquitetura de informação teve a ver com isso (além do conteúdo em si, é claro).
Arquitetura de informação, então, é a maneira como organizamos as informações em um determinado ambiente para que elas se tornem alcançáveis, visíveis; para que não somente o Google e outros buscadores as encontrem (sim, os buscadores encontram melhor e mais rapidamente sites bem construídos, tanto em termos do código bem feito como da organização das informações; isso também tem a ver com SEO, as técnicas de otimização para buscas) como para que pessoas, em diversas condições, as encontrem também – independentemente de estarem usando um celular para isso ou um computador, e de terem ou não uma deficiência, por exemplo. O ramo dedicado a questões específicas de usabilidade para pessoas com deficiência é o da acessibilidade – aliás, um campo de estudo muito vasto e incrivelmente sedutor.
Bem, mas, voltando: o que é que toda essa ciência de organizar dados e informações de uma maneira que nós conseguimos nos entender com eles tem a ver com inteligência artificial? Bem, a inteligência artificial é muitas coisas, e não venho aqui defini-la, mas, de um modo geral, a IA se baseia na maneira como funcionamos ou, ao menos, como se acredita que funcionamos. Isso ela tem em comum com a arquitetura de informação: ao construir um ambiente digital, levamos em conta o mindset das pessoas (os usuários); a maneira como geralmente as pessoas classificam informações, fazem buscas etc. Para compreender isto, usamos métricas que vão nos mostrando os caminhos realizados.
Do mesmo modo, na inteligência artificial, procura-se construir sistemas a partir daquilo que se entende acerca do funcionamento cognitivo de seres humanos – seja para construir sistemas à semelhança de nossos sistemas cognitivos, seja para construir sistemas que nos atendam na realização de nossas tarefas que envolvem cognição.
Vamos pensar num exemplo que envolva uma questão de arquitetura de informação para depois analisá-lo à luz da IA: ao construir um site de decoração, pode-se imaginar que o usuário interessado em decorar sua casa vai chegar e buscar por “abajur amarelo”, porque deseja comprar um abajur amarelo, ora pois. Se ele assim o fizer, e a busca do site funcionar, verá resultados para abajures exatamente dessa cor. Mas, e se esse usuário que quer decorar sua casa chegar ao site sem ter tanta ideia de qual cor de abajur ficaria bom no ambiente da casa dele, ou se ele nem mesmo souber direito quais os elementos que deseja usar para decorar seu lar – uma luminária, uma mesinha, um tapete? Que tipo de busca ele vai fazer? Ele provavelmente nem vai ficar só na busca. Ele vai clicar em muitas coisas. Vai escrever vários termos no campo de busca. Vai ver muitas fotos, e por aí vai; até ter as ideias de que necessita para sua decoração.
O ponto é que, no geral, nós parecemos ser muito mais como o segundo decorador do que como o primeiro, quando se trata de viver experiências no mundo. Não temos tudo definido e perfeitamente organizado em nossas cabeças. Quando falamos, não tínhamos previamente todos os pensamentos organizados, que vão então sendo expelidos: nós pensamos ao falar e, ao falar, vamos pensando. Quando caminhamos, não temos mapas internos de todos os lugares para onde vamos, que acessamos quando precisamos: nós nos baseamos no entorno, nas pistas visuais que nos ajudam em nossa localização. Quando lidamos com uma certa situação, não temos listas mentais de opções quanto ao que fazer para acessar e fazer nossas escolhas: quando tomamos decisões e fazemos opções, entram em jogo nossas experiências anteriores, a maneira como nos sentimos – as emoções e sentimentos, e tantos outros fatores.
O engraçado é que, quando algo dá errado, passamos às vezes a refazer os nossos passos, rever mentalmente nossas opções, e até tentamos buscar um mapa mental para evitar nos perdermos. Quando isso acontece, ficamos mais parecidos com o que falei no começo do texto; parece que algo dá errado na fluidez da nossa experiência, de maneira parecida com aquele momento em que algo parece errado na arquitetura de informação de um site. Ficamos mais “robóticos”? Será que isso não revela bastante sobre a maneira como um robô trabalha, versus a maneira como nós lidamos com o mundo em que estamos inseridos?
Essas são questões que, acredito, podem nos levar a decisões importantes sobre a construção de espaços digitais. Como a minha maior preocupação é com a educação, volto-me mais para a construção de espaços de aprendizagem (mas creio que a internet toda é um espaço de aprendizagem!). Precisamos descobrir como a cognição humana funciona, se quisermos construir bons ambientes de aprendizagem virtuais. Conhecer e pensar sobre tudo isso ajuda também a quem deseja melhorar a experiência de seus consumidores em uma loja virtual, por exemplo; ou em um app dedicado a um serviço. Por vezes, as métricas são suficientes, mas na maior parte do tempo há muito que elas não revelam, principalmente se não estiverem ajustadas para os KPIs corretos e baseadas em premissas que façam sentido. Mas isso é tema para outro post 😉
Imagem principal do post: Halacious @Unsplash
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Human-centered machine learning