Sobre terminar um doutorado e abraçar o que vem depois, mesmo sem saber ao certo o que é que vem!
Fiz um doutorado. Defendi a minha tese no dia 6 de janeiro de 2023, na primeira semana do ano. Só aí meu ano começou. Mas não foi exatamente alívio que senti. Talvez tenha sentido, sim, algum alívio por um dia ou dois. Mas o que tomou conta de mim depois da defesa foi a apreensão pela incerteza, pela dúvida do que vem agora. Foram quatro anos que passei envolvida em uma pesquisa, durante os quais eu mudei de casa oito vezes; morei no Brasil e em Portugal; publiquei artigos; organizei um livro que foi publicado em Portugal; editei um livro que ainda não foi lançado; traduzi artigos do inglês para o português. Apresentei trabalhos em eventos mais de 20 vezes.
Passei (passamos) por uma pandemia! Uma pandemia…
E mesmo assim, ali estava o meu horizonte, produzir a tese, produzir artigos, seguir pesquisando. Eu sabia o que fazer, eu tive financiamento para a minha pesquisa (apertado, mas tive) e eu segui fazendo. Cumpri minhas metas. Foi um bom truque de sobrevivência. Mas eu quase não respirei, e um dia a conta vem. Veio. Enquanto todos me perguntam se estou feliz e tranquila, eu tenho vontade de dizer não…! Tudo menos tranquila.
O doutorado é um tempo incrível em que a gente se dedica a um tema e o estuda com profundidade; no meu caso, machine learning e aprendizagem humana! Fantástico, não é? Mas esse período acaba, e quando a tese “nasce”, em vez de um bebê no colo, ficamos com a sensação de ter as mãos vazias. É um parto sofrido, mas o nosso “bebê” sai direto do nosso “útero” para o mundo. O que fazer?
Haverá dias difíceis, e todos a sua volta só dirão que você deveria estar aproveitando o fim do doutorado, “que alívio”, “aproveita”, etc e tal. Mas só quem chegou ao fim de um projeto importante – de qualquer tipo, não apenas uma tese! – sabe como é louca essa gangorra do alívio-e-vazio. Aprendendo enquanto vivo essa experiência, diria o seguinte: fugir do sentimento não adianta. É super importante se dedicar a novos projetos, participar de eventos em que haja a possibilidade de compartilhar aprendizagens, seguir adiante; mas também é preciso abraçar o aparente “vazio”, e simplesmente sentir. Sentir o fim de um ciclo para que outros venham. Sentir o que aquele aprendizado representou e no que ele pode se transformar. Abraçar o novo, abraçar o desconhecido e até mesmo abraçar a dúvida: será que fiz a(s) melhor(es) escolha(s)?
Faz parte. Até porque, enquanto estivermos vivos, sempre erraremos nas escolhas e poderemos escolher de novo e de novo. E quem tiver medo dos fins de ciclo nunca poderá viver os inícios, nem os processos, nem as transformações…