Sejam bem vind@s!

Este blog faz parte de um projeto de comunicação científica que venho desenvolvendo para abordar a relação humana com a inteligência artificial.

Eu desenvolvi uma pesquisa acadêmica de mestrado e doutorado voltada para a cognição humana e a IA Enquanto pesquisava, senti que desejava criar espaços nos quais pudesse comunicar de forma mais objetiva e simples as reflexões que vinha desenvolvendo. Por isso este blog nasceu.

Além dele, organizei – junto ao meu parceiro de pesquisa Ralph Bannell – o curso de extensão “A inteligência artificial e a aprendizagem humana – Novos desafios e caminhos”, que já está acontecendo desde o início de maio, online, pela PUC-Rio. Na página do curso, você pode conhecer a proposta e se cadastrar, caso queira receber informações sobre a próxima turma.

Em maio de 2024, publiquei o livro “Algoritmosfera – A cognição humana e a inteligência artificial”, pela Editora PUC-Rio e pela Hucitec. O lançamento aconteceu Casa de Inovação da PUC-Rio, na Gávea, Rio de Janeiro, na 1a ExpoLivro que a PUC-Rio promoveu. Haverá um segundo lançamento dia 24 de junho na Janela Livraria, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro, a partir das 19h. Apareça!

Tenho alimentado, ainda, a minha conta no Instagram, @camilaaleporace – também mais um recurso para quem deseja receber pílulas de informações sobre IA e a nossa relação com os sistemas artificiais.

Importância da divulgação científica

Acredito na importância de diversificar os produtos resultantes de uma investigação que se identifica como acadêmica. Uma dissertação, tese ou artigo científico é o produto final, mas não o único. Doutorandos publicam artigos, ensaios, apresentam trabalhos orais, ministram aulas e cursos.

Além disso, há outras possíveis formas de comunicar descobertas científicas. É isso que pretendo com o meu projeto. Ainda planejo um podcast e muitas outras novidades!

Comunicação de ciência e letramento digital precisam caminhar juntos

Camila Leporace

A comunicação de ciência só consegue avançar se associada ao letramento digital, especificamente o letramento em Inteligência Artificial. Por quê?

Porque comunicar ciência para a sociedade é informar, e as plataformas digitais algorítmicas contribuem muito para desinformar.

A realidade mostra-se diferente para cada indivíduo no ambiente digital. Os algoritmos moldam o conteúdo que vemos. As campanhas de desinformação muitas vezes têm como alvo usuários específicos, que podem ser mais vulneráveis. Como os usuários raramente estão cientes de como os sistemas digitais atuais funcionam, pensam que o que veem on-line é visto por outros usuários, universalmente. Uma grande distorção que abre espaço para a criação de realidades paralelas.

O microdirecionamento e a impressão digital de navegação, técnicas eficazes para direcionar a publicidade a consumidores específicos, são também úteis para a disseminação da desinformação. Embora a desinformação seja um problema antigo, as técnicas de IA abrem novas possibilidades para manipular indivíduos de forma eficaz e em escala, levantando várias preocupações éticas.

A autonomia dos usuários é ameaçada, pois eles não podem tomar decisões livremente no ambiente on-line, sem serem manipulados. Quando os algoritmos usam dados pessoais para “decidir” o que os usuários veem ou não, fechando muros em torno deles, isso é uma ameaça à privacidade e ao livre arbítrio (falo muito dessa ameaça à autonomia em meu livro, “Algoritmosfera” – expressão cunhada por mim na minha tese de doutorado).

Ameaças à autonomia dos usuários também significam ameaças à democracia. As câmaras de eco/echo chambers são ambientes nos quais os indivíduos encontram apenas crenças ou opiniões que coincidem com as suas. Nesse estado de “isolamento intelectual”, não há lugar para opiniões diversas ou diálogo. As mesmas opiniões, hábitos e pontos de vista são reforçados, reiteradamente.

Por isso são grandes os desafios digitais para a comunicação, especialmente naquela que diz respeito à ciência; e é com letramento digital que se fará melhor difusão científica no Brasil.

Minha tese foi premiada

No dia do aniversário de 84 anos da minha querida PUC-Rio recebi o prêmio dado pelo Centro de Teologia e Ciências Humanas à minha tese. O prêmio destaca uma tese de cada um dos departamentos do centro, do qual faz parte o Departamento de Educação.

Conhecendo tantos trabalhos incríveis feitos por colegas super competentes que estiveram comigo nessa caminhada, esse prêmio adquire um valor ainda maior. Aliás, eu devo muito – não apenas aos professores e, claro, ao meu orientador querido, Ralph Bannell – mas a todos os meus colegas incríveis que me incentivaram e me apoiam até hoje. Parabéns a todos nós que trabalhamos para melhorar a educação a cada ano, a cada semana e a cada dia!

O prêmio disponibiliza as teses premiadas na forma de ebooks. Essa edição laranjinha nas minhas mãos é uma impressão do ebook da minha tese, que pode ser conferido aqui.

Obrigada PUC-Rio, obrigada amigos que a PUC me deu e obrigada @edupucrio pelo reconhecimento. ✨⭐️

Conteúdo e referências da live ‘Desafios e oportunidades da inteligência artificial na educação’, Unicarioca, 18 de junho de 2024

Slides da apresentação

Rever a palestra

Artigos e Livros

LEPORACE. Camila De Paoli ALGORITMOSFERA – A cognição humana e a inteligência artificial, São Paulo: Hucitec e Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2024.

LEPORACE. Camila De Paoli. Máquinas de ensinar analógicas: as precursoras da inteligência artificial na aprendizagem. Dossiê Especial 30 anos da Revista Comunicação e Educação da USP – “Do analógico à inteligência artificial: 30 anos de Comunicação & Educação” (Aceito para publicação; será publicado até 30 de junho de 2024)

LEPORACE, C. & GONDIN, V. C. Experimentar o mundo a partir do corpo: estética como uma dimensão da cognição humana. Educação On-Line, Rio de Janeiro, v. 16, n. 38, set-dez 2021, pp. 227-244.

FIGUEIREDO, L. de O., ZEM LOPES, A. M., VALIDORIO V. C., & MUSSIO, S. C. (2023). Desafios e impactos do uso da Inteligência Artificial na educação. Educação Online18(44), e18234408. https://doi.org/10.36556/eol.v18i44.1506

GONSALES, P. e KAUFMAN, D. IA NA EDUCAÇÃO: DA PROGRAMAÇÃO À ALFABETIZAÇÃO EM DADOS. ETD –   Educação Temática Digital. Campinas, SP. v.25, p. 1-22, 2023.

Links variados

Apple pede desculpas por comercial do iPad Pro

Uma interação com um chatbot é mesmo uma interação?

A robótica & os movimentos humanos: um paradoxo

Big Data na Educação: é preciso abrir essa caixa preta

Ninguém sabe o que fazer

Nem tudo é cérebro no reino da cognição…

O cérebro que prevê (The Predictive Brain)

Inteligência Artificial: uma face obscura

Imagem do post: Foto de Alexander SinnUnsplash

Conteúdo e referências da apresentação que fiz na UERJ , para o Cibercog, em 29 de abril de 2024

Obrigada a todos que estiveram presentes pelas trocas engrandecedoras 🙂

Indicação de livros

What Computers Can’t Do (Hubert Dreyfus)

Natural-Born Cyborgs (Andy Clark)

The Promise of Artificial Intelligence (Brian C. Smith)

Introdução às ideias de Dreyfus

Introdução à Fenomenologia com Hubert Dreyfus

O que os computadores continuam não conseguindo fazer, 50 anos depois

Os 4Es da Cognição

As novas abordagens de pesquisa sobre a cognição humana

Autonomia na Algoritmosfera

As ameaças à nossa autonomia quando lidamos com sistemas de machine learning

Links variados

Uma interação com um chatbot é mesmo uma interação?

A robótica & os movimentos humanos: um paradoxo

Big Data na Educação: é preciso abrir essa caixa preta

Ninguém sabe o que fazer

Nem tudo é cérebro no reino da cognição…

O cérebro que prevê (The Predictive Brain)

Inteligência Artificial: uma face obscura

Ainda há algumas (poucas) vagas para o curso sobre IA que darei na PUC-Rio (online). Saiba mais e se inscreva!

Ainda restam algumas vagas para o curso de extensão A inteligência Artificial e a Aprendizagem Humana: Novos Desafios e Caminhos, que darei junto ao professor Ralph Bannell, doutor em Pensamento Social e Político pela Universidade de Sussex, Inglaterra, pela PUC-Rio, e que começa dia 8 de maio.

Pensando em trazer uma oferta num horário bom para quem trabalha em horário comercial, o curso será às quartas, das 19h às 21h, e contará com discussões sobre a inteligência artificial, a mente e a cognição humana.

O legal desse enfoque é que você adquire um bom conhecimento para lidar com as novidades trazidas pela inteligência artificial não de uma forma ingênua, e nem acrítica, mas de uma maneira que você consegue assumir a liderança do processo. Inteligência artificial não é uma tendência, não é passageiro, não é moda, e também não é algo novo.

Claro que há novidades, pois sempre há inovações surgindo na área, mas o campo de pesquisa da IA existe desde a década de 1950. A história dele está entrelaçada com a história dos estudos sobre a mente humana. E é esse fio que o curso segue, para passar por temas como a aprendizagem humana e a aprendizagem de máquina, o corpo e as emoções nos processos de aprendizagem, as grandes questões estéticas e éticas envolvendo algoritmos, entre outros. Um curso muito útil e importante para professores, gestores escolares, profissionais em busca de compreender como lidar com a IA.

Esperamos vocês! Últimas vagas – INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES AQUI

Mulheres de IA não falam, mas dizem muito

Todo dia eu pego o metrô e todo dia eu torço para dar tempo de pegar o vagão feminino (às vezes o trem está chegando quando eu desço as escadas e aí eu pego o que dá, na correria). Todo dia torço para que as ruas não estejam tão vazias nem tão mal iluminadas nem tão estranhas nem tão assustadoras nem com homens aleatórios esquisitos quando tenho que passar por elas. Tenho certeza que todas as mulheres que conheço torcem pelas mesmas coisas. Mas por que eu estou falando de vagão feminino e ruas vazias neste post para o qual escolhi a imagem de uma mulher sensual de cabelo rosa?

Essa mulher sensual de cabelo rosa é uma IA. Pois é, ela foi criada para ser uma influencer, porque algumas marcas estavam cansadas do “ego” das influencers reais. E o que isso tem a ver com o vagão feminino? Tem tudo a ver.
Acontece que a gente vive num mundo projetado para satisfazer as necessidades e os prazeres dos homens. E o vagão feminino só existe porque existem homens que acreditam que podem satisfazer suas necessidades com as mulheres que estão indo e vindo no metro. Quem não sabe, pesquisa.

Também as mulheres de IA só existem por isso. Ego dá trabalho, é chato, né? Mulher reclamona. Mulher que dá piti. Mulher que exige seus direitos. Ai, que saco – dizem os homens que acreditam que estamos aqui para saciá-lós. Eles preferem uma boneca inflável… ou uma IA. Bingo!

Este não é exatamente o texto de uma pesquisadora da IA, mas o texto de uma mulher cansada de ver as mulheres acuadas, tristes, nervosas e tentando caber onde definitivamente não cabem. Somos tão grandes. E temos crescido na medida em que alguns caras se reduzem mais e mais. Já repararam? Eles se reduzem até caber no que sempre mereceram: uma mulher que na verdade não existe.

Eu poderia achar ruim as mulheres de IA, e acho, principalmente porque tenho sempre em mente as meninas. Elas, que ainda nem menstruaram e já estão se perguntando por que são feias, quando são lindas. Elas, que se comparam com mulheres de peitos 44 e cintura 36 que nunca existiram. Elas, que sonham fazer plástica, sem saber que esse sonho não é delas. Elas, que cabem onde quiserem, podem sonhar com o que quiserem, e vestir PP ou XGG que podem realizá-los do mesmo jeito. Elas, essas meninas, são a minha principal preocupação enquanto mulher e educadora.

Para as mulheres mães e professoras dessas meninas eu gostaria de dizer o seguinte: deixem essa encheção de saco das mulheres de IA para os homens que gostam de ser enganados. Não gastem muito sua energia com isso. Deixem-nas para aqueles que nos querem caladas. Talvez isso reverbere de forma positiva para nós. Eles se ocupam de idolatrar as bonecas infláveis virtuais, enquanto nós nos ocupamos de ensinar as nossas meninas o valor da voz delas, o valor dos sonhos delas. Vamos combinar assim? Não vamos perder o foco. Alguns homens gostariam que perdêssemos. Assim ficaríamos todas deprimidas, gastando dinheiro com plástica na pele da vagina, no branco do nosso olho ou no buraco do nariz e, tudo isso, caladas. Não precisamos ser perfeitas para mudar o mundo, só precisamos SER. Nós existimos. Eu penso, eu luto, logo eu existo. Um salve às mulheres reais.

Conteúdo extra – Palestra Colégio Euclides da Cunha, Rio de Janeiro

Obrigada a todos que estiveram presentes e, mais uma vez, ao colégio pelo convite 🙂

Regulamentação da IA no Brasil

[Ainda não existe algo específico para a educação, mas deixo aqui links gerais sobre o assunto, e recomendo a leitura do guia da Unesco para a IA generativa na educação, aqui, em inglês]

Proposta regulamenta utilização da inteligência artificial

Panorama regulatório de Inteligência Artificial no Brasil

Projeto de Lei 21/2020

Unesco lança guia para regulamentação do uso de inteligência artificial nas escolas

Somos todos ciborgues – Dissertação de Mestrado de Camila Leporace

Machine learning e a aprendizagem humana – Tese de Doutorado de Camila Leporace

Racismo algorítmico

O Panóptico – Monitor de novas tecnologias na segurança pública do Brasil

Nina da Hora sobre a não neutralidade da IA

Racismo algorítmico e o trabalho de pesquisadores da área para obterem conhecimento

Como uma cientista negra usa suas habilidades de hacker contra o racismo

Organizações e laboratórios de pesquisa

Educadigital – Priscila Gonsales

MediaLab (UFRJ)

CiberCog (UERJ)

Vídeos

Palestra minha para os pais e responsáveis do Colégio Ao Cubo (2023)
Live no canal Mentorizar, do professor Johnny Chaves
Participação no Painel E AGORA? da PUC-Rio (2020)

Ninguém sabe o que fazer

Crianças e adolescentes estão viciados em redes sociais e ninguém sabe o que fazer. Jovens estão modificando imagens com o uso de IA generativa (deepfakes) e ninguém sabe o que fazer. Outros sofrem essas novas formas de cyberbulling e ninguém sabe muito bem o que fazer. Outros jogam sem parar para comer, e mais uma vez não se sabe o que fazer. Percebo as famílias sobrecarregadas com essas preocupações. Os professores também.

Enquanto isso, as escolas têm a mesma cara que tinham há não sei quantos séculos. E se discute as razões pelas quais a escola “parou no tempo”.

Mas, olha, é tanto caroço nesse angu que fica até difícil começar a comentar.

Sinceramente – e não é achismo, falo a partir do meu lugar de pesquisadora da educação e também de quem trabalha há 21 anos com comunicação digital – me parece que a sala de aula ter a mesma cara que tinha há séculos não é o nosso principal problema. A escola pode ter a cara que for, mas ela precisa apoiar os jovens na sua formação para viver neste mundo, assim chamado digital. A preparação para viver nesse mundo nao é aprendida porque se tem acesso às mais brilhantes tecnologias, mas porque se tem CONVERSA franca, ESCUTA ativa, DIÁLOGO, acolhimento, orientação.

Claro, uma sala de aula equipada, com tecnologias como ar condicionado, boas mesas e cadeiras de qualidade, e tecnologias digitais como computadores, tablets, livros etc, é maravilhosa para a educação. Mas ela é maravilhosa porque a aprendizagem depende dela para acontecer? Não é bem isso. Claro, uma sala em condições degradantes dificulta o aprendizado. Mas, uma sala de aula bem equipada tecnologicamente é maravilhosa não porque “a escola tem que estar antenada”, mas porque faz com que os alunos tenham perspectiva. Enxerguem o FUTURO. Tenham horizonte. Sintam que PODEM realizar sonhos, ter uma carreira, ser um profissional na área que imaginam. Autoestima, autonomia, a sensação de que pode realizar algo bacana: isso tira o jovem do círculo vicioso das redes sociais – que degradam, matam a autoestima, geram inúmeros transtornos mentais.

Então, precisamos muito de tecnologias educacionais, mas precisamos, e muito, e já, de educação PARA o digital. É preciso parar de ver os jovens como “nativos digitais que já nasceram sabendo mexer” em tecnologias. Podem até ser bons usuários desses dispositivos, sim, sendo apresentados a eles tão cedo. Mas não nasceram sabendo sobre o mundo. Isso se aprende pela experiência. Pela formação. De caráter, de postura, de atitude.

Nem a escola sozinha, nem os pais sozinhos, nem os sistemas de regulamentação da IA sozinhos, nem institutos, ONGs, organizações sozinhas vão conseguir resolver os problemas que advêm da relação humana com as tecnologias. Isso é um esforço conjunto frente a questões para as quais ninguém tem resposta, ainda.

Mas, tem algo que pode ser feito já, e que não depende de ninguém além de você mesmo: aceitar que existe um problema e se envolver com ele. Procurar saber. Acordar. Vamos juntos.

O que você pode fazer pela proteção dos seus dados e dos dados da sua família?

Mês passado, fiz várias conferências sobre IA, dados, algoritmos etc para públicos diferentes. Uma delas, em especial, eu amei fazer e queria destacar aqui: a palestra “Um robô na família? Educação parental em tempos de inteligência artificial”, para os pais e responsáveis pelos alunos do Colégio Ao Cubo.

Eu achei bastante desafiador falar para eles sobre como a IA tem mudado as redes sociais, as plataformas digitais e quais os efeitos de uma “conversa” com um chatbot, que na verdade não é uma conversa como seria entre seres humanos. Falei sobre privacidade de dados, economia da atenção, os enviesamentos nas plataformas, o fato de estarmos “presos” nessas redes e por que razão isso acontece.

Mas o que achei mais desafiador foi procurar uma maneira de apoiar, de fornecer um horizonte para eles, não apenas apontando críticas e problemas mas também ideias sobre o que fazer. Mostrar só os problemas ficaria muito sufocante!

Por isso, foquei a segunda metade da palestra em uma série de ideias e ações possíveis em que eles (e todos nós) podem se envolver frente às novas características das tecnologias digitais e os seus desdobramentos. Com relação à transparência e à ética no uso de dados de crianças e adolescentes, em específico, sugeri que eles se envolvessem nos debates, pesquisassem e ficassem atentos ao que está sendo produzido, discutido e investigado nesse sentido.

A participação da sociedade civil é essencial quando se trata de dados nossos, das nossas crianças, circulando na rede e sendo usados de uma forma nem sempre responsável e capaz de beneficiar as pessoas.

O vídeo da minha palestra está disponível no YouTube do colégio Ao Cubo, neste link aqui. Vou adorar se mais gente for lá ver e me dizer o que achou! Mas, abaixo, deixo para vocês um link não da minha apresentação, mas de um TED de 12 minutos da Nina da Hora, que muito admiro e que explica de maneira simples e objetiva a razão pela qual você deve se envolver nesse debate. Não percam e enviem a todos os amigos e conhecidos. Sério!

#ia #dados #data #privacidade #algoritmos

Imagem do post: Alina Constantin / Better Images of AI / Handmade A.I / CC-BY 4.0

As várias dimensões da desinformação

Lidar com a informação faz parte do meu trabalho de jornalista e de pesquisadora, bem como lidar com a desinformação. Desde 2004 eu trabalho com comunicação digital, o que me proporcionou a experiência de viver a internet antes e depois das redes sociais. Na verdade, antes e depois dos algoritmos. A virada das plataformas digitais para plataformas algorítmicas, alimentadas por big data (os dados dos usuários), acontece de maneira casada com a popularização dos smartphones. Os dispositivos móveis, afinal, facilitam o compartilhamento de dados em tempo real, incrementando as redes neurais artificiais e garantindo que elas operem, já que precisam dos dados dos usuários para fazer previsões e oferecer conteúdos relacionados, “personalizados”.

Isso parecia um bom recurso, numa época em que se preconizava que a internet poderia ser uma alternativa à mídia de massa, tratando nichos de público de maneiras diferentes e garantindo que os mais diversos perfis de pessoas acessassem conteúdos que lhes fosse interessantes (o livro “A Cauda Longa” fala sobre isso). Mas, na verdade, a busca incessante por personalização na Web culminou na criação de “bolhas” de desinformação. Cada um vivendo no “seu mundo”, habitando mundos pequenos e circulares – reduzidos a grupos de WhatsApp, por exemplo – em que a ciência e a informação de qualidade dão lugar às notícias falsas e nada embasadas. Hoje, para tornar isso ainda mais grave ou desafiador, as plataformas baseadas em aprendizagem de máquina são construídas de modo a fazer com que os usuários naveguem de determinadas maneiras pré-determinadas, gerando dados já dentro do que os sistemas são programados para gerar.

Estamos presos em uma circularidade. Quando ela é cercada por muros que não deixam as pessoas acessarem notícias reais, embasadas, e terem acesso à ciência, elas ficam isoladas em círculos de desinformação. Isso foi levado à máxima potência com a eleição da extrema-direita no Brasil, completamente impulsionada por notícias falsas disseminadas dessa maneira. O problema é que as big techs, ou seja, as empresas que mobilizam as plataformas digitais e manipulam os nossos dados, são as mesmas plataformas onde a informação – e a desinformação – circulam. Por isso venho trabalhando, como pesquisadora, educadora e jornalista, para que o público “acorde” e perceba que está sendo levado à desinformação.

É preciso alertar para a construção desses muros invisíveis que isolam as pessoas em círculos de desinformação, e consequentemente de desolação. Simplesmente não é possível dissociar disso tudo os grandes e complexos problemas que temos para enfrentar hoje como humanidade. Muitas vezes, “narrativas da sutileza” contribuem para que alguns vejam os problemas de maneira minimizada – a urgência climática, que alguns preferem ler como “acasos”, “ciclos naturais do planeta” e daí por diante; as guerras que viraram genocídios; as brigas que são, na verdade, crimes; a xenofobia disfarçada de acordo internacional e por aí vai. (Des)informação é uma questão educacional, científica, comunicacional, social, cultural e política.