Conheça o Pint of Science

O mundo da ciência é fascinante e cheio de mistérios. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, esse não é (ou não deveria ser) um universo exclusivo de cientistas, laboratórios e pesquisas acadêmicas. A função principal da ciência é contribuir para que a vida de todo mundo seja melhor. Então, se a ciência interessa a todos, ela deve ser acessível a todos…

É claro que muitas vezes é difícil entender de forma completa o trabalho acadêmico de determinados pesquisadores, o que é perfeitamente natural quando não se tem domínio de determinada área – e, claro, não se pode dominar todas as áreas. No entanto, existem formas bastante interessantes de trabalhar para tornar a ciência mais acessível a todas as pessoas, independente de suas trajetórias pessoais e profissionais. Eu tenho me interessado bastante por essas iniciativas, especialmente depois que ingressei no mestrado e comecei a viver intensamente o mundo acadêmico.

Foi então que me deparei com o festival Pint of Science, que começa esta segunda, dia 14 de maio, e vai até quarta, dia 16. Eu Não conhecia, mas o projeto já está em sua terceira edição no Brasil! Debates informais em torno da ciência, acompanhados de cerveja ou que cada um quiser beber, acontecerão em  vários lugares, em 56 cidades do país. A programação pode ser vista aqui. Mas por que essa sugestão de beber cerveja enquanto se conversa sobre ciência? Bem, quem já foi a um pub, mesmo no Brasil, sabe que pint é um copo que tem uma certa medida, no qual frequentemente são servidas bebidas alcoólicas e, particularmente, cerveja.

Imagem do site do Pint of Science Brasil

Origem do Pint of Science

O projeto Pint of Science começou com dois pesquisadores da Imperial College, de Londres (universidade na qual, coincidentemente, fiz um curso em 2008, que foi incrível; fiquei feliz quando soube que a ideia surgiu lá!). Segundo o site do projeto, em 2012 os pesquisadores Michael Motskin e Praveen Paul, da Imperial, organizaram um evento chamado Encontro com Pesquisadores, no qual pessoas com Alzheimer, Parkinson, doenças neuromusculares e esclerose múltipla foram convidadas a conhecer os laboratórios dos cientistas e o tipo de pesquisa que eles faziam. “A experiência foi tão inspiradora que a dupla decidiu propor um evento em que os pesquisadores pudessem sair das universidades e institutos de pesquisa para conversar diretamente com as pessoas e assim, em maio de 2013, surgiu o Pint of Science”, conta o site.

Para saber mais e checar a programação na sua cidade, acesse http://pintofscience.com.br

Vejo vocês lá!

Imagem do post: NASA @ Unsplash

 

 

Os gestos e a cognição

Lembro bem de quando minha mãe me explicava química orgânica, em “aulas” na minha casa das quais também participavam meus colegas preocupados com o vestibular. Ela fazia gestos no ar, que representavam as cadeias de carbono. Com as mãos, nos fazia pensar em como as cadeias se conectavam. Aprendíamos com muito mais facilidade com aquele gestual todo, que complementava tão bem as explicações que ela dava.

Minha mãe nao é a única a gesticular bastante enquanto fala ou explica algo. Nasci em uma família de descendentes de italianos; gestos, portanto, são algo que não economizamos. É impressionante como mexemos as mãos ao falar! E não precisamos estar na presença da pessoa, gesticulamos quando falamos ao telefone também (e caminhamos para lá e para cá)…

Eis que na ciência cognitiva há uma explicação para essa profusão de gestos, sempre a acompanhar as palavras quando se trata não só da minha família, claro, mas de todos nós. Pesquisas apontam que os gestos são constitutivos dos nossos processos cognitivos, o que significa que vão muito além de simples expressões de pensamentos prontos. Os gestos são parte do processo de pensar. É nisso que acredita Andy Clark, que em seu livro Mindware – An Introduction to the Philosophy of Cognitive Science procura nos fazer refletir sobre o assunto destacando exatamente o exemplo que dei ali acima: gesticulamos ao falar com as pessoas ao telefone, ou seja, mesmo que nossos interlocutores não estejam nos vendo! Além disso, gesticulamos no escuro, quando ninguém pode ver, e também quando precisamos escolher entre algumas opções ou encontrar uma solução para determinado problema, em vez de apenas relatá-lo a alguém. Esses são indícios de que gesticular não tem a ver (ao menos não apenas) com transmissão de informação!

As mãos e a cognição

Provavelmente por conta disso é que as mãos se tornam grandes aliadas do processo de aprendizagem para as crianças, como defende a especialista em desenvolvimento cognitivo Susan Goldin-Meadow. A pesquisadora tem um trabalho interessantíssimo, voltado para o uso dos gestos no desenvolvimento da linguagem e de outras capacidades cognitivas.

Ela explica, no vídeo que está embedado a seguir, por que o uso das mãos é tão importante quando as crianças estão aprendendo. Ressalto que, nesse caso, o papel dos gestos manuais vai muito além do que normalmente se comenta com relação ao poder do uso das mãos em discursos e outras formas de comunicação: no caso da aprendizagem, não se trata apenas da importância dos gestos e das mãos para dar ênfase a pontos importantes passados aos alunos pelos professores; os gestos que os próprios alunos fazem durante a aprendizagem contribuem expressivamente para o processo, além de, quando observados, revelarem muito sobre o andamento desse processo para cada criança.

Talvez esse seja um excelente lembrete para evitarmos que as mãos de nossas crianças se limitem a apenas tocar as telas de tablets e smartphones:

Segundo a pesquisadora, famílias que gesticulam mais também contribuem para a formação do vocabulário de suas crianças – talvez seja essa uma das razões que me levaram a me apaixonar pela comunicação e então me tornar jornalista! Aliás, na faculdade de jornalismo fomos encorajados a deixar as mãos quietas enquanto falamos em público, mas se dependesse de ter sucesso nisso eu provavelmente não teria me formado… 🙂

 

 

Extended Mind: casos interessantes

Conheci recentemente mais casos interessantes de tecnologias que melhoram a vida das pessoas, atuando como extensões do corpo/da mente:

1. Óculos capazes de devolver a vida em cores para daltônicos

2. Próteses feitas especialmente para os seus donos

3. Os aparatos que este homem que sofreu um derrame, mostrado na série documental “Dark Net”, no Netflix, usa para se comunicar e para estar no mundo:

 

Young Yogis lança página no Facebook

É com muita alegria que compartilho aqui em meu blog um novo projeto em que estou envolvida, como consultora em comunicação digital e em educação. Trata-se dos Young Yogis, iniciativa de uma amiga-irmã, Flavia Delcourt. Professora e pesquisadora experiente, ela oferece aulas de yoga para crianças onde mora, no Sul, mais precisamente na cidade de Rio Grande.

Por meio de sua página no Facebook, lançada esta semana, Flavia passará a comentar sobre os benefícios da prática do yoga, que muito contribui para o desenvolvimento das crianças e jovens. Falará sobre atividades relacionadas a essa filosofia, publicará inspirações e compartilhará reportagens ligadas ao tema.

A página surge como uma grande contribuição a todos que desejam entender melhor como essa prática milenar pode ser tão útil em dias turbulentos como os que vivemos neste intenso século XXI! Convido vocês a curtir e acompanhar: facebook.com/youngyogiss

A identidade visual foi desenvolvida por Zeca Leporace, que, além de trabalhos criativos de design digital, produz luminárias a partir de folhas descartadas de palmeiras – conheça mais sobre o projeto dele também em sua página no Facebook.

Divulguem essas iniciativas para os amigos! Afinal, vale a pena ajudar a fortalecer essa corrente de boas ideias!

O que eu diria a um estudante de Jornalismo

Os sites que anunciam vagas estão explodindo de oportunidades para estagiários de Jornalismo. Mas empregos para formados, experientes, estão cada vez mais escassos. Penso: “Que os estudantes não se enganem achando que o mercado está super aquecido”. Mas esse meu pensamento não significa desânimo ou que eu desencorajaria alguém que está na faculdade de Comunicação, hoje. Muito pelo contrário.

Scarlett Johansson em “Scoop”​

Eu só diria para ter atenção.

Para ser antenado, mas não decorando nomes de presidentes, ministros, governadores; não apenas sabendo a localização geográfica de cada país; não somente mandando bem no entendimento de crises econômicas e políticas. Diria para terem atenção ao mundo, num sentido mais amplo. Para ficarem de ouvidos e olhos bem abertos para tudo o que acontece, mesmo que esses “acontecimentos” não sejam considerados “notícias” como o “velho” jornalismo consideraria.

Diria que o que é notícia, aliás, pode estar mudando, junto com a profissão e com os trabalhos protagonizados por jornalistas. E lembraria que vale questionar o que seria notícia e o que não seria, hoje. Diria que o papel do jornalismo, e do jornalista, está se transformando, assim como o mundo em que vivemos – e que, então, é preciso preparar a prancha para surfar nessas ondas. Aprender a nadar, encher-se de coragem e ir ver o que é que há. Como um bom repórter, farejar as transformações, pensar sobre o futuro, e, acima de tudo, topar ser mais o que pergunta do que o que responde.

Se bem que isso não é novidade no papel fundamental de um jornalista. Talvez se o jornalismo tivesse continuado a fazer mais perguntas, empenhando-se em levantar questionamentos de qualidade, a profissão tivesse tomado um rumo diferente. Mas cabe a cada um de nós refletir. E resgatar as boas perguntas. E entender que quando elas são respondidas aparecem outras, e outras, e outras.

Isso me lembra que eu também recomendaria ao futuro jornalista que tivesse humildade.

Como o papel dos professores, por exemplo, o nosso está mudando, também. Antes emissor praticamente único de informação, o jornalista passou a dividir a função de informar com todas as pessoas nas redes sociais, em blogs, sites, em canais “não-profissionais”. Nas escolas, algo semelhante acontece com o professor, que de emissor inquestionável da informação passa a mediador, assumindo um papel mais horizontal em uma nova sala de aula em que os alunos também têm voz – e as discussões acontecem a partir de muitas, inúmeras fontes de informação.

Uma boa faculdade de Comunicação, como a que eu fiz, tem muito a acrescentar. Mas não se pode esperar sair dela para, enfim, entender o mundo e procurar seu lugar ao sol. Tudo se transforma a cada momento. E nós somos essa transformação.

Portanto, acompanhe isso. Seja parte disso.

Também diria aos estudantes: flexibilidade é palavra de ordem. Adaptação, também. Se você não gosta de mudanças, faça só uma, definitiva: pule fora da faculdade de Comunicação agora. Mas aí eu repensaria, e diria também: “Se bem que, em qualquer área profissional que você escolha, será necessário ser flexível e ter disposição para mudar”.

E agora uma coisa bem pragmática: se ainda há dúvidas, “mídias digitais” não são uma “área de atuação”. Não existe “gosto/não gosto de mídias digitais” ou “prefiro jornalismo esportivo do que trabalhar com digital”. Uma coisa não exclui a outra. Ou melhor, trabalhar com mídias digitais e não trabalhar com jornalismo esportivo pode acontecer, claro, mas trabalhar com jornalismo esportivo sem trabalhar com mídias digitais vai ser bem difícil. Se não gosta de mídias digitais, vou de novo recomendar que mude então agora. Mas para um outro planeta… pois aqui, como sabemos, elas estão para ficar!

Mudar pode ser a única opção sã

Foto: https://abstract.desktopnexus.com

Mudar é olhar para um rio sem conseguir ver a margem oposta. E é por isso que uma transformação exige tanta coragem. Temos que deixar o que já conhecemos para partir rumo ao que ainda nos é desconhecido, entendendo que o caminho, nesse momento, importa tanto quanto – ou mais – do que o destino (que ainda não sabemos 100% qual é).

É claro que mudar exige metas. Exige que pensemos onde estamos e para onde gostaríamos de ir. Onde nos projetamos, que nos imaginamos mais realizados? Por quê? Perguntas assim são essenciais, como um primeiro passo para mudar.

Não se trata, no entanto, apenas de traçar esses objetivos. Mudar exige um caminhar, dia após dia, por uma estrada que ainda não conhecemos, simplesmente porque ainda está para ser construída. – por nós mesmos. Mudar exige atitude e planejamento.

Planejar ajuda a reduzir a ansiedade.

Disposição para tomar decisões, e sabedoria para saber que é impossível acertar todas. Desapego para deixar o conforto para trás, em busca do que sacode, do que renova, do que no início pode parecer bastante desconfortável por ser estranho, árido, confuso, até. Mas que também pode ser incrível.

Com menos ansiedade, tomamos decisões mais conscientes, menos precipitadas.

Vontade de sair correndo para onde estava. Medo. Normal.

Precisamos seguir andando, seguir adiante, com medo mesmo. Ter medo é OK. Faça do medo um aliado. Use-o como amuleto: ele emite um alerta, e esse sinal nos torna mais atentos. Ótimo. Precisamos mesmo de atenção.

Muita gente vai dizer para desistir.

Normal. Mudar incomoda. Faz os outros pensarem: “fulano está mudando, será que tenho que mudar também?” (…)

Mas não pode desistir.

Porque quem começa a se transformar já conseguiu dar o primeiro passo, que é talvez o mais difícil. Não vale parar agora! Mesmo que ainda haja muito até a próxima margem. Não sabemos mesmo onde ela fica…

Pode ser então que já tenhamos passado da metade do caminho e estejamos já mais perto da margem do outro lado do que daquela que deixamos para trás.

Vai saber.

Não há ninguém além da nova versão de nós mesmos, na outra margem do rio.

E quem mais importante?

Mudar é uma jornada inesquecível de autoconhecimento, ponderação, ajuste de expectativas, encontros e incertezas deliciosamente aterrorizantes e incrivelmente engrandecedoras.

E, muitas vezes, mudar pode ser a única opção sã.

Os empregos e os bichinhos de pelúcia da máquina

A temida máquina de bichinhos e sua garra. Foto: Google Images

Uma das minhas maiores frustrações na vida é nunca ter conseguido pegar um bichinho de pelúcia, nunca um sequer, numa máquina de brinquedos do tipo dessa aí da foto. Quando fui para Amsterdã, gastei muitas (não vou revelar quantas, tenho vergonha) moedas de um euro tentando pegar um Minion numa máquina num parque a céu aberto, achando que por estar na Europa de férias estaria imbuída de uma espécie de poder mágico que iria, finalmente, quebrar o feitiço e me deixar ter a alegria de capturar um bichinho.

Mas nem lá eu consegui.

E por que estou aqui falando de máquinas de bichinhos que mais parecem, ao menos para mim, máquinas de tortura? Porque, brincadeiras à parte, até hoje todas as vezes em que me propus a procurar um “emprego”, usando essa palavra e derivados, eu me senti assim, tentando pescar um brinquedo numa caixa transparente dessas. E aí quis compartilhar com vocês que cada vez menos gosto da palavra “emprego”, provavelmente porque esse é o sentido que ela me traz. Vivemos tempos turbulentos e empregos (e bichinhos de máquina) estão escassos, mas o fato é que essa palavra me incomoda e sempre incomodou, mesmo antes dessa crise em que muitos a minha volta estão sem um… trabalho.

E o que é emprego? E o que é trabalho?

Isso, vamos falar em trabalho. Eu proponho isso, simplesmente porque as relações de TRABALHO estão mudando; o emprego, uma delas, está deixando de ser a única para muita gente e vemos tantos exemplos de gente bacana empreendendo, reaprendendo, estudando, se reinventando, se virando, até do avesso. É desses exemplos que penso que temos que tirar forças quando o barco balança como tem feito. Não acredito, mesmo que quiçá sob o protesto de muitos, que a melhor forma de conseguir trabalho é bradando aos quatro ventos: “Preciso de um emprego!”

Até porque, na verdade, a gente não precisa de um. A gente precisa de dinheiro, para pagar contas, e o emprego é uma forma possível de conseguir isso, mas não a única. A gente precisa de mais coisas, também. Que tal a satisfação de realizar algo? De fazer algo que gostamos de fazer, e em que acreditamos? Consegui isso quando parei de pensar em emprego e pensei em trabalho. Sob pressão, conseguir pensar assim não é nada fácil. A vida manda sobreviver e a gente quer viver.

Que pressão.

Tenho pensado muito em como vivemos uma era de transição, e em como estamos sendo cobaias nisso. Mas também tenho pensado que, como é essa a maré e não tem outra agora, é nela que temos que navegar, tomando as rédeas, assumindo o leme. E não há mal nenhum em tentar surfar, já que as ondas estão aí, gigantes. Acho que parar de pensar em emprego e pensar em trabalho (e naquilo de que realmente precisamos: realização…) é uma boa forma de começar a surfar.

Um exemplo de como o trabalho pode acabar atraindo um emprego, ou mais trabalho e algum dinheiro, é que uma vez me candidatei a ser voluntária numa empresa e, quando me procuraram, tinha certeza de que seria proposto para mim um trabalho sem retorno financeiro. Mas, para a minha surpresa, eles queriam me pagar para fazer o que eu tinha me voluntariado para fazer. E eu, claro, achei ótimo, pois precisava trabalhar, precisava do dinheiro, apesar de ter topado até mesmo fazer sem que ele viesse, ao menos de início. E como eu consegui uma coisa dessas?

Certamente foi tentando.

Bom, eu tentei a sorte, acreditei mais em mim um bocadinho, escrevi um e-mail para uma pessoa que eu não conhecia me apresentando, enfim. Outra maneira de surfar as ondas deste oceano revolto: ousar. Ousei, e ousaria dizer que algumas das velhas regras de “etiqueta” da busca por trabalho (insisto nesta palavra) estão antiquadas.

Vale ser mais cara de pau agora? Eu acho que sim. Mais criativo? Não tenho dúvida. Afinal, o que se tem a perder se já perdemos tanta coisa? Claro, existe bom senso para tudo. Mas me parece que o momento pede um pouco mais de destemor e desembaraço. É preciso brilhar em meio a muitas pessoas, todas basicamente na mesma luta. O que traz mais duas necessidades: de solidariedade e a de colaboração. Mas essas eu acho que são bem-vindas sempre.

O pior medo é o de mudar… o que já não está bom

Já estive desempregada, mas, sem trabalho, foram raras as vezes. Aprendi que, em tempos de desemprego – e sempre, na verdade – trabalhar é ótimo. Ainda que seja para si mesmo, estudando, aprendendo um idioma novo; num café do amigo, servindo cookies e frapês; como voluntário; freelando, mesmo que ganhando pouco; investindo em algo que pode demorar a gerar frutos, enfim. É difícil lutar contra o desânimo que um momento complicado traz, mas será que não é mais difícil ainda deixar que o ócio mal aproveitado se aproprie dos nossos cérebros tão ricos?

O importante é, com o perdão da brincadeira porque ninguém é de ferro, diante das dificuldades não se sentir como eu me sinto em relação a esses bichinhos de máquina. Ou seja, totalmente impotente! Entendo a necessidade de “pescar bichinhos” que todos nós temos. Mas me parece bom pensar também em como criar as nossas próprias “máquinas de bichinhos”, em como fazer para ser as garras e não depender delas, ou até deixar de querer (ou de ser?) bichinhos um dia, porque teremos algo ainda maior e melhor. E não há nada de mau nisso.

Até porque, em tempo: empregos já tive muitos, mas bichinhos de máquina, até hoje, nenhum.

Como a série “The Crown” pode contribuir para a nossa discussão sobre educação?

No episódio (muito bem) intitulado “Scientia Potentia Est”, da primeira temporada de The Crown*, série disponível no Netflix, a jovem rainha Elizabeth se dá conta de que talvez não esteja preparada como deveria para a função que precisa exercer. Educada para ser uma “princesa”, Lilibet, para os íntimos, não teve acesso à mesma escola das crianças e jovens “comuns”.

Com os soviéticos testando a bomba de hidrogênio e contando com um Primeiro-Ministro (Winston Churchill) e um Secretário de Assuntos Estrangeiros (Anthony Eden, que viria a ser o sucessor de Churchill) doentes, a rainha se vê às voltas com questões que não lhe acendem nenhuma fagulha na mente, uma vez que em sua educação formal fora privada de estudar matemática, física, filosofia, literatura, história e afins.

Preocupada com sua (falta de) educação, Elizabeth II – que viu sua figura se popularizar instantaneamente após a transmissão televisionada de sua coroação, num episódio incomum para os idos anos 50 e que mostra que ela viveu rupturas desde o início de seu reinado – pede que lhe seja arranjado um tutor. Ao professor, dá a missão de lhe ajudar a recuperar o que considera “tempo perdido”. Quer ser preparada para as questões e situações que tanto se ligam aos fatos históricos que ela se absteve de conhecer durante os anos em que deveria ter ouvido sobre isso nos bancos da escola.

Impossível não associar a angústia da rainha às questões atuais que pautam os debates sobre educação no mundo – ao menos para quem se vê debruçada sobre o assunto, como é o meu caso. Para que estamos educando as nossas crianças? Que preparo a escola formal é atualmente capaz de dar a elas, num mundo que caminha para a total digitalização, mas também carente de tantas coisas que um dia foram abundantes? Estamos preparando os jovens para o mundo em que eles vão viver, e que mal podemos prever como será? E nós, que vivemos hoje, fomos preparados para o que viria agora? E para educar os nossos jovens?

Por outro lado, a rainha acaba descobrindo que sua educação veio a lhe ser, sim, muito útil. Falha e insuficiente, talvez; inútil, não. Lilibet foi apresentada à Constituição muito jovem, e se aprofundou nos estudos de cada linha do documento – conhecimento que lhe veio a ser indubitavelmente útil, por exemplo, diante da necessidade de ser dura com o Primeiro-Ministro Churchill e deixar claro que ele nunca deveria ter lhe escondido a verdade sobre sua saúde; afinal, assim ele impediu que a rainha cumprisse com sua obrigação de garantir a atuação do (bom e saudável) governo.

E o que a constatação da rainha Elizabeth quanto ao valor de seus conhecimentos sobre a Constituição, ou a ausência de conhecimentos sobre guerras, conflitos, vitórias, fórmulas, filósofos e teorias tem a nos dizer? Talvez signifique que uma boa proposta, nesta turbulenta fase de transição em que vivemos, seja o equilíbrio entre o que se ensina hoje na escola, o que precisa ser ensinado e a forma de ensinar. Rever a forma de ensinar matérias, a conexão entre os assuntos, entre o passado e o presente; levar os alunos a perceber a utilidade daqueles conhecimentos.

Parece um bom caminho o da descentralização da sala de aula – que é, na verdade, uma tendência natural, não o resultado de uma decisão. Esse processo tem levado o o aluno a pensar mais, assumindo menos verdades como absolutas, questionando mais. O estudante precisa ser incentivado a pesquisar e a tirar as coisas a limpo por si mesmo, estímulo que deve partir de professores – cujo papel está mudando sensivelmente. É necessário ensinar a aprender, para que se aprenda a aprender, mais e mais, continuamente. Aprender, afinal, está e estará cada vez mais na pauta urgente de todos nós.

A forma, esta também precisa ser repensada, pois é sempre a melhor companheira do conteúdo, que, como dizemos, é o “rei”. Forma e conteúdo criam uma equação capaz de resultados surpreendentes. É o que sempre defendo quando explico os princípios da arquitetura da informação a quem se interessa em saber mais sobre os assuntos com os quais eu lido em meu cotidiano de trabalho. O que seria do conteúdo digital sem a arquitetura de informação?

Não há tempo para aprofundar esse tema aqui, o texto já está extenso demais. E o relógio faz tic-tac. Aliás, no episódio, a rainha tem alguns dias para entender – sem a ajuda do Google! – o básico do aparato militar até que se dê seu encontro com o então presidente americano Eisenhower. Para Lilibet, o futuro chegou sem pedir licença e mudou a ordem do dia, ou da lição. Para nós, não é diferente.

*Comecei a assistir a série incentivada pelo excelente artigo da jornalista Natalia Soares, publicado no LinkedIn e intitulado “O que a rainha da Inglaterra pode nos ensinar sobre trabalho”. Trabalhando com educação, não pude deixar de fazer links com os assuntos que povoam minha mente, e este artigo me surgiu à cabeça quase que completo ao assistir ao sétimo episódio. Agradeço à Natalia por ter me chamado a atenção para a série e por ter publicado o artigo, afinal, o meu não existiria sem o dela!

English Spoken! – Dicas para praticar inglês

Nas conversas com amigos, o tema tem vindo à tona: “Poxa, inglês é sempre exigido em vagas de emprego, mesmo para aquelas que nem são para cargos tão altos”. Pois é. O inglês é algo que todos nós temos que saber. Muitas vezes, o nível “instrumental” acaba servindo para o dia-a-dia. Mas, quanto melhor soubermos, melhor para nós.

Sempre fui apaixonada pela língua inglesa e, por conta disso, estudar inglês sempre foi natural para mim. Sou muito curiosa com o idioma. Comecei a estudar aos oito anos de idade e não parei mais, pois mesmo depois de terminar o curso do BRASAS continuei ouvindo, lendo, escrevendo e me atualizando, para evitar a perda da fluência e porque gosto.

Recentemente, descobri algumas ferramentas online que quis compartilhar por aqui, pois vivo recomendando para as pessoas que conheço, e as considero excelentes para ajudar a melhorar a pronúncia, aguçar os ouvidos e ampliar o vocabulário. Há também dicas para se preparar para provas e para dar aulas em inglês. Estão listadas abaixo, junto com outras dicas que me vieram à cabeça e não são necessariamente ferramentas online. Se tiverem outras, I appreciate se puderem postar nos comentários 😉 Também conheço excelentes professores de inglês, posso indicar para quem entrar em contato por mensagem.

1. FutureLearn

O site FutureLearn tem cursos gratuitos excelentes. Bem-estruturados, interessantes, com navegação intuitiva, são ministrados por diversos parceiros diferentes. Para o aprimoramento da língua inglesa, há uma série de cursos como “English for the Workplace” e o curioso “Exploring English: Shakespeare”, do British Council; um curso da University of Reading de redação de textos acadêmicos para iniciantes; cursos para quem dá aulas em inglês, como este de Cambridge voltado para professores de matérias como Matemática, História ou Ciências. Há diversos outros, basta fazer uma busca por ENGLISH ou usar este link aqui para acessar a busca que fiz.

2. Aplicativo BBC English Listening

Esse app disponível para Android ou iOS é ótimo para apurar os ouvidos, com destaque para o entendimento do inglês britânico. Oferece diálogos de seis minutos entre uma dupla, que fala rápido, como numa conversa real, mas com algumas inserções sobre vocabulário em que os participantes param para explicar sobre alguns vocábulos mencionados. Geralmente, os temas são leves e atuais, o que torna agradável ouvir os diálogos e não deixa essa atividade ficar maçante. Eu costumo ouvir no ônibus, na rua, na praia, enquanto cozinho em casa, enfim, em qualquer lugar ou situação.

3. Aplicativo Duolingo

O aplicativo, também em versões Android ou iOS, oferece cursos de inglês gratuitos, em pílulas diárias de 5 a 20 minutos, que são como metas que você estabelece para si mesmo e pode ajustar quando quiser. Tem teste de nivelamento para quem quiser começar a usar.

4. Livros para ouvir

Se você vai ler um livro e ele foi escrito originalmente em inglês, por que não se aventurar a ler a obra em sua língua mãe? Melhor ainda se puder fazer isso com livros digitais. Um e-book comprado para o Kindle, por exemplo, pode ser lido e ouvido ao mesmo tempo. Basta, para isso, você baixar o app do Kindle para o seu celular (Android ou iOS). Os livros que você comprou estarão lá, e os que tiverem áudio você poderá ouvir enquanto lê. Maravilha para a prática do idioma. Quando não puder ler e ouvir ao mesmo tempo, você pode também só ouvir o livro, onde quer que esteja.

5. O hábito de ter o inglês como idioma primário em tudo

Bom, esta não é exatamente uma ferramenta, é uma dica, e na verdade tem gente que sei que não vai gostar dela. Mas o fato é que tenho o hábito de deixar tudo meu – programas de computador, Netflix, e-mail, qualquer ferramenta online – com o idioma inglês como default. Não deixa de ser mais uma ajudinha, pois mantém a gente em contato com o inglês mais ainda do que já rola no nosso dia-a-dia tão influenciado por países em que a língua é nativa.

6. O hábito de falar com todo mundo

Sou aquela que não pode ver um gringo que puxa conversa só para treinar o inglês. Informações na rua? É comigo mesmo. Brincadeiras à parte, considero a vergonha a pior inimiga da prática do idioma. Liberte-se. Fale com quem você tiver a oportunidade de falar. Ouça com atenção, esforce-se em fazer o seu melhor para responder. Que mal há em errar? Melhor do que ficar calado e não aprender nada. E, além disso, todo mundo comete erros.

7. A série The Crown

É claro que assistir filmes em inglês em geral, ainda mais sem legendas ou com legendas em inglês, ajuda a treinar o idioma, aumentar o vocabulário e conhecer expressões idiomáticas. Mas, já que vamos fazer isso, sugiro fortemente a série The Crown (A Rainha), disponível no Netflix. Porque é maravilhosa e tem mil oportunidades de praticar o inglês com o sotaque bonito dos britânicos, sejam os da realeza ou súditos!

8. Os artigos do New York Times, BBC, qualquer site de notícias originalmente escrito em inglês

Ler notícias em inglês é bacana porque você acaba lendo sobre coisas sobre as quais já sabe algo, se você for minimamente bem-informado! Assim, com o contexto já conhecido, pode ficar mais tranquilo seguir adiante nas leituras e ampliar o vocabulário sem ter que parar para verificar o significado das palavras toda hora (tem gente que acha isso bem chato). Além de notícias, é claro que qualquer site de assuntos que interessem a gente pode ser legal para treinar, conhecer histórias bacanas e aprender novas palavras.

Estamos falando de pessoas [It´s all about people]

—  Português —

Comecei esta semana a ler o livro escrito pelo professor Sugata Mitra, intitulado “Beyond the Hole in the Wall“, que seria “Além do buraco no muro”, em tradução livre (é muro, e não parede, porque assim foi feita a experiência dele, com muros em comunidades de baixa renda). Ainda estou no comecinho, mas já que vi que Mitra promete desvendar muitos dos mitos relacionados à inserção da tecnologia nos processos educacionais.

Por exemplo, logo no primeiro capítulo ele afirma que recursos como os slides do PowerPoint e a tela de um projetor não foram criados para ser usados em sala de aula, como uma maneira de transformar a experiência de aprendizagem. Eles já existiam, dentro do contexto de atender às demandas de executivos em empresas, e passaram a ser oferecidos às escolas pelas empresas responsáveis por vendê-los, após elas se darem conta de que a educação seria seu próximo grande mercado.  Uma crítica contundente, que faz pensar, e que faz todo o sentido.

De fato, na minha avaliação é bastante complicado “encaixar” recursos da tecnologia como esses no contexto da educação de uma maneira que de fato faça diferença no cotidiano dos alunos. Na verdade, muito provavelmente é impossível que algo assim, e feito dessa maneira, tenha relevância para o aprendizado. A tecnologia, na verdade, é apenas uma das bases das transformações pelas quais a educação vem passando.  E ela precisa ser pensada e projetada para cada necessidade. Não dá para simplesmente trazer recursos criados para outras finalidades para o contexto educacional e esperar que haja qualquer mudança profunda a partir disso.

No centro de está a inovação e, acima de tudo, estamos falando de pessoas. O que funciona é o que melhor atende às necessidades das pessoas, da forma mais rica possível. Falamos muito sobre isso no Amplifica, encontro que reuniu educadores Google no Rio de Janeiro sábado passado e para o qual fui convidada pelas organizadoras. Muito grata pelo convite, aliás! Foi uma super oportunidade de conhecer pessoas com empolgação e preocupações semelhantes às minhas, com relação à educação.

beyond

— English —

This week I started reading Sugata Mitra´s Beyond the Hole in the Wall for my Kindle. I´m still in the beginning of the book, yet already noticed the professor´s willingness to demystify many of the concepts usually linked to the uses of technology in the learning context.

Already in the first paragraph, Prof. Mitra argues that resources like Power Point slides and LCD projectors weren´t originally developed for the educational context, as a way of transforming the learning experience. Indeed, they were developed to be used by executives at work. Nevertheless, now these devices´ sellers try to sell the same resources to a new and profitable “market” they´ve discovered, the educational market.

Indeed, in my view, it is quite complicated to make technology resources like these “fit” in the learning processes needs, in a way that really makes a difference to the students´ lives. I would venture to say it is impossible that something like that occurs. Technology, as a matter of fact, is one of the foundations of the transformation which learning has been going through. And it needs to be thought of exhaustively, as well as designed according to the education´s needs. We can´t simply bring to the learning context resources that were created for another purpose and then expect them to result in a relevant, deep change to the learning process.

Innovation is the core of the learning process transformation. And, above all, it is about people. What works is that which meets people´s needs in the richest, most fun and more efficiently way. This was one of the main topics of “Amplifica”, an event that brought together educators from Google and from all over Brazil to talk over education to which I was invited. I immensely appreciate the invitation. It was a great opportunity to meet people as excited and concerned with education as I feel I am.