https://www.cdutilhnovaes.com/
https://philosophyofbrains.com/
https://predictive-mind.net/ppp-contributors/Andy_Clark
https://mind-foundation.org/speaker/anna-ciaunica/?lang=pt-pt
http://paulsmart.cognosys.co.uk/
Por Hugo Mota
Perguntas preliminares (faça-as e responda a você mesmo):
A depender das respostas às perguntas acima, diferentes informações/dicas se aplicarão!
Informações gerais:
Meu relato
Nesta seção, farei uma breve descrição de como se deu meu processo de aplicação e como está a situação atual após a aprovação em uma universidade europeia. Farei isto respondendo cronologicamente de acordo com perguntas preliminares e as informações gerais acima.
Perguntas:
Já tinha interesse de conseguir uma vaga de doutorado no exterior desde que iniciei o mestrado, mas naquela época havia considerado que isso seria muito difícil, então foquei em conseguir uma boa colocação em um programa de doutorado no Brasil, pois assim teria garantia de bolsa e maior chance de ser aceito em um edital de doutorado-sanduíche.
Mesmo assim, desde 2018 venho buscando oportunidades, pois essa minha vontade nunca sumiu. Em verdade, só foi aumentando à medida que a situação no país ia piorando cada vez mais. O estopim foi dado quando em Março de 2021 soube que o programa de doutorado que estava vinculado não teria nenhuma bolsa de doutorado disponível para ingressantes devido ao corte injusto feito pelo CNPq, que vem sofrendo cortes cada vez maiores no atual governo. Uma semana após saber disso, passei todo o tempo que tinha disponível pesquisando programas e vagas de doutorado no exterior que oferecessem bolsa/financiamento e que iniciassem ainda em 2021. Com o tempo, elaborei toda a documentação que precisava e já comecei a submeter aplicações.
Em resumo, minha principal motivação foi uma espécie de instinto de sobrevivência na área.
Irei me mudar com minha parceira e nossas gatas. Caso você deseje se mudar com um acompanhante familiar/parceiro, é importante pesquisar e se informar sobre as possibilidades e requisitos para se fazer isto com segurança. Em relação aos pets, é preciso verificar a regulamentação do país de sua escolha sobre os procedimentos para viajar ― a maioria das informações necessárias consta no site do ministério da agricultura do Brasil.
Como dito acima, minha preferência era iniciar ainda em 2021.
Felizmente já possuía um bom domínio da língua inglesa. Geralmente todas as instituições de ensino irão aceitar o inglês como suficiente, mesmo na Europa. Exceções podem existir a depender do caráter da vaga.
De início, minha preferência já era a Europa. Como as universidades nos EUA tem um processo mais longo e só iniciaria no final de 2022, procurei menos vagas por lá. Também foquei em países que não cobram taxas para estudo em universidades (Holanda, Alemanha, Finlândia, Estônia, Suécia, Dinamarca, Suíça, Noruega, etc.). Como alternativas, busquei as diversas instituições do Reino Unido (especialmente Inglaterra e Escócia) e considerei a Universidade de Sydney.
Minhas áreas de especialização são epistemologia, filosofia da linguagem e filosofia da mente. Tentei direcionar minha busca de modo que não tivesse que me adaptar muito para conseguir aumentar minhas chances, mas minha recomendação é a de se manter aberto para as diversas oportunidades que você encontrar. Como o caráter das pesquisas e projetos no exterior está cada vez mais voltado para interdisciplinaridade, é importante que você esteja ao menos ciente disso e disponível para aprender como se movimentar em outras áreas.
Felizmente, a primeira aplicação (e a que mais desejava) que fiz já foi bem sucedida. Em Agosto de 2021 inicio minha pesquisa na Universidade de Oslo, na Noruega. Mas, antes de relatar coisas mais específicas sobre esse processo, irei abaixo comentar um pouco sobre como foi a pesquisa para encontrar programas e vagas e como elaborei a documentação necessária para as aplicações que submeti.
Em caso de maiores dúvidas, ou caso queira que eu envie os documentos que elaborei como modelo, por favor, não hesite em entrar em contato comigo via hugormota.os@gmail.com.
Como fica claro na área do Perfil do meu site, a minha graduação foi em jornalismo. Logo cedo na carreira, depois de dois anos de formada, me interessei pela educação enquanto área de pesquisa. Fiquei uns onze anos trabalhando em comunicação digital, educação a distância e tecnologias educacionais – projetos que me deram bastante experiência mas também me despertaram muitas questões – e em 2016 decidi que queria ir fundo nos estudos da educação.
Como sempre quis construir uma carreira acadêmica, decidi que o flerte (que durava desde quando me formei no bacharelado) deveria virar namoro; fiz a seleção do mestrado, passei e comecei a estudar as tecnologias digitais sob a perspectiva da Filosofia da Educação. Aí casei com a pesquisa: no doutorado, sigo na Filosofia da Educação fazendo uma pesquisa que tem como objetivo investigar a aprendizagem a partir de um contraste com machine learning. No meu trabalho, me utilizo de uma literatura e de uma série de conceitos situados em áreas variadas: ciência cognitiva, neurociência, filosofia, inteligência artificial, biologia, psicologia e outras.
A minha pesquisa é multidisciplinar como eu 😉 Coisa de gente curiosa mesmo.
Bem, mas este post se chama atitude filosófica e é sobre isso que quero falar aqui.
A atitude filosófica talvez seja um dos pontos mais importantes de conexão entre as duas esferas profissionais que tenho na vida: o jornalismo e a filosofia. Pois desde quando quis fazer jornalismo tomei essa decisão porque gostava de escrever e de ler, mas também porque me considerava questionadora, crítica – e por gostar de pesquisar. Sempre acho que todo assunto pode ser investigado e olhado sob outros ângulos; acredito que tudo é um recorte de algo mais vasto; gosto de pensar sobre os porquês das coisas; gosto de ouvir as histórias das pessoas (e de contar as minhas, mas aqui isso não vem tanto ao caso!).
Percebo, inclusive, que muitos jornalistas não têm (ou perderam) essa curiosidade, vontade de ir atrás das coisas, esse encantamento pela apuração. Admiro os jornalistas curiosos que se munem dessa vontade de saber para ir atrás das histórias, tentando contá-las da forma mais consciente possível.
Consciente acho que é uma boa palavra, porque a verdade sempre tem muitos elementos, aspectos e pontos de vista, e o jornalismo precisa dar espaço para eles, mas também deve respeitar a ciência e trabalhar para que as verdades científicas ganhem espaço. Também deve ter o bom senso de evitar dar espaço para aquilo que não ajuda uma sociedade a crescer e se desenvolver. Jornalismo, afinal, também é construção de uma sociedade melhor, mais aberta, democrática e plural; e eu defendo que isso não é negociável! Mas, enfim, o ponto aqui é: a atividade jornalística exige curiosidade, querer investigar, querer saber. Estar aberto ao que pode vir a encontrar.
A filosofia, por sua vez, também tem melhor aderência aos seres curiosos. A chamada “cabeça fechada” e a filosofia não se encaixam. Com a filosofia, a gente sempre pode questionar, sempre pode discutir as premissas. Não é um questionamento no vazio, sem eira nem beira; mas uma investigação que caminha lado a lado com a empiria, com a pesquisa prática. A filosofia e a ciência também caminham juntas, portanto. Ou, ao menos, a filosofia que tem me interessado é essa.
Debates epistemológicos vazios não me atraem, porque a minha pesquisa é filosófica mas também é fazer-ciência (assim com hífen que acho que encaixa bem com o que quero dizer). O que os pesquisadores que estou estudando fazem acaba levando a olharmos um pouco por baixo do tapete às vezes, e dizer: mas você viu que este tapete está sedimentado sobre estes tacos aqui, e estes tacos estão ruindo? Será que não é melhor trocar os tacos antes de continuar a caminhar? Se não trocar, a poeira vai se acumular entre o tapete e o chão… o chão vai ruir… e só vai restar o tapete lá em cima, que depois de um tempo não vai aguentar também.
Com isso, quero dizer que a gente precisa olhar para os pilares que sustentam as pesquisas empíricas, porque, veja: se determinamos que certas premissas são verdadeiras e seguimos fazendo pesquisas a partir delas, o que temos? Pesquisas que não conseguem se desvencilhar dessas premissas, que são os seus sustentáculos.
Quase nunca precisamos jogar tudo fora e recomeçar, mas quase sempre podemos rever parte de nossas convicções, e essa atitude de abertura, essa postura do querer-saber, é filosófica – e pode ser também jornalística, pode vir de um educador, de um psicólogo, um economista, um matemático, um biólogo, enfim, todos podem adotar essa atitude filosófica.
Portanto, não há nada assim de tão estranho em querer filosofar, não se trata de “viajar”, nem de complicar as coisas (bom, às vezes pode complicar, ou ao menos complexificar)… trata-se de levantar o tapete, e isso pode às vezes fazer a gente espirrar ou tossir, mas vale a pena. Afinal, em alguns casos a outra opção é a estrutura ruir!
Então, para começar a filosofar, é preciso ter interesse, curiosidade e ter olhar crítico; observar; topar uma aventura em que muitas variáveis irão se apresentar. Topar o diálogo, topar assumir que quanto mais sabemos, menos parece que sabemos.
Mas não há apenas uma porta de entrada para a filosofia. Começar pelos gregos pode ser bom quando se quer aprender história da filosofia, mas para aprender a ter uma atitude filosófica o exercício é o de saber ler e interpretar, flexibilizar, saber ouvir, se interessar por mais coisas do que cabem no seu “quadrado”. Aliás, aproveitar para “deixar de ser quadrado” também pode ser bom – quando a gente começa a se abrir mais, ouvir mais, a gente acaba fazendo isso naturalmente…
Para quem está se perguntando por que usei a imagem do filme “O lado bom da vida”, ou “Silver Linings Playbook”, no original…
… Bem, este post teve como inspiração uma aula de Filosofia da Educação ministrada pelo Professor Dr. Carlos Reis, da Universidade de Coimbra. Com muitos alunos da Psicologia (na UC Psicologia e Ciências da Educação estão sob o mesmo departamento), o professor levou a turma a pensar sobre atitude filosófica a partir do filme. Se não viu, veja com esse olhar. Vale a pena!
Começar a ler filosofia não é fácil e pode desanimar muita gente já na primeira tentativa. O motivo disso pode ser a pouca familiaridade do leitor com esse tipo de texto, pouca bagagem anterior em filosofia – o que faz com que não entenda certos conceitos e termos, desestimulando já na largada –, medo de não estar entendendo nada ou até uma vontade excessiva de entender tudo de uma vez só, que, definitivamente, não costuma rolar com textos filosóficos (ou acadêmicos em geral…).
Este post é para apresentar alguns passos simples que, se seguidos, podem ajudar na leitura e apreensão das ideias presentes em textos filosóficos. Serve, porém, para quem precisa ler textos em geral, especialmente de teor acadêmico/científico. As orientações são baseadas em dois livros do mineiro Antônio Joaquim Severino, que referencio ao final do post. Severino desenvolveu uma metodologia para a leitura de textos filosóficos.
Aqui também me baseio na minha própria experiência com a leitura de textos de filosofia e nas aulas do professor Ralph Bannell, meu orientador de doutorado, com quem fiz estágio à docência em filosofia da educação. Ressalto que faço algumas (poucas) adaptações à metodologia de Severino, e indico a leitura integral dos livros dele a quem tem interesse no assunto.
ANTES DE COMEÇAR – Delimitação da unidade de leitura. Você precisa escolher o que vai ler e separar a sua leitura em unidades. Um capítulo? Um artigo/ensaio filosófico? Depois de escolher, não é demais dar uma pesquisada no autor, período em que escreveu, se está vivo ainda; dar uma olhada na bibliografia dele e na biografia etc. Lembrando que o autor escreve no contexto de sua época, de sua vida, de sua proposta de trabalho, e quanto mais der para saber sobre isso previamente, mais isso pode ajudar na compreensão dos textos dele.
Severino indica que, após a escolha do que será lido, é preciso fazer o que ele chama de análise textual. Ele une este passo ao passo seguinte, a esquematização, mas eu cada vez mais tenho considerado a esquematização um passo (e um tópico) importante demais para ser unido à análise temática, então aqui proponho que essas fases sejam vistas como etapas separadas.
A etapa da análise textual significa fazer uma primeira abordagem do texto, ainda não tão aprofundada. A ideia, neste primeiro momento de leitura, não é esgotar a compreensão de todo o texto, mas que o leitor tenha contato com a unidade de leitura escolhida; a ideia é que obtenha uma visão panorâmica, como Severino fala; nesse momento, é possível observar o estilo do autor, o método que ele usa, isto é, a forma como escreve e organiza suas ideias e pensamentos. Ainda neste momento, como a ideia é buscar familiaridade com o texto, o leitor deve assinalar aqueles elementos que, à primeira vista, lhe geram dúvidas. Severino recomenda que sejam buscados dados a respeito do autor, com o cuidado para que os comentaristas (as pessoas que escreveram esses textos sobre o autor) não “contaminem” a perspectiva individual que o leitor será do texto. Mas, eu indiquei que você faça isso antes mesmo de dar início aos passos de Severino, láá no início. Ainda na etapa de análise textual, o leitor deve assinalar termos e conceitos que desconheça, mas que pareçam importantes para que aquele texto seja compreendido. Deve anotar esses termos em uma folha/arquivo separado. O leitor deve anotar, ainda, eventuais fatos históricos citados pelo autor e referências a outros autores que lhe causem dúvida.
Severino recomenda, então, que após a leitura e a identificação dessas dúvidas o leitor busque informação sobre elas, tentando esclarecê-las. É importante fazer isso, de fato, podendo nesse momento usar dicionários de termos de filosofia, por exemplo; mas também é importante não deixar que essa pesquisa se torne tão aprofundada a ponto de desvirtuar o leitor de seu objetivo inicial, que seria compreender o texto selecionado. Então, é preciso um bocado de bom senso para ter em mente que não é preciso esclarecer tudo assim, de saída; muito será resolvido no decorrer da análise daquele texto, da troca de ideias com outras pessoas sobre o texto ou da aula sobre ele, enfim. A minha dica é que você procure saber um pouco, se torne mais confortável com as dúvidas, sem “pirar”.
Nesta etapa, a ideia é ler o texto extraindo dele as principais ideias presentes a cada parágrafo, ou a cada dois parágrafos, mais ou menos. Atenção: NÃO se trata de fazer um RESUMO do texto. O trabalho, aqui, é de apreensão das ideias do autor de uma maneira sistematizada, e vou explicar como. Você deve ler cada parágrafo e escrever com as suas próprias palavras as ideias do autor presentes naquele parágrafo. Uma dica um pouco incomum: escreva com as suas próprias palavras e em primeira pessoa. Sim, como se VOCÊ estivesse escrevendo, produzindo aquelas ideias. Isso pode parecer estranho de cara, mas fará com que você “entre na cabeça” do autor, colocando-se no lugar dele. A ideia é que, ao final desta etapa, você tenha as principais ideias extraídas do texto NA ORDEM em que elas aparecem. Isso servirá como preparação para a etapa seguinte.
Nesta etapa, a ideia é que você compreenda a mensagem passada pelo autor no texto, de modo global e sem intervenções. O que significa sem intervenções? Não é hora, ainda, de você expor a sua opinião ou o ponto de vista de outros autores. Não é nem mesmo a hora de expor a opinião desse mesmo autor que esteja presente em outros textos dele, ou sobre outros assuntos. Você terá um outro momento para fazer isso, no seu ensaio filosófico. Também não é hora de tirar conclusões precipitadas. Apenas faça o seguinte: 1) identifique o tema do texto; 2) identifique o problema que o autor se propõe a resolver; 3) siga e exponha o raciocínio seguido pelo autor e 4) exponha a tese a que ele chega. Detalhando um pouco mais:
Tema – Você deverá identificar, em uma linha ou duas, qual o TEMA da unidade de leitura. Não se deixe enganar pelo título, que nem sempre é bom para revelar o tema do texto.
Problema – A seguir, em algumas linhas, você deve expressar qual o problema que o autor se propõe a resolver/argumentar sobre. Grande parte dos textos filosóficos e científicos é motivada por um problema uma questão sobre a qual o autor se propõe a argumentar. Ele vai elaborar argumentos justamente pensando na “defesa” que fará daquela questão, que o provocou, o instigou. Ou irá “atacar” uma ideia com a qual não concorda, desenvolvendo seus próprios argumentos para isso. Pode, ainda, concordar em parte com uma determinada ideia/tese, mas querer colocar alguns pontos nos quais diverge. Então, identifique essa questão, dificuldade, esse problema e anote. Tenha em mente que nem sempre está tão óbvio qual é esse problema. Mas a sua esquematização ajudará a identificá-lo.
Raciocínio/Argumentação – Com base na sua esquematização, agrupe as informações que você extraiu de cada parágrafo em parágrafos/porções de texto contendo as ideias presentes naquele conjunto de frases. Por exemplo, você pode encontrar relação entre o primeiro e o quinto parágrafo; essa é a oportunidade de juntar as pontas, escrevendo em um parágrafo o que é essa ideia. Ao fazer isso, você estará identificando a maneira como o autor responde à questão que ele mesmo se propõe resolver, como raciocina para resolvê-la, ou: como ele argumenta. Isto é, os argumentos, as defesas que ele efetivamente elabora para resolver o impasse, a dificuldade que o motivou.
Tese – Após expor a argumentação do autor, você será capaz de expor a tese dele; em resumo, o que ele argumenta? O que propõe? Então, faz o próximo passo, e escreve a tese, resumidamente.
É chegada a hora de começar a interpretar as ideias expostas pelo autor no texto lido. Neste momento, o leitor coloca as ideias do autor em diálogo com as ideias de outros autores. Esses autores que falam do autor em questão são, nesse contexto, comentaristas. É um momento que você situa o autor e o texto lido também em relação a outros textos do próprio autor, de modo a buscar localizá-lo numa esfera maior de pensamento daquele autor. Pode verificar como as ideias que ele expõe no texto que você leu se relacionam com ideias em que ele expõe em outros textos dele, por exemplo, ou contrapor essas ideias com as perspectivas de outros autores sobre o que ele escreveu.
Severino destaca que um momento importante desta etapa de interpretação é a formação de uma perspectiva crítica sobre o que foi lido; isto significa, neste caso, procurar julgar a coerência interna do texto e também a sua originalidade, a contribuição que dá ao problema que aborda. Tentar entender até que ponto o autor conseguiu alcançar, de modo lógico, os objetivos que propôs a si mesmo. Severino diz o seguinte: “Pergunta-se até que ponto o raciocínio foi eficaz na demonstração da tese proposta e até que ponto a conclusão a que chegou está realmente fundada numa argumentação sólida e sem falhas, coerente com as suas premissas e com várias etapas percorridas”. Também é o momento de procurar compreender se a argumentação do autor é original e sua contribuição, relevante.
Esta é uma etapa em que se busca desde problemas textuais possivelmente presentes no texto até possíveis problemas de interpretação. É uma etapa bacana especialmente quando se realiza um trabalho em grupo, pois neste momento pode-se debater essas impressões. Vale ler as palavras de Severino diferenciando esta etapa da fase de identificar o problema, presente na análise temática: “Cumpre observar a distinção a ser feita entre a tarefa de determinação do problema da unidade, segunda etapa da análise temática, e a problematização geral do texto, última etapa da análise de textos científicos. No primeiro caso, o que se pede é o desvelamento da situação de conflito que provocou o autor
para a busca de uma solução. No presente momento, problematização é
tomada em sentido amplo e visa levantar, para a discussão e a reflexão, as
questões explícitas ou implícitas no texto”.
Trata-se talvez da etapa mais aguardada entre estudantes, que durante todo esse processo ficam geralmente bem ansiosos para dizer o que acham do que leram! Bom, esta é de fato a hora de discutir a problemática levantada no texto para, a partir da reflexão a que ele leva, desenvolver o seu próprio ensaio filosófico. A síntese é uma preparação para o ensaio, ainda não é o ensaio em si. Mas, se bem feita, ajuda bastante na hora de elaborá-lo.
É interessante como a metodologia de Severino termina com esta etapa, (chamada de síntese pessoal) que exige que você escreva, exponha a sua perspectiva; isso mostra que a apropriação das ideias presentes em um texto de caráter filosófico também depende do exercício da redação. Ao escrever nós organizamos o nosso pensamento e conseguimos realizar nossas próprias reflexões, assim conseguindo desenvolver a habilidade de pensar filosoficamente.
Severino aponta esta etapa como uma fase de amadurecimento intelectual e de exercício do raciocínio. Nesta etapa, pode escolher um ou mais aspectos do texto lido que mais tenham lhe saltado aos olhos, trabalhando em cima desses aspectos. Você deve também buscar o embasamento conseguido com a leitura dos textos dos comentaristas, principalmente se toda a aventura filosófica, o tema ou o(s) autor(es) forem novidade para você.
Lembre-se que, no caso de um ensaio filosófico ou texto acadêmico, o que vale não é a nossa opinião livre, mas uma perspectiva embasada, bem argumentada – como você terá observado no texto lido, se tiver gostado da maneira como o autor conduziu sua argumentação 😉
Ah, também vale lembrar que um ensaio filosófico geralmente contém as sínteses de vários textos e não somente de um.
Antes de terminar…
Mais umas dicas.
Sossego – Às vezes, é difícil conseguir um lugar sossegado para ler, estudar, escrever. Mas isso se torna ainda mais importante quando nos propomos a ler um texto seguindo etapas dessa metodologia, isto é, procurando extrair mesmo um aprendizado, alcançando uma compreensão dos textos. Então, ler no ônibus, metrô, no meio de um ambiente barulhento pode complicar. Quando o confinamento acabar, a biblioteca é a melhor opção para esse tipo de tarefa.
Tempo – Se você não tem tempo para seguir TODOS esses passos toda vez que se propõe a ler um texto filosófico, indico que siga, pelo menos, os passos 1 e 2. Com esses passos você terá uma excelente visão geral do texto, podendo partir para as etapas seguintes somente se você for se aprofundar naquela leitura. Claro, o ideal é você conseguir avançar o máximo possível, contrastar o texto com outras leituras do mesmo autor, escrever as suas ideias, dialogar com ele etc., mas, de fato, muitas vezes não há tempo para isso e os passos 1 e 2 são suficientes para uma apreensão excelente de um texto filosófico/acadêmico. Só ler sem anotar nada não adianta muito no caso de textos filosóficos.
Espero que este post, apesar de longo, tenha sido útil. Recomendo fortemente a leitura dos materiais a seguir, dos quais as orientações foram retiradas. E agradeço ao meu professor e orientador de doutorado Ralph Ings Bannell por ensinar essa metodologia em suas aulas de filosofia.
Fontes:
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Como ler um texto de filosofia. São Paulo: Paulus, 2009.
Participei de uma das entrevistas ao vivo da série que a TV PUC-Rio criou no intuito de desenvolver temas que se relacionem de alguma maneira com a COVID. Esta teve a ver com inteligência artificial e internet das coisas. Ao lado de dois professores da PUC-Rio, comentei sobre a minha pesquisa em educação e IA sob o viés da filosofia e da educação. O debate pode ser assistido no link a seguir.
Em 4 de maio de 2020, realizei, ao lado do professor Eduardo Santos, uma palestra intitulada IMPACTOS DA DISTÂNCIA NA EDUCAÇÃO – O que o eLearning nos diz sobre afetividade, tecnologias transparentes e outros desafios. A palestra foi realizada a convite da Escola Superior de Educação João de Deus, que fica em Lisboa, pela plataforma ZOOM, com a presença de mais de cem participantes. Foi uma oportunidade excelente de debatermos alguns assuntos essenciais relacionados ao ensino e à aprendizagem online, impulsionados, mas não limitados, pela pandemia de coronavírus.
Disponibilizo, a seguir, os vídeos da palestra – a qual, inicialmente prevista para uma duração e uma hora, acabou chegando a quase quatro, por conta do debate que se estabeleceu!
Agradecimentos especiais à Danielle Germano, minha editora de vídeos feríssima, e à Lili, pela ajuda com o canal do YouTube.
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Nesta palestra, Eduardo Santos e Camila Leporace vão conversar sobre os desafios e oportunidades que as tecnologias educativas a distância nos proporcionam, sobretudo num tempo em que a distância ainda promete perdurar. Em redor do tema indutor, vão dialogar ao correr do pensamento a partir de perguntas específicas a serem enviadas pelos potenciais participantes, e de uma “word cloud”. As perguntas e sugestões deverão ser enviadas até uma semana antes da realização da palestra para o e-mail de contato.
INSCREVA-SE ATÉ 30 DE ABRIL!
Informações:
Impactos da distância na educação: o que o eLearning nos diz sobre afetividade,tecnologias transparentes e outros desafios – Palestra online com Eduardo Santos (E-Minds Lab/Universidade de Coimbra) e Camila Leporace (E-Minds Lab/PUC-Rio).
Organização: Escola Superior de Educação João de Deus, Lisboa & E-Minds Lab, IPCDHS, Universidade de Coimbra
Open web access (grátis): 2 maio 2020, 11h Brasil/15h Portugal (45 min. duração)
Contatos, informações e inscrições: emindslab@gmail.com (Ao se inscrever, opcionalmente envie sugestões de questões que gostariam de ver debatidas na conversa!)
Plataforma Zoom (instruções de acesso brevemente aos inscritos, por e-mail)
Estou entrando no meu segundo ano de doutorado e agora estou focada em dois dos tópicos da minha pesquisa: 1) Estudar fenomenologia e pós-fenomenologia; 2) Estudar machine learning.
A minha pesquisa de doutorado é em filosofia da educação/filosofia da tecnologia, já que a minha inquietação é com as tecnologias digitais no contexto da educação. Tomo como base, porém, um referencial teórico menos comum nessa área que é o dos 4Es da cognição – um conjunto de teses e argumentos filosóficos que vêm sendo desenvolvido a muitas mãos por diversos pesquisadores que buscam entender como a mente humana funciona. Esses pesquisadores trabalham diversos tópicos relacionados à atividade cognitiva humana, como a percepção, a memória, a aprendizagem, a questão das representações, entre outros, levantando importantes questões ainda não resolvidas acerca desses elementos. Uma introdução bastante didática aos 4Es encontra-se no livro “A Mente Humana para Além do Cérebro”, que lancei em Portugal com outros vários pesquisadores em novembro de 2019, link para o PDF aqui.
Neste post, vou focar no segundo tópico de meus estudos atuais, o machine learning.
Uma pesquisa sempre parte de perguntas, já que nós, pesquisadores, desejamos ir em busca de respostas para alguma coisa. No caso da minha pesquisa de doutorado, ainda estou trabalhando para formular minhas perguntas, mas, a partir das inquietações que venho apresentando, posso dizer que a pergunta mais ampla seria como a inteligência artificial pode contribuir para a educação. Porém, essa indagação precisa ser lida de um modo mais amplo do que o da simples e imediata aplicação; não quero perguntar como a IA pode ajudar a educação partindo do pressuposto de que já ajuda (muito menos de que concentra todas as soluções), e que então precisamos entender como aplicá-la em sala de aula, mas um passo anterior, digamos assim. Como é que, entendendo a inteligência artificial e os questionamentos que ela suscita, nós podemos pensar sobre aprendizagem & tecnologias digitais? Quais as questões despertadas no âmbito da IA que, revelando aspectos da cognição humana, podem contribuir para pensarmos a educação, vista aqui de maneira mais ampla do que a sala de aula; a educação como aprendizagem de um modo geral, um estar-no-mundo baseado em um processo contínuo de aprendizagem?
Para ir em busca da compreensão de tais questões, cuja fundamentação é filosófica, neste momento estou em busca de compreender os desafios que impulsionam os pesquisadores da IA. O que eles querem encontrar? O que pretendem? O que sentem que falta nas pesquisas deles para que cheguem aonde desejam? Aonde eles desejam chegar?
Preciso, também, entender quais os cruzamentos que poderiam ser estabelecidos entre os questionamentos dos pesquisadores da IA e os questionamentos filosóficos para a tecnologia – uma vez que o aporte teórico que escolhi é aquele relacionado às abordagens cognitivas atuais, estou fazendo uma jornada rumo à fenomenologia, que trata de aspectos essenciais da percepção humana, do nosso estar no mundo, da forma como percebemos as coisas e agimos a partir de tais percepções; a fenomenologia é capaz de estabelecer um contraponto especial com a IA por vários motivos, entre eles por ir fundo nas questões do corpo, defendendo um estar no mundo corporificado que leva em conta as nossas características orgânicas de um modo muito particular e com muitas possíveis aplicações. Em breve farei um post sobre fenomenologia e um sobre pós-fenomenologia, a qual é bastante voltada para as questões específicas da relação humana com a tecnologia.
Em busca de questionamentos que marcam o campo da IA, buscando ampliar aqueles que já conheço superficialmente, tenho lido artigos e livros e recentemente ingressei num curso online da University of London disponível no Coursera que tem bastante material sobre o assunto – indicações de livros, links e vídeos. Foi como conheci o nome do engenheiro e pesquisador da IA Pedro Domingos, que neste vídeo (desculpem, é no site da IBM, que não permite embedar o vídeo aqui) resume um dos problemas que impulsionam a IA, hoje.
O vídeo diz o seguinte (segue a transcrição completa):
People often ask me – what’s the relationship between AI and machine learning and big data? Machine learning is the subfield of AI that deals with getting computers to learn. So you can think of AI as the planet that we’re going to, and machine learning as the rocket that will get us there, and big data as the fuel for that rocket.
There are many examples of AI and machine learning at work in the world today, that touch people’s everyday lives, but they aren’t even aware of it. For example, every time you do a web search, when Netflix recommends a movie, when Facebook selects posts, when Amazon recommends a book, it’s machine learning that’s doing that. Then there are people who apply machine learning and AI in things like robotics, and vision, and natural language processing, or medicine, or oceanography, or social science, you name it.
We’ve gotten very far in AI in the first 50 years. There’s a million miles more to go. So we’re going to need a lot of compute power that is specialized for things like machine learning. I think Intel has something very important to contribute to all of this which is at the end of the day, it all starts with the hardware.
Intel is in the leading position to bring us the hardware and the architectures to try to foster this open community that we really do need to make progress.
We’re actually now for the first time in history at the point where you could say you can have a supercomputer that is about as powerful as the human brain. So the thing that is really holding us back is that we don’t understand well enough how, for example, learning works. If we were able to devise a learning algorithm that is truly as good as the one in the human brain, this would be one of the greatest revolutions in history. And it could happen any day at this point. At this point this is a problem that if we could solve it we solve all other problems. If I come up with a better machine learning algorithm, that algorithm will be applied in business, in finance, in biology, in medicine across the board.
As partes em itálico na transcrição são marcações minhas. Vou falar sobre elas no segundo post que escrevi sobre isso, sigam-me se ficaram curiosos 😉
Imagem do post: Clarisse Croset @ Unsplash
Leia o próximo post:
Pontos de Interrogação em IA, machine learning e cognição humana – Parte 2
A Universidade Federal de São Paulo abriu vagas em cursos de graduação (de diversas áreas) especialmente dedicadas a refugiados, apátridas e portadores de visto humanitário.
As inscrições se iniciam em 02.01.2020 e a prova será no dia 01.02.2020.
O edital completo está aqui neste link.
Divulguemos!
Estive em Coimbra, Portugal, para o Congresso Bem-Estar, Saúde, Cognição & Desenvolvimento, que aconteceu a partir de uma parceria entre o Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Humano e Social da Universidade de Coimbra e a Fundação Beatriz Santos nos dias 28 a 30 de novembro.
Na ocasião, apresentei uma comunicação intitulada ” Uma Reflexão sobre a Inteligência Artificial para Além da Mente Representacional”, além do pôster “A Mente na Inteligência Artificial”. Foram realizadas diversas palestras interessantíssimas e me senti muito privilegiada de estar ao lado de pesquisadores tão feras. Pude conversar com muitos deles e isso me ajudou a pensar em diversos aspectos essenciais para a minha pesquisa de doutorado.
No Congresso aconteceu, ainda, o lançamento do livro A MENTE HUMANA PARA ALÉM DO CÉREBRO – PERSPECTIVAS A PARTIR DOS 4Es DA COGNIÇÃO, escrito a muitas mãos. Sou uma das organizadoras e autoras da obra, ao lado dos professores Eduardo Santos e Ralph Bannell e da pesquisadora Elsa Rodrigues. Mais sete autores colaboraram. A capa foi feita por um artista incrível de Portugal chamado Seixas Peixoto. O livro resulta do trabalho que temos realizado no E-Minds Lab, um grupo de estudos e pesquisas da Universidade de Coimbra do qual faço parte há cerca de dois anos. E está disponível em PDF neste link.
Foi lançado também o livro BRINCAR: DO CONCEITO ÀS PRÁTICAS, dos professores Ana Cristina Almeida e Eduardo Santos.
Que venham muitos projetos mais em 2020. É trabalhando que a gente resiste às intempéries deste nosso país e do mundo. Avante! FELIZ ANO NOVO A TODOS!