Crianças e adolescentes estão viciados em redes sociais e ninguém sabe o que fazer. Jovens estão modificando imagens com o uso de IA generativa (deepfakes) e ninguém sabe o que fazer. Outros sofrem essas novas formas de cyberbulling e ninguém sabe muito bem o que fazer. Outros jogam sem parar para comer, e mais uma vez não se sabe o que fazer. Percebo as famílias sobrecarregadas com essas preocupações. Os professores também.
Enquanto isso, as escolas têm a mesma cara que tinham há não sei quantos séculos. E se discute as razões pelas quais a escola “parou no tempo”.
Mas, olha, é tanto caroço nesse angu que fica até difícil começar a comentar.
Sinceramente – e não é achismo, falo a partir do meu lugar de pesquisadora da educação e também de quem trabalha há 21 anos com comunicação digital – me parece que a sala de aula ter a mesma cara que tinha há séculos não é o nosso principal problema. A escola pode ter a cara que for, mas ela precisa apoiar os jovens na sua formação para viver neste mundo, assim chamado digital. A preparação para viver nesse mundo nao é aprendida porque se tem acesso às mais brilhantes tecnologias, mas porque se tem CONVERSA franca, ESCUTA ativa, DIÁLOGO, acolhimento, orientação.
Claro, uma sala de aula equipada, com tecnologias como ar condicionado, boas mesas e cadeiras de qualidade, e tecnologias digitais como computadores, tablets, livros etc, é maravilhosa para a educação. Mas ela é maravilhosa porque a aprendizagem depende dela para acontecer? Não é bem isso. Claro, uma sala em condições degradantes dificulta o aprendizado. Mas, uma sala de aula bem equipada tecnologicamente é maravilhosa não porque “a escola tem que estar antenada”, mas porque faz com que os alunos tenham perspectiva. Enxerguem o FUTURO. Tenham horizonte. Sintam que PODEM realizar sonhos, ter uma carreira, ser um profissional na área que imaginam. Autoestima, autonomia, a sensação de que pode realizar algo bacana: isso tira o jovem do círculo vicioso das redes sociais – que degradam, matam a autoestima, geram inúmeros transtornos mentais.
Então, precisamos muito de tecnologias educacionais, mas precisamos, e muito, e já, de educação PARA o digital. É preciso parar de ver os jovens como “nativos digitais que já nasceram sabendo mexer” em tecnologias. Podem até ser bons usuários desses dispositivos, sim, sendo apresentados a eles tão cedo. Mas não nasceram sabendo sobre o mundo. Isso se aprende pela experiência. Pela formação. De caráter, de postura, de atitude.
Nem a escola sozinha, nem os pais sozinhos, nem os sistemas de regulamentação da IA sozinhos, nem institutos, ONGs, organizações sozinhas vão conseguir resolver os problemas que advêm da relação humana com as tecnologias. Isso é um esforço conjunto frente a questões para as quais ninguém tem resposta, ainda.
Mas, tem algo que pode ser feito já, e que não depende de ninguém além de você mesmo: aceitar que existe um problema e se envolver com ele. Procurar saber. Acordar. Vamos juntos.