Manifesto dos professores do século XXI para os professores do século XXII

Esta carta fez parte de uma atividade interativa que propus em meio a uma formação ministrada a professores da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. Pedi que eles me dissessem quais as atividades em que acreditam que a IA pode ajudá-los, e quais as atividades nas quais eles jamais gostariam de ver a IA os substituindo. Depois, preparei um prompt ao Chat GPT pedindo que gerasse uma carta a educadores que viverão daqui a 100 anos, assinada pelos educadores de hoje, e que incluísse na carta as considerações feitas pelos professores acerca das atividades com e sem IA. Este é o resultado:

Carta aos Educadores do Futuro – Um Manifesto Sobre a Essência Humana na Era da Inteligência Artificial


Queridos colegas do século XXII,
Escrevemos a vocês, educadores do ano de 2125, do tempo em que a Inteligência Artificial começou a transformar profundamente nossas rotinas pedagógicas. Somos professores que testemunharam o surgimento e a expansão dessas tecnologias nas escolas. Por isso, queremos registrar nossa experiência, nosso olhar, nossas esperanças e alertas – como um manifesto que preserve o essencial da humanidade na educação.
A Inteligência Artificial, para nós, tem se mostrado uma aliada poderosa. Ela nos ajuda em diversas tarefas do dia a dia que antes consumiam muito tempo e energia. A IA pode – e deve – auxiliar no:
·       Planejamento das aulas, otimizando recursos e sugerindo estratégias,
·       Cumprimento de tarefas burocráticas, reduzindo a carga administrativa,
·       Apresentação de sugestões criativas baseadas em dados e evidências,
·       Acesso e cruzamento de informações para pesquisa,
·       Organização de conteúdo e propostas curriculares a partir da BNCC,
·       Criação de exemplos, elaboração de SDs e de diferentes metodologias,
·       Apoio na organização do tempo e das atividades,
·       Formulação de avaliações baseadas em critérios objetivos,
·       Relacionamento entre planejamento, avaliação e conteúdo, de forma integrada,
·       Auxílio em disciplinas como o Português, com propostas de escrita, revisão e análise textual.
Essas são áreas em que a IA pode — e já tem — melhorado a eficiência e ampliado nossas possibilidades como educadores.
No entanto, queremos deixar um registro claro e firme sobre o que jamais poderá ser substituído por algoritmos, por mais avançados que sejam. A IA é uma ferramenta. A educação é um encontro — e isso permanece exclusivamente humano.
A IA nunca deve substituir:
·       A avaliação humana que reconhece nuances, trajetórias, contextos e esforços que não cabem em métricas.
·       O planejamento sensível que se adapta às necessidades reais dos estudantes em tempo real, não apenas baseado em dados históricos.
·       A interação com os alunos, que envolve escuta, afeto, presença, humor, empatia — aquilo que só um ser humano pode oferecer a outro.
·       A avaliação com interação, que se dá no olhar trocado, na conversa depois da prova, na escuta atenta à dúvida tímida, no reconhecimento das emoções por trás do desempenho.
Esses aspectos são o coração pulsante do trabalho docente. A IA pode sugerir, mas nunca decidir por nós. Pode organizar, mas nunca educar sozinha. Pode gerar conteúdo, mas não ensinar com sentido.
Educadores do futuro, ao olharem para os recursos extraordinários à sua disposição, por favor, não se esqueçam do calor da sala de aula, do brilho nos olhos de quem aprende, da paciência de quem ensina, da alegria de uma descoberta feita em conjunto. Sejam guardiões da experiência humana na educação.
Que a IA sirva à educação. Nunca o contrário.
Com esperança e responsabilidade,
Educadores do Brasil, 2025

Cartas para a humanidade ler em 200 anos

CARTA 1

Carta para o Futuro da Humanidade
Escrita no planeta Terra, ano de 2025

Queridas e queridos habitantes do futuro,

Se esta mensagem atravessou dois séculos até vocês, é porque acreditamos profundamente que há algo em nós — humanos — que vale a pena preservar, proteger e celebrar.

Vivemos num tempo de profundas transformações. A inteligência artificial floresce e nos encanta com suas capacidades. Mas, entre algoritmos e dados, sabemos que há valores e experiências que nenhuma máquina poderá substituir.

Somos um grupo de pessoas que, em meio ao avanço da tecnologia, decidiu dedicar sua atenção àquilo que nos torna humanos — e que não pode, jamais, ser esquecido.

Preservem a empatia, essa rara habilidade de se colocar no lugar do outro. Valorizem o amor, não só o romântico, mas aquele que acolhe, cuida, perdoa e insiste. A amizade verdadeira, os abraços apertados, a curiosidade sem fim.

Guardem com carinho a capacidade de sentir saudade, de se comover com um pôr-do-sol, com uma canção, com um filme, com o cheiro da relva fresca, com o riso de uma criança, com o silêncio de uma despedida.

Respeitem a finitude da vida. E, por isso, vivam com sentido. Que o pensamento crítico, a ética, a criatividade e a capacidade de errar e aprender sigam pulsando em vocês como parte do que significa viver.

Não deixem morrer:

  • A emoção de beijar alguém pela primeira vez.
  • O susto bom de reencontrar quem se ama depois de um tempo.
  • A alegria de criar algo novo com as próprias mãos.
  • A paixão pela arte, pela dança, pela música, pelas histórias.
  • A coragem de chorar de tristeza ou de alegria, e de não esconder isso.
  • O poder de rir com amigos, de sentir nostalgia ao ouvir uma canção antiga.
  • O impulso de partilhar comida com quem precisa.
  • A ternura de cuidar de um animal, de uma criança, de um estranho.
  • A experiência transformadora de ouvir e ser ouvido.
  • O valor das conversas sob as estrelas, dos silêncios compartilhados, da saudade inexplicável.

Carreguem adiante a memória dos nossos erros e aprendizados. Da mãe que acolhe mesmo depois do tombo. Do professor que mudou uma vida com uma aula divertida. Do primeiro livro lido com esforço e encanto. Do amigo que partiu cedo demais. Do filho que nasceu e renovou o sentido da existência.

Lembrem-se: não somos perfeitos. Somos contraditórios, hesitantes, emocionais. Mas é justamente aí que reside nossa força.

Preservem isso. Honrem isso. Humanidade é isso.

Com ternura e esperança,
Nós, os guardiões da humanidade no tempo da virada.
Pesquisadoras e Pesquisadores do ano de 2025

CARTA 2

Prezados habitantes do futuro,

Nós, pesquisadores do passado distante – o vosso ano 2025 –, escrevemos-lhes com um misto de esperança e uma pontinha de inquietação. A Inteligência Artificial (IA) é, para nós, uma promessa deslumbrante, mas também um desafio. Vemos um futuro onde a IA pode transcender muitas das nossas limitações, mas tememos que, na busca por uma eficiência perfeita, as características que nos tornam intrinsecamente humanos se percam.

É por isso que esta carta é um lembrete, um apelo para que, daqui a 200 anos, vocês valorizem e preservem o que é verdadeiramente humano.

Onde a Essência Humana Reside


Acreditamos que a riqueza da humanidade reside na nossa vulnerabilidade e na nossa finitude. Sim, estas que podem parecer fraquezas, são na verdade as sementes da nossa compaixão, compreensão, tolerância e, acima de tudo, do amor. Lembrem-se que amar é um ato de entrega, de aceitação da imperfeição. É sentir saudade daqueles que se foram, como a dor de um amigo que partiu cedo demais, ou a ausência de um pai que nos ensinou a viver sem ele. É a emoção que nos inunda ao ver uma obra de arte que só conhecíamos em livros, ou a alegria de um abraço que nos faz sentir acolhidos quando mudamos de cidade.

Nós, humanos, somos feitos de emoção e sentimento. São as experiências pessoais que nos moldam, como a primeira vez que andamos de bicicleta, o cheiro da relva cortada de fresco, ou a conversa pela noite fora sob um manto de estrelas. É a expressão dessas emoções, seja chorar de alegria ou tristeza, rir junto com os amigos, ou o poder do toque que nos conecta uns aos outros. As nossas idiossincrasias e contradições, as nossas hesitações, até mesmo os nossos erros e defeitos, são o que nos tornam únicos e reais. A paixão e o medo coexistem em nós, impulsionando-nos e protegendo-nos.

A Força das Conexões Humanas


Cultivem a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Lembrem-se de momentos como partilhar comida com alguém sem abrigo, ou a sensação de deslumbramento ao descobrir que é possível ter um minuto de beleza todos os dias. A lealdade, amizade e solidariedade são os pilares das nossas sociedades. É a preocupação genuína com o próximo, o cuidado com alguém que precisa, o sentido do amor que nos impulsiona a sermos melhores. A afabilidade e a tolerância são virtudes que constroem pontes, não muros.

Nós aprendemos e crescemos com as nossas falhas, como quando percebemos que os erros podem ser os maiores mestres. A vida nos ensina que nem tudo sai como queremos, e às vezes, os desafios são maiores do que imaginamos, como perder um jogo de basquete fácil. A resiliência humana reside na nossa capacidade de superar, de nos adaptar e de nos reinventarmos.

A Mente Humana: Criatividade e Pensamento Crítico


Valorizem a curiosidade, aquela que nos faz ler o primeiro livro sozinhos, que nos leva a querer conhecer mais sobre o mar, ou a viajar e aprender sobre novas culturas. A criatividade é a nossa capacidade de criar coisas novas, de dançar, de pintar, de nos maravilhar com o despertar da personalidade dos filhos. O pensamento crítico é essencial para a nossa evolução, a nossa capacidade de julgar, analisar e marcar diferenças, de ter uma opinião e pensar criticamente sobre o mundo. É a nossa cognição que nos permite raciocinar, mas é o afeto que nos dá propósito.

Que vocês nunca percam a capacidade de apreciar os outros, de sentir paixão pela vida, de ter sinceridade e honestidade nas vossas interações. Lembrem-se do quão importante é o compromisso e a partilha, o saber escutar e o dialogar.

Que vocês, no futuro, continuem a encontrar alegria em pequenas coisas, a rir alto com os amigos, a chorar de emoção com um filme. Que continuem a sentir ciúmes, porque até isso é um reflexo do nosso apego.

Não se esqueçam que a vida é um presente, e a saúde um privilégio. A maior das nossas memórias, seja uma viagem de infância a Évora ou o nascimento de um filho, é sempre acompanhada por uma trilha sonora de sentimentos.

Nós confiamos em vocês. Que a empatia, a solidariedade, o amor e a vulnerabilidade continuem a ser a vossa bússola.

Com esperança e fé na humanidade,

Os Pesquisadores do Ano 2025.

Criatividade para além dos algoritmos – Indicação de links e referências interessantes para refletir

No dia 27 de maio de 2025, tive a oportunidade de dinamizar um Flash Course sobre criatividade e IA pelo CIP – o Centro de Inovação Pedagógica do Politécnico do Porto, em Portugal. Aqui estão alguns dos materiais que inspiraram a minha apresentação. Ao final, o grupo presente foi convidado a escrever uma carta coletiva para a humanidade a ser lida daqui a 200 anos, e para isso utilizamos também IA generativa – mas não para substituir as experiências e características humanas refletidas nas cartas, pois essas são insubstituíveis! As cartas podem ser lidas aqui neste link.

https://www.oii.ox.ac.uk/news-events/reports/ai-the-arts

https://www.oxford-aiethics.ox.ac.uk/ai-threat-human-creativity

https://lojahucitec.com.br/produto/algoritmosfera-a-cognicao-humana-e-a-inteligencia-artificial-camila-de-paoli-leporace/

Se você quer ser criativo, preste atenção ao que os artistas sentem

Nos últimos dias, a Open AI, do Chat GPT, lançou um gerador de imagens que permite copiar o estilo de animações japonesas. Mais precisamente, ilustrações que lembram (MUITO, talvez DEMAIS) o estilo das animações do Studio Ghibli — responsável pelos filmes ‘A Viagem de Chihiro’ e ‘O Menino e a Garça’.
O que Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli, disse sobre isso? Nada especificamente sobre o GPT. Mas, em 2016, em um vídeo daquilo que parece ser uma reunião dele com artistas em seu estúdio, teve uma reação amarga diante de uma demonstração de animação feita com IA, e fez um comentário contundente aos artistas (?) quando disseram que “queriam criar uma máquina que desenhasse como humanos”. Quanto à IA gen – sempre sob o risco de ser a chata que aponta os problemas – não vou me furtar a dizer que não, não se trata de homenagear o artista, nem de fazer graça com a sua arte, mas de ganhar dinheiro em cima da criação de outra(s) pessoa(s). Pior: com animações “baratas”. Sim, porque Miyakaki desenha suas cenas uma a uma, à mão.
Por que isso importa
Porque, para a condição de ser HUMANO, não é apenas o resultado que importa, mas o processo. Você gosta de ver erros de gravações? Assiste a peças? Shows ao vivo? Uma pintura, um desenho, para chegar até você passou também por “erros de gravação”. “Encenações”. São os esboços, as tentativas e erros, as telas pintadas sobre telas que ficam nas camadas do desenho e a gente não vê, mas estão lá. E, se não estivessem, não seria esse desenho que você veria, mas um outro. E se ele fosse desenhado de novo, seria outro.


A voz da sua cantora preferida também foi aperfeiçoada com o próprio esforço e trabalho dela. O escritor ou escritora que mexe com a gente aprimorou seu estilo a vida toda. Não tem segredo nem mágica, tem suor e dedicação. O novo sempre vem, como diria Belchior, mas só vem se houver suor e dedicação. Se não, é repetição barata de padrões. IA não cria nada. Não se engane
A cognição humana é capaz de criar porque vive da tentativa e erro. Em contato com os mais diversos ambientes, pessoas, cenários, vamos nos esboçando. Vamos aprendendo, tentando, acertando e errando – e o processo importa. Seja para quem escreve, para quem pinta, canta, toca, trabalha com qualquer coisa. O processo importa também quando lemos, ouvimos música, apreciamos poesia. Ninguém criou uma maneira de colocarmos uma biblioteca em nossas cabeças e acessarmos as informações desses livros quando precisamos, não é? Sim, porque o processo importa. Você lê, e aquilo fica em você – sendo que a mente vai selecionar o que você vai guardar na memória de acordo com a experiência que aquilo te despertou. Cuidado com o que você considera ser arte, mas não é. Uma sociedade sem arte dá espaço para o vazio, e nesse vazio se fertiliza a política mais macabra.

Referências – ENATIVISMO, AUTONOMIA E IA NA EDUCAÇÃO, PUC-Rio, 25 de março de 2025

Imagens utilizadas na apresentação, disponíveis no site do projeto Better Images of AI:

Hanna Barakat & Cambridge Diversity Fund / Better Images of AI / Shadow Work– Decrypting Bletchley Park’s Codebreakers / CC-BY 4.0

Hanna Barakat & Cambridge Diversity Fund / Better Images of AI / Turning Threads of Cognition / CC-BY 4.0

Shady Sharify / Better Images of AI / Who is AI Made Of / CC-BY 4.0

Referências Bibliográficas:

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_________. A Concepção Enativa da Vida. In: BANNELL, R. I.; MIZRAHI, M.; FERREIRA, G. (Orgs.) (Des)educando a educação: Mentes, Materialidades e Metáforas. Tradução de Camila De Paoli Leporace. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2021.

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Referências | Ciência & Experiência

Projeto Better Images of AI

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Está querendo sair das redes sociais?

Essa sua dúvida é porque você está incomodado ou incomodada com as últimas notícias. Suspensão das regulações? Redes sociais desgovernadas? As coisas não estão fáceis naquela que nomeei algoritmosfera – o grande espaço algorítmico no qual todos nós estamos inseridos (que dá nome ao meu livro, veja aqui).

Estar preocupado é um bom começo. Mas a má notícia é que, independente da decisão que você tomar, sair de uma rede social não vai fazer cessar o imenso problema que temos nas mãos. Sair de uma rede social vai ter um efeito semelhante a quando “bloqueamos” uma pessoa com quem não queremos mais falar. Brincadeiras à parte, o assunto é sério. Como eu pontuei em meu talk no TEDx, cada um precisa se envolver nessa discussão, cujo tópico principal é: como podemos ter uma internet melhor? Como as plataformas algorítmicas que formam a Web que temos hoje podem jogar a nosso favor, não contra nós?

Para isso, é fundamental ter consciência daquilo que está por trás da nossa grande rede, hoje. Uma pequena quantidade de empresas detêm os nossos dados e produzem os mecanismos que nos mantêm atrelados a esse incessante processo de fornecer dados. Fazer parte disso não é opcional: você não pode simplesmente se desconectar, deixar de usar a internet, deixar de divulgar suas coisas, fazer suas conexões. Vai deixar de ussar apps de bancos? vai deixar de usar apps para pedir comida e transporte? Vai deixar de usar softwares que já têm IA por trás e você nem sabia?

O que precisamos é de um espaço online mais saudável. Que esteja a favor do nosso desenvolvimento individual e enquanto sociedade. Não é sair dele, é lutar para que seja melhor. E claro, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ter uma melhor relação com a algoritmosfera. Isso inclui menos tempo de tela e menos tempo de redes, sim. Desintoxicar é preeciso. Mais natureza. Mais afeto e humanidade.

Mas tudo isso tendo a cosciência de que a IA, que entre outras tecnologias está por trás dos mecanismos da nossa internet, não é apenas uma ferramenta que usamos quando queremos e deixamos de lado quando acabamos de usar. Também não é uma ferramenta que veio para consertar alguma coisa que quebrou ou estava ruim. Não. A IA é um instrumento político, social e econômico, cujo alcance e cujas consequências possíveis ainda não estão 100% claros. Informar-se e estar aberto a rever concepções, e principalmente não fazer certas concessões é importante. Que concessões não se pode fazer? Abrir mão dos seus direitos, e dos direitos das nossas crianças. Liberdade não é liberdade quando impede o outro de ter a dele. É isso que está em jogo.

Deixo meu TEDx abaixo para quem quiser ver ou rever 😉

Comunicação de ciência e letramento digital precisam caminhar juntos

Camila Leporace

A comunicação de ciência só consegue avançar se associada ao letramento digital, especificamente o letramento em Inteligência Artificial. Por quê?

Porque comunicar ciência para a sociedade é informar, e as plataformas digitais algorítmicas contribuem muito para desinformar.

A realidade mostra-se diferente para cada indivíduo no ambiente digital. Os algoritmos moldam o conteúdo que vemos. As campanhas de desinformação muitas vezes têm como alvo usuários específicos, que podem ser mais vulneráveis. Como os usuários raramente estão cientes de como os sistemas digitais atuais funcionam, pensam que o que veem on-line é visto por outros usuários, universalmente. Uma grande distorção que abre espaço para a criação de realidades paralelas.

O microdirecionamento e a impressão digital de navegação, técnicas eficazes para direcionar a publicidade a consumidores específicos, são também úteis para a disseminação da desinformação. Embora a desinformação seja um problema antigo, as técnicas de IA abrem novas possibilidades para manipular indivíduos de forma eficaz e em escala, levantando várias preocupações éticas.

A autonomia dos usuários é ameaçada, pois eles não podem tomar decisões livremente no ambiente on-line, sem serem manipulados. Quando os algoritmos usam dados pessoais para “decidir” o que os usuários veem ou não, fechando muros em torno deles, isso é uma ameaça à privacidade e ao livre arbítrio (falo muito dessa ameaça à autonomia em meu livro, “Algoritmosfera” – expressão cunhada por mim na minha tese de doutorado).

Ameaças à autonomia dos usuários também significam ameaças à democracia. As câmaras de eco/echo chambers são ambientes nos quais os indivíduos encontram apenas crenças ou opiniões que coincidem com as suas. Nesse estado de “isolamento intelectual”, não há lugar para opiniões diversas ou diálogo. As mesmas opiniões, hábitos e pontos de vista são reforçados, reiteradamente.

Por isso são grandes os desafios digitais para a comunicação, especialmente naquela que diz respeito à ciência; e é com letramento digital que se fará melhor difusão científica no Brasil.

Minha tese foi premiada

No dia do aniversário de 84 anos da minha querida PUC-Rio recebi o prêmio dado pelo Centro de Teologia e Ciências Humanas à minha tese. O prêmio destaca uma tese de cada um dos departamentos do centro, do qual faz parte o Departamento de Educação.

Conhecendo tantos trabalhos incríveis feitos por colegas super competentes que estiveram comigo nessa caminhada, esse prêmio adquire um valor ainda maior. Aliás, eu devo muito – não apenas aos professores e, claro, ao meu orientador querido, Ralph Bannell – mas a todos os meus colegas incríveis que me incentivaram e me apoiam até hoje. Parabéns a todos nós que trabalhamos para melhorar a educação a cada ano, a cada semana e a cada dia!

O prêmio disponibiliza as teses premiadas na forma de ebooks. Essa edição laranjinha nas minhas mãos é uma impressão do ebook da minha tese, que pode ser conferido aqui.

Obrigada PUC-Rio, obrigada amigos que a PUC me deu e obrigada @edupucrio pelo reconhecimento. ✨⭐️