No anúncio acima, a “Moça com brinco de pérola” de Vermeer abre uma garrafa de Coca-Cola depois de ela passar por diversas obras de arte que fazem de tudo para não deixar a peteca, ou melhor, a garrafa cair. O anúncio foi feito com inteligência artificial e também com filmagens reais e efeitos digitais diversos.
O interessante é que, em meio às questões que pairam sobre as artes e a IA, se a criatividade será estendida ou ofuscada pela IA, se o que a IA faz é arte ou não etc, esse anúncio chega lembrando que uma pode viver com a outra e gerar algo fabuloso. Isto é, arte e IA podem ser uma mistura interessante. Mas é isso: o anúncio é uma obra-prima em si, mas envolveu intenso trabalho e empenho. O esforço criativo não apenas dos artistas cujas obras de arte aparecem no vídeo, mas daqueles que fizeram o vídeo, claro, continua tendo altíssimo valor. Isso diz algo sobre a discussão quanto à IA “dominar” ou “substituir”, ou eventualmente expandir e enriquecer possibilidades.
Alguns dos livros e artigos que usei como base são estes:
DI PAOLO, E. A., BURHMANN, T. E BARANDIARAN, X, E. Sensorimo-tor Life. An Enactive Proposal. Oxford: Oxford University Press, 2017.
DI PAOLO, E. The Enactive Conception of Life. In: NEWEN, A., DEBRUIN, L. & GALLAGHER, S. The Oxford Handbook of 4E Cognition.Oxford: Oxford University Press, 2018
DI PAOLO, E. A.; CUFFARI, E. C. & DE JAEGHER, H. Linguistic Bodies.The Continuity between Life and Language. Cambridge: MIT Press, 2018.
DI PAOLO, E., ROHDE, M. & DE JAEGHER. Horizons for the EnactiveMind: Values, Social Interaction, and Play. In: Stewart, J., Gapenne, O. e DiPaolo, E. Enaction – Toward a New Paradigm for Cognitive Science. Cam-bridge: MIT Press, 2010.
DREYFUS, H. What Computers Still Can’t Do. MIT Press: New York, NY,USA: 1992.
DREYFUS, H. Skillful Coping – Essays on the phenomenology of everydayperception and action. Oxford: Oxford University Press, 2016
Quadro colaborativo feito durante a apresentação:
Para quem quer saber mais sobre Hubert Dreyfus, recomendo a leitura deste meu post:
Os centros de Ciência Viva em Portugal formam uma rede que conecta empresas, escolas, universidades, politécnicos e unidades de investigação localizados na região em que cada centro se encontra. São 22 centros, no total, e infos sobre eles podem ser consultadas em https://lnkd.in/dQSG2YFt.
No dia 3 de maio eu ministrei uma oficina sobre comunicação de ciência usando a Web que aconteceu na Casa da Seda, em Bragança, região nordeste de Portugal. O local é parte do Centro de Ciência Viva de Bragança, onde aconteceu a edição deste ano do SciComPt.
A facilitadora Camila Leporace com a turma participante do workshop sobre comunicação de ciência usando a Web em Bragança, Portugal, maio de 2023
Na Casa da Seda, pode-se compreender o ciclo de vida do bicho-da-seda e conhecer a indústria de produção artesanal da seda, que teve grande importância para a economia local em outros tempos.
No outro pavilhão do Centro de Ciência Viva da cidade, pode-se interagir com diversas temática da ciência por meio de games, quebra-cabeças, dispositivos de realidade virtual, exposições itinerantes e outras atrações. O lugar é incrível, e vale demais a visita, especialmente para despertar nas crianças o interesse pela ciência.
Terça a Sexta – 10h-18h Sábados, Domingos, Feriados – 11h-19h Encerrado à Segunda (Última admissão meia hora antes do encerramento) O Centro encerra ao público nos dias 1 de Janeiro, 24, 25 e 31 de Dezembro.
Seleção de vídeos e links interessantes sobre comunicação de ciência; material complementar ao workshop de comunicação de ciência ministrado em Bragança, Portugal (3/maio/2023).
Por que você, pesquisador de mestrado ou de doutorado, deve estar presente nas redes sociais online?
A Web é uma das principais fontes de informação sobre ciência, tecnologia e saúde para o público não especializado. Também a Web é a principal fonte de *desinformação* sobre essas matérias.
Essa, em si, já é uma razão importante para os academicos fazerem parte do ecossistema de comunicação sobre ciência que a internet é capaz de proporcionar.
É importante, ainda, estar presente para:
– Fazer networking – Conhecer outras temáticas e áreas de pesquisa – Perceber onde estão os medos e receios do grande público – Perceber como aproximar a sua investigação do cotidiano das pessoas – Ganhar visibilidade com o seu trabalho
Para começar a estar mais presente digitalmente, três dicas que podem ser úteis:
1. Trace metas factíveis: metas complicadas demais acabam frustrando em vez de estimular – exemplo: um post por semana é muito melhor do que nenhum, mas postar todo dia pode ser uma meta difícil de alcançar num primeiro momento;
2. Planeje o dia da semana em que irá postar e produza seus posts com alguma antecedência (é interessante ter um “banco” de posts para ir usando, em vez de postar tudo de uma vez!);
3. Faça uma nuvem de palavras com os temas da sua pesquisa: ela vai te ajudar a se inspirar quando você precisar produzir um post e estiver sem imaginação.
No dia 3 de maio, estarei em Bragança, para o SciComPt – o Congresso da Rede de Comunicação de Ciência e Tecnologia de Portugal, ministrando a oficina “Usando a web para aumentar o alcance da sua investigação científica”, na programação pré-congresso, pela manhã. Junte-se a nós ou indique a alguém que você acredita que pode se interessar! Inscrições aqui neste link, com taxa reduzida até 17 de abril.
Estudar a aprendizagem humana e a inteligência artificial foi algo que levou a valorizar ainda mais as experiências genuinamente HUMANAS. Existe algo que é exclusivo nosso e que é a capacidade de SENTIR, de experimentar, de vivenciar na pele cada momento vivido. Conhecemos texturas, gostos, sabores, cheiros e sensaç˜ões – que podemos considerar boas ou más. Máquinas não sentem. Não experimentam nada, de fato. E esse foi um dos pontos mais importantes que explorei na minha pesquisa.
A experiência é um aspecto essencial da aprendizagem humana. Justamente porque experimentamos é que aprendemos; cada habilidade que vamos desenvolvendo fica entranhada em nós, e é sentindo que vamos conhecendo o que está no nosso entorno e adquirindo mais e mais habilidades. Percebo que gosto de me desafiar. Estar em lugares desconhecidos, com pessoas novas, fazendo coisas diferentes e até viver situações não tão confortáveis são elementos que levam a grandes aprendizagens. Acho que além de ser viciada em desafios eu sou viciada em aprender. Por isso esse meu entusiasmo tão grande por VIAJAR.
Acho interessante que a minha pesquisa de doutorado tenha me levado além do que era esperado; isto é, desenvolvi conhecimento em determinada área, sim, claro mas, mais do que isso, eu adquiri “na pele” a dimensão de como a experiência humana é que nos diferencia dos sistemas artificiais. Um tratamento especial da experiência faz parte das teses que investiguei, pertencentes ao enativismo e à cognição corporificada. Mas o toque principal foi dado pelas próprias vivências que tive enquanto fazia a minha investigação de doutorado. Elas me fizeram refletir muito e acabaram compondo o resultado final que está na minha tese.
Ser humano é verbo, é ser, mas não é permanecer; é tornar-se, mudar, se transformar, crescer. Sabe? Ser humano é ser criativo, pensar fora da caixinha, e a gente GOSTA disso. Se o ser humano não gostasse disso tudo, como poderia ser complexo, viajar em busca de experiências, querer conhecer coisas e lugares novos e tudo o mais?
Bom, e o que isso tem a ver com Chat GPT??
A tecnologia por trás do Chat GPT possibilita que esse sistema busque, em bases de dados extensíssimas, todo tipo de “informação” e, com isso, monte os conteúdos que a nós retornam. Onde está o poder do Chat GPT? Está, justamente, na sua capacidade astronômica de buscar, nessas bases, de maneira ultra rápida, os dados, e montar os conteúdos. Ok, isso é impressionante e pode trazer consequências, como já está trazendo. Mas é importante separar as coisas. Todas as bases nas quais a ferramenta busca foram construídas por seres humanos. A novidade fica por nossa conta. Somos nós que vivemos as experiências que vão gerar aqueles textos. As PESSOAS são o que importa, em TODO o percurso.
Não me interessa ler textos sobre dicas de viagem sem saber quem escreveu. Não me interessam descobertas científicas sem saber das fontes. Não me interessa uma opinião sem referência – quem disse e quando. Gente, o Chat GPT não dá fontes, nem teria como (talvez desse uma fonte a cada palavra?). Ele não “sabe” realmente de onde tirou cada retalho de informação. Na mistura que o sistema faz, as fontes de perdem. E isso pasteuriza tudo! O conteúdo que a gente acessa se torna rico justamente pelo estilo como as pessoas escrevem, as experiências que viveram e que resultaram naquele texto ou conteúdo multimídia, as pesquisas que fizeram. Cada texto é único e especial em si mesmo, e o Chat GPT pega e junta um monte de dados e gera um texto uniforme, técnico, que nao sei quem escreveu e que propósito havia naquela escrita. Não me seduz, não adianta!
Os conteúdos que vemos no Chat GPT são uma massa disforme. Tudo o que interessa, nessa maré sem fim de conteúdo que nos inunda todos os dias, são as fontes, as origens dos conteúdos, isto é, NÓS, seres humanos! E o Chat GPT simplesmente ignora as fontes. Não “sabe” informar de onde veio aquela massaroca de texto. Imagina páginas e páginas arrancadas de livros, sem capas, index, sumário, nada, e jogadas numa caixa, misturadas. Imagina parágrafos recortados de livros, montados com parágrafos de outros livros; imagina palavrinhas recortadas de páginas de livros e coladas nas páginas de outros livros. Uma sopinha um tanto indigesta, não?
Eu acredito que o medo de que o Chat GPT nos torne obsoletos vem da falta de valorização da capacidade humana de criar, ter empatia, sonhar, se conectar com os outros; porque, se nada disso for importante, mas apenas conteúdos técnicos, pode ser que essa tecnologia seja suficiente! Mas tudo isso É ESSENCIAL, no sentido mesmo da NOSSA ESSÊNCIA. O que somos? O que significa ser humano? Sem um pouco dessa filosofia, fica fácil ter medo do Chat GPT. Mas, se nos conectarmos novamente ao que significa ser humano, a IA vai ter que se esforçar mais, gente. Nada disso me seduz, apesar de me preocupar. Por isso sigo pesquisando!
Leia este post aqui da Giselle Ferreira sobre o assunto, que “conversa” muito com o meu!
Mentira, nada de mandamentos, não mando nada, gente 😉 Mas aqui estão alguns atributos que considero fundamentais para quem quer colocar o pé na estrada com o laptop debaixo do braço (lista ongoing, sempre ganhando itens novos)…
Ter disposição e abertura para o mundo
Estar pronta/o para lidar com imprevistos
Ter coragem para seguir a intuição
Saber se cuidar física e emocionalmente
Saber cuidar das finanças
Ter disposição para burocracias
Ter fé (nada a ver com ser religioso/a)
Ter foco para trabalhar em lugares diferentes
Algum desprendimento material ajuda (consumismo e nomadismo não combinam…)
Um tanto de vontade de aumentar a sua dose de autoconhecimento também ajuda 😉
Praia da Figueira da Foz – Portugal, dez/2021, foto de Pedro Rosa
Um dos grandes desafios para a indústria da robótica é a sofisticação dos movimentos humanos.
O nível de refinamento dos movimentos que os nossos corpos são capazes de fazer é altíssimo, e parece algo que já vem “embarcado” em nós.
É ainda muito pequenos que começamos a engatinhar, segurar objetos e desenvolver, assim, essa interação corporificada com o mundo a nossa volta, que só evolui mais e mais.
Movimentos simples para humanos podem ser complexos de ser reproduzidos em robôs. Essa questão difícil é conhecida como PARADOXO DE MORAVEC, em referência ao roboticista Hans Moravec.
Também é difícil exigir de robôs que “compreendam” o contexto das interações. Por isso o senso comum é um desafio para a indústria robótica. Isso transparece até quando testamos o Chat GPT. Senso comum não é o forte.
Basicamente, Verhulst indica como o Chat GPT nos instiga a pensar nas perguntas que temos feito. Para obter dados, precisamos fazer perguntas e procurar respostas para elas, afinal, dados não significam nada sem interpretação.
Como espécie e como sociedade, o autor diz, nós tendemos a procurar por respostas para guiar nossas ações e decisões relativas a políticas, por exemplo. Mas nos esquecemos de que é a maneira como perguntamos que afeta o tipo de resposta gerado.
Será que as perguntas que estamos fazendo estão mesmo levando `às respostas que pretendemos?
– O autor nos instiga a pensar
O processo de pesquisa científica é todo guiado por perguntas. Os relatórios finais trazem respostas, mas elas são a ponta do iceberg.
Perguntas também qualificam dados: elas transformam dados crus em informações ricas, úteis e aplicáveis. Isso que o autor indica serve até mesmo para os dados de acesso a um site, por exemplo. Pensei aqui em algo: se uma companhia deseja saber se o tempo que os usuários passam em seu site é um tempo “bom” ou não, ela precisa saber o que deseja que eles façam em seu site. Se é um site para resolver um problema imediato, como encontrar um contato ou submeter um formulário, provavelmente será ideal que time on site seja curto. Pode significar (não necessariamente, mas é uma das métricas) que rapidamente os usuários têm resolvido seu problema quando entram no site.
Por outro lado, um tempo mais longo passado num site pode ser desejável para uma plataforma de e-commerce, por exemplo. Nesse caso, poderia significar que os usuários estão navegando bastante pelos produtos ou serviços. Claro que, além da métrica do tempo, outras como as métricas que indicam conversão são também essenciais. Se muitas pessoas acessam uma página mas poucas efetivamente compram, isso pode representar um problema para quem deseja vender online, por exemplo.
Voltando ao texto do Verhulst: ele sinaliza que a inteligência artificial torna ainda mais evidente a importância de fazermos boas perguntas.
Quando os engenheiros da IA desenvolvem um modelo de aprendizagem de máquina que aprende com os dados, o que ele aprende – ou seja, o próprio modelo – depende da pergunta que procura responder a partir dos dados.