Acabei de concluir meu mestrado em Educação, na PUC do Rio de Janeiro. Estive pensando em algumas coisas que acho que valem ser compartilhadas, sobre esses dois anos que me exigiram intensa dedicação e trouxeram muito aprendizado. Este post é para isso.
- Mestrado não é “bolinho”. Não é bolinho no sentido de ser fácil, e também não é bolinho no sentido de não ter uma receita de bolo única. Cada experiência de mestrado é uma, é única, e cada um vai buscar a experiência que melhor se relaciona com suas expectativas, desejos e realidades. Mas é importante saber que, para ser uma experiência bacana e valiosa, é fundamental se dedicar, estudar, ir atrás, e ter tempo para estudar. Não dá para fazer o mestrado nos espacinhos livres da agenda, estudar nas horas vagas. Ou melhor, até deve dar, mas eu não consigo ver esse “método” trazendo um resultado realmente satisfatório e significativo.
- O “encontro” com o orientador é essencial. Esta frase também tem pelo menos dois significados: o primeiro – é importante que orientador e orientando se deem bem, consigam trocar boas ideias, que o orientador entenda as expectativas do orientando com a pesquisa, e que o orientando ouça o orientador, esteja aberto a ele e à experiência que acumula. O segundo – que é essencial encontrar o orientador com frequência, compartilhar suas dúvidas, descobertas e o processo de construção do trabalho com ele.
- Ter colegas que te apoiam é essencial, também. O processo – de pesquisa, de interpretação de conceitos, de escrita – pode ser exaustivo, e por isso é importante compartilhar aflições com alguns amigos, de preferência que estejam passando pelo mesmo momento que você, fazendo um mestrado ou doutorado. Outros amigos poderão ser super ótimos em te apoiar, também, mas provavelmente será melhor tomar um chopp com eles do que falar sobre questões e dificuldades específicas do trabalho acadêmico, a não ser que eles também já tenham passado por isso.
- Sua família não vai te entender o tempo todo. É, quando você deixar de ir ao aniversário da sua prima porque tem que finalizar um artigo ou à festinha do seu sobrinho porque está estudando, nem todo mundo vai entender. Alguns parentes acharão que você exagera, estuda demais, e questionarão aonde isso vai te levar. Ninguém melhor que você para saber aonde quer chegar, e essa meta deve estar com você o tempo todo, para não te deixar desistir. E sim, nós abrimos mão de muitas coisas para estudar. Muitas vezes, estamos concentrados e nao queremos ser interrompidos; é bastante difícil para quem não está vivendo o mesmo entender isso! Mas, temos que insistir, explicar… e saber que mesmo assim haverá quem não compreende.
- Seu casamento ou namoro poderá entrar em crise. Este é um ponto bastante delicado e que merece atenção. Se você tem marido/esposa/companheiro/companheira ele/ela continuará esperando que você tenha um tempo para ele/ela durante o seu mestrado. E a gente tem que dar um jeito de ter esse tempo, o que não é sempre fácil. No meu caso, fiquei tão envolvida com minha pesquisa que muitas vezes não queria parar de ler ou escrever, o que me causou uma certa crise no meu relacionamento, mas ela foi contornada e passou, rs, ufa. Tive dificuldade em dividir meu tempo entre estudar, escrever e sair, estar com meu marido e com as pessoas em geral. Mas não me arrependo; precisei de tempo para dominar um pouco mais o assunto da minha dissertacão até me sentir mais confortável com ele (era um assunto totalmente novo para mim), e durante esse tempo me isolei legal, estudava muito, muito mesmo. E ele acabou entendendo também que valeu muito a pena.
- É preciso se preparar financeiramente. Bom, mestrado consome muito tempo. Então, se você trabalha por conta própria, talvez tenha que reduzir seu ritmo para dar conta de estudar, o que poderá impactar também em uma redução de ganhos. Se você tirar licença não-remunerada, precisará se programar para os gastos que terá naquele período. O mesmo vale caso vá ficar sem trabalhar para se dedicar ao mestrado. É preciso ter em mente que as contas não param de chegar, mas também reservar uma graninha para livros (no meu caso, os livros que usei eram caros e vieram todos do exterior, e meu orientador me ajudou demais com isso, me emprestando vários; colegas do grupo de pesquisa também), idas a eventos para apresentar trabalhos etc. Bolsas ajudam demais, demais mesmo e sou grata à que tive, da CAPES; sem ela não teria conseguido. O problema é que as bolsas aqui no Brasil não dão conta de pagar as despesas totais de quem mora em cidades como o Rio de Janeiro…
- É preciso cuidar para não engordar. Quase todos os meus amigos que fizeram mestrado e doutorado engordaram bastante no período em que estavam estudando, justamente por ficarem muito tempo sentados, o que, relatam, os fazia beliscar toda hora. Eu não tenho o hábito de beliscar e sou bem chata com minha alimentação, o que pode ter me ajudado a manter o peso durante o processo. Também aprendi a fazer almoços saudáveis hiper rápidos, por pura necessidade; não que eu não goste de cozinhar, mas ter que cozinhar seu almoço todos os dias, obrigatoriamente, pode ser um bocado maçante. Aí você acaba recorrendo ao macarrão, a alguma besteira.. e engorda. Então, achei muito bom aprender a fazer comidas rápidas e que ajudavam na dieta. Manter uma rotina mínima de exercícios também ajudou, claro. Lembre-se também de beber água, bastante água.
- Não podemos nos afastar de nosso trabalho por muito tempo. Uma coisa que achei fundamental durante o processo de escrita da dissertação foi isso: eu não podia me afastar do texto por mais de dois dias, caso contrário quando retornasse demorava a me reconectar com o trabalho e perdia muito tempo nisso. Às vezes a gente se afasta não por procrastinação, mas porque tem outros afazeres (e eu não tenho filhos; admiro demais quem os tem e ainda assim consegue estudar!). Então, acho que vale a dica de não deixar de olhar para a dissertação um pouquinho todo dia; pode ser um pouquinho só mesmo, mas acho que vale muito não deixar de fazer isso para não perder a conexão com o trabalho. Eu também procurava ler algo relacionado à pesquisa todo dia, mesmo que fosse final de semana e coisas do tipo.
- Temos que nos afastar do nosso trabalho às vezes. Isso também é verdade: saber a hora de descansar, deixando o trabalho de lado um pouco, para quando voltar a ele estar com a cabeça fresca e conseguir sair-se bem, render bem. Você saberá a hora de descansar, o importante é respeitá-la.
- O trabalho estará sempre com a gente. Estou passando este carnaval depois de ter defendido, e me lembrando o tempo todo de todos os feriados que passei com mil leituras na cabeça, escrevendo, estudando etc; mesmo quando não estava fazendo nada disso, eu estava escrevendo e estudando mentalmente. O trabalho nunca sai da gente; minha terapeuta compara o processo de produção de uma dissertação ou tese com uma gestação: enquanto estamos com o trabalho “na barriga”, onde quer que vamos e o que quer que fazemos estamos com o trabalho junto da gente!
- Valorize o que você fez. Cuidado com as crises do tipo “putz, meu trabalho não tá bom, que porcaria” etc. Em pessoas ansiosas, é comum às vésperas de uma entrega de trabalho começar a achar que ele está ruim, péssimo etc. Cuidado. Você se dedicou, e sabe que se dedicou? Então, confie nisso. E tenha em mente que não existe dissertação nem tese perfeita, existe dissertação e tese defendida! Li isso em algum post do incrível blog da professora Karina Kuschnir, se não conhece visite-o: https://karinakuschnir.wordpress.com/
- Se estiver ficando ansioso/a ou estressado/a demais, procure ajuda. É muito comum estudantes de pós-graduação passarem por grandes problemas psicológicos, e é preciso estar atento a isso e acender a luz amarela quando a coisa complicar. Procurar terapia, aceitar que precisa de ajuda é essencial para a sua saúde mental. Cuide-se, em todos os sentidos. Conheça-se: autoconhecimento é tudo nesta vida. Precisamos dele para nos entender melhor, para saber quando estamos bem e quando não estamos. Mas precisamos também não ser orgulhosos demais a ponto de não pedir ajuda quando ela é imprescindível!
- Aproveite o processo. Mesmo que eu tenha passado por momentos em que pensei em desistir, momentos em que ainda não sabia bem qual pesquisa faria, momentos de aflição, de cansaço etc, posso dizer que meu mestrado foi muito prazeroso. Foram dois anos excelente da minha vida, em que aprendi muito, convivi com excelentes colegas, cresci pessoal e profissionalmente, ganhei amigos muito bacanas e me realizei de maneiras diferentes, muito bacanas. Creio que pode ser um período muito rico, até mesmo porque experiência boa não é aquela que é tranquila e positiva o tempo todo, mas aquela em que vamos superando obstáculos, crescendo junto com o desenrolar da história… pelo menos é nisso que acredito.