É preciso reduzir a distância da educação a distância

A educação a distância é capaz de gerar muitas oportunidades e abrir um sem-número de possibilidades. É uma modalidade que tem muito a crescer. No entanto, considero essencial que tenhamos um posicionamento crítico e reflexivo em relação ao uso das tecnologias digitais na educação, de um modo geral, incluindo-se aí a EaD.

A ideia da “distância” na EaD me incomoda, em um certo sentido; penso que devemos reduzir a distância da educação a distância, digamos assim. É importante nos preocuparmos para que, no espaço virtual da educação a distância baseada em tecnologias, não desapareçam as subjetividades, as particularidades de cada aluno e de cada professor. Cada um que participa do processo de ensino-aprendizagem carrega um olhar, uma série de experiências, muitas expectativas, ansiedades, filosofias. E isso tem um valor enorme para que aconteça uma educação humanizada, inclusiva e rica em vários sentidos.

Quando o ensino é presencial, essas subjetividades naturalmente aparecem, pois alunos e professores levam os seus corpos, a sua presença física para o ambiente de aprendizagem. Já a experiência restrita ao online, na modalidade a distância, envolve o risco de separar o sujeito de seu corpo – o qual é parte essencial do conjunto cognitivo de um indivíduo, apesar de às vezes isso ser esquecido (vide as reportagens sobre como O CÉREBRO aprende, O CÉREBRO se emociona, mas… o cérebro não está sozinho nessa…! É o corpo todo que vai junto com ele!).

Se há apenas o ambiente online para a aprendizagem, essas especificidades ficam escondidas, prejudicadas pela pasteurização que tantas vezes emerge da redução de indivíduos a logins. Especialmente quando se trata de um processo voltado para uma educação para a vida, ou seja, para a formação dos estudantes de um modo amplo, creio que isso pode ser bastante prejudicial. Talvez seja menos danoso no caso do ensino de uma habilidade mais focada na técnica, na aplicação imediata.

Soma, e não substituição

Diante disso, o caminho que me parece mais interessante para somarmos as potencialidades das tecnologias com a manutenção dessas importantes trocas de experiências é o da união de experiências online com experiências offline, sejam aulas, palestras, encontros, treinamentos, enfim.

Para diminuir a distância da educação a distância, também creio ser preciso oferecer apoio e incentivo ao aluno, de forma permanente. Estudar a distância, afinal, sempre exige uma dose maior de disciplina, organização, concentração e capacidade de priorização por parte do estudante. Ajudá-lo a evoluir com relação a essa organização e planejamento pode, então, contribuir para manter esse aluno interessado, confiante e motivado.

A motivação pode ser ainda maior quando o estudante encontra um ambiente virtual de aprendizagem intuitivo, que funcione bem, e ao mesmo tempo seja acolhedor; quando, nessa experiência virtual, ele encontra ferramentas bacanas e um conteúdo ao mesmo tempo envolvente, bem apresentado, claro e objetivo. E esse esforço de colaborar com a experiência do aluno e de apoiá-lo em sua aprendizagem a distância tem como pilar fundamental justamente o conhecimento que se tem desses alunos, que vem da convivência presencial com eles. Então, o online e offline retroalimentam-se. Um não deve substituir o outro.

O potencial das tecnologias digitais na educação a distância não é de substituição das capacidades humanas, mas de ampliação dessas capacidades. 

As iniciativas já existentes no sentido da união entre educação e tecnologias – cursos online, e-books e outros materiais digitais, ambientes virtuais de aprendizagem, o uso do machine learning em plataformas adaptativas, a gamificação de plataformas etc – têm sido essenciais para consolidar essa parceria entre educação e tecnologias digitais.

No entanto, educação e tecnologias podem ser aliadas mais fortes ainda se, por exemplo, conseguirmos minimizar dificuldades relacionadas à democratização do acesso à educação, utilizando as tecnologias digitais para isso. Não devemos perder de vista que essas tecnologias podem, ao mesmo tempo, contribuir para essa democratização ou causar mais problemas nesse sentido, uma vez que, se elas ampliam as possibilidades de aprendizagem e acesso à informação, isso precisa idealmente ser para todos, não apenas para alguns – caso contrário, a defasagem entre quem tem o acesso e quem não tem será ainda maior.

Acredito que a principal forma de aumentar e tornar mais eficaz ainda essa relação entre a educação e as tecnologias, de modo geral, é conhecendo as implicações das tecnologias digitais a nossa sociedade, analisando os seus impactos, de forma profunda. Por exemplo, precisamos pensar na nossa relação com a inteligência artificial.

Há um enorme medo de que os robôs nos substituam, mas será que é por aí?

Em alguns casos, máquinas trabalharem por nós não parece ser um problema, pelo contrário, já que robôs e sistemas podem desempenhar certas tarefas de um modo até mais eficiente que humanos, sim – podem fazer inúmeros cálculos em pouco tempo, apenas para citar uma das situações. Mas, há outros casos, aqueles que envolvem as experiências nas quais não podemos prescindir da nossa relação direta com o mundo, com as outras pessoas, que representam algo único, algo que nos ajuda a crescer; esses casos não podem ser protagonizados ou pautados por algoritmos e robôs.

Algoritmos não podem resumir ou restringir as nossas experiências, e robôs não podem ter experiências como nós temos, e que são imprescindíveis para o nosso crescimento. Erramos, acertamos, sofremos, comemoramos, tentamos de novo: isso é humano. Criamos, testamos, compartilhamos com os outros o que pensamos: isso é humano.

Muito do medo das tecnologias, acredito, vem do receio da perda de espaço, vem do medo de que as máquinas nos tornem obsoletos. Na verdade, devemos pensar em ampliação, parceria, novas possibilidades para quem aprende e para quem ensina.

Materialidades Digitais

Normalmente, quando pensamos em um livro de papel versus um livro digital, pensamos na materialidade desses artefatos: um livro impresso nós podemos manusear, passamos as páginas, sentimos seu cheiro etc. No caso de um livro digital, o qual lemos por meio de um e-reader, no computador, num tablet ou no smartphone, perdem-se essas experiências. O conteúdo digital não é material. Será mesmo?

Hoje, aqui na Universidade de Coimbra, onde estou realizando um período de investigação, assisti a uma palestra, ministrada por Serge Bouchardon, que desafia essa premissa. Ele levou o público a pensar sobre como a mídia digital proporciona ainda mais manipulação do que a mídia física, e isso se dá porque, no caso do online, o próprio conteúdo pode ser manipulável.

Desse modo, é como se os livros físicos tivessem uma certa materialidade e os digitais, outro tipo de materialidade. 

Há todo um gestual que é inerente às mídias digitais; desde quando teclamos no computador até quando usamos o mouse ou deslizamos o dedo na tela de um celular. E por que fazemos isso? Para manipular o conteúdo que ali está. Segundo Bouchardon, que atua também na área de mídias digitais na educação, a compreensão dessa gama de gestos ligada ao mundo digital deve ser parte da alfabetização digital.

Para experimentarmos tais ideias de forma prática, o pesquisador apresentou alguns de seus projetos, como o Loss of Grasp – que mistura arte, design, poesia, literatura e recursos digitais de uma maneira interessantíssima. Em quais circunstâncias nós perdemos o controle sobre nossas vidas? É sobre isso que o projeto nos leva a pensar, por meio de uma viagem pela materialidade digital: clicamos sobre as frases, e elas se movem; luzes coloridas nos dão a sensação da vida nos escapando ao controle; em breve perdemos o rumo do cursor e não sabemos por onde anda o mouse de nosso computador.

Quando a palestra foi aberta a perguntas, questionei o professor a respeito de como podemos ter mais sensações materiais com livros que lemos em e-readers (que, na minha opinião, são práticos, mas sem graça em termos de experiências que envolvem a manipulação física). E ele nos disse que os designers deverão resolver isso com sua criatividade 😉

Em tempo: a Universidade de Coimbra tem um doutoramento inteiro dedicado às materialidades na literatura; os alunos são designers, egressos da licenciatura de letras e de outras áreas; fica aqui o link para quem quiser conhecer.

Há ainda outras experiências indicadas por Bouchardon:

http://bram.org/toucher//index.htm

https://bouchard.pers.utc.fr/storyface/

Imagem do post: Julius Drost @ Unsplash

 

 

Conteúdo digital para a educação: uma breve reflexão

Desde 2005, quando me graduei em jornalismo, tenho trabalhado produzindo conteúdo para a Web. Passei por projetos de vários tipos, em várias empresas, com temas variados. Comecei minha carreira num site de notícias que hoje seria considerado uma espécie de startup, termo que não se usava na época. Trabalhei no British Council, na Infoglobo por quase quatro anos, fiz consultoria para a Petrobras, passei por agências digitais, trabalhei com intranet na Oi, fiz projetos para a Fundação Roberto Marinho, o Ibmec e, mais recentemente, a startup de educação Tamboro. Faço projetos para o Museu do Amanhã. Volta e meia, escrevo reportagens para o site Porvir. Entre todos os temas com os quais lidei, a educação me fisgou.

O primeiro contato que tive com a educação profissionalmente foi há 11 anos, quando escrevi uma reportagem, que ganhou dois prêmios de jornalismo, sobre déficit de atenção e hiperatividade, e com ela pude conhecer vários professores e pais de crianças que me contaram das dificuldades delas enquanto alunas, e também me revelaram o quanto a vida dos estudantes ficava mais difícil por conta da incompreensão daquele jeito “agitado e desatento” deles. Depois, trabalhei em um projeto de educação para a sustentabilidade para o British Council, onde era analista de comunicação digital. O projeto me possibilitou vivenciar diversos ambientes da educação, espaços de educação formais e não-formais, todos muito além do online – apesar de usarmos blogs, redes sociais e o site do projeto para comunicar e educar sobre meio ambiente. Frequentávamos as escolas, falávamos com os alunos, professores e coordenadores, conversávamos para entender as necessidades deles.

Na Infoglobo, coordenei O Livreiro, uma rede social voltada para apaixonados por livros. Meu primeiro trabalho foi ir à FLIP, a partir de uma narrativa que eu mesma criei e a chefe aprovou: o Mochilão do Livreiro. A ideia era mostrar a FLIP para quem era estudante, ia com pouca grana para Paraty ou já morava lá e todo ano via a FLIP acontecendo em sua cidade, mas sem atividades voltadas para jovens fora dos círculos intelectuais de debates. De mochila, mesmo, saíamos – em equipe – pela cidade distribuindo livros, promovendo ações, sentando em rodas para mostrar e-readers para crianças e adolescentes e ler livros com eles – ações offline, mas que tinham tudo a ver com a nossa rede, que era online.

Hoje, faço mestrado em educação, e sigo amando cada vez mais unir a comunicação digital à educação. Adoro produzir conteúdo digital para projetos educacionais, principalmente quando percebo que eles vão ter uma real relevância para a galera que terá acesso a eles. Mas, quanto mais digital o mundo fica, quanto mais digitais todos nós ficamos, mais eu penso o quanto nós temos que olhar para o offline, que é de onde viemos, é parte do que somos. Somos online e somos offline: tudo junto e misturado. Andy Clark, filósofo britânico que é figura central em minha pesquisa de mestrado, diz que somos ciborgues naturais, seres híbridos, porque o nosso acoplamento com as tecnologias é natural. Híbridos que somos – e eu concordo com ele – precisamos nos valer desse hibridismo, conversar, viver; fazer bom conteúdo é, afinal, ouvir as pessoas, é se enredar por narrativas, histórias, conhecer novos espaços, estar aberto a aprender, a se surpreender. Precisamos manter viva a curiosidade, e estar dispostos a cometer erros, mesmo que isso fique escancarado nas redes sociais – e daí, quem nao erra?

Na educação, para produzir bom conteúdo em meio às novas tendências tecnológicas, é isso que percebo: que não podemos perder a vontade de surpreender e de ser surpreendidos, e que não podemos esquecer que fazemos conteúdo para pessoas. Tudo o que falarmos e escrevermos terá um impacto super importante na vida delas. Cada “login” que se conecta para estudar online num ambiente virtual de aprendizagem é uma pessoa, é alguém cujo tempo dedicado aos estudos não se resume ao “time on site”; cujas dificuldades ou aptidões provavelmente não estão todas refletidas nas métricas vindas da aprendizagem adaptativa baseada em machine learning; é um aluno querendo aprender, um ser híbrido, online e offline o tempo todo, mas de carne e osso. Somos ciborgues naturais fazendo educação para ciborgues naturais. Mas o lado humano desse hibridismo não pode ser esquecido, em momento algum…!

 

Imagem: Giu Vicente @ Unsplash

Inteligência Artificial Humanística

Neste vídeo do TED, Tom Gruber, criador da Siri (assistente pessoal baseado em inteligência artificial da Apple) fala sobre como o caminho da inteligência artificial é amplificar e potencializar as capacidades humanas, gerando conexões e facilitando nossas vidas. É nisso que acredito: não se trata de substituir humanos em atividades que desenvolvemos bem. As máquinas podem nos ajudar com aquelas tarefas nas quais não somos tão bons, nos liberando delas para que nos dediquemos a outras coisas. A cognição humana se expande quando as tecnologias cognitivas se expandem…

Foto do post: Greg Rakozy @ Unsplash

Vício em tecnologia: o que estamos fazendo?

Escrevi uma matéria sobre o uso da tecnologia de inteligência artificial da IBM (chamada Watson) no Museu do Amanhã do Rio de Janeiro e na Pinacoteca de São Paulo. No Museu do Amanhã, o recurso localiza-se ao final da exposição principal, que é permanente. Para entender com detalhes como funciona e ler outros depoimentos e entrevistas, peço que o leitor visite a página da matéria no site Porvir, onde foi publicada.

O que venho abordar aqui neste post é uma das reflexões que a apuração da matéria me trouxe. Para levantar as informações, fui conhecer pessoalmente a tecnologia no Museu do Amanhã, batizada de IRIS+. Lá, conversei com especialistas e visitantes, entre eles um garoto de onze anos, para colher depoimentos para a reportagem. Eis que, ao lhe perguntar o que o afligia, ele respondeu: o vício. Tímido, foi bem sucinto em sua resposta, mas nem precisava mesmo falar muito, impactante que soou aquela afirmação para mim. Para completar, lhe perguntei o que ele havia aprendido ali, naquele dia, e ele me contou que se deu conta de que a tecnologia não é so vicio, mas pode ajudar as pessoas, também.

Tela da IRIS+, inteligência artificial do Museu do Amanhã

Talvez os familiares e professores desse menino já tenham chamado a sua atenção por ele estar “pendurado” no tablet, videogame ou no celular (como acontece com o meu enteado, esse da foto do post, ou outras tantas crianças que conhecemos). Talvez não. Mas o fato é que, caso esteja acostumado a ouvir esse tipo de comentário, ele é somente um em meio a um mar de dependentes das tecnologias, sejam eles jovens ou não. Muitas vezes, quem chama a atenção das crianças também está no caminho de se viciar, ou já é viciado. Ao menos, ele demonstrou uma postura consciente a respeito da questão.

Não vou, neste post, entrar no mérito de discutir o que caracteriza vício ou dependência. Há quesitos médicos para identificá-los? Sim. Mas, aqui, vou me limitar à faceta do vício que é aquela do bom senso e do bem estar (talvez a primeira barreira a ser ultrapassada rumo a uma dependência maior): se está nos fatigando, nos esgotando, roubando nosso tempo de atividades importantes, fazendo as pessoas chamarem a nossa atenção… tem grandes chances de ser vício. Foi assim com Catherine Prince, que escreveu este artigo para o New York Times. Ela concluiu que precisava encontrar uma maneira mais saudável de se relacionar com seu smartphone.

Lembro que fiquei absolutamente impressionada quando, ao assistir “Lo and Behold, Reveries of the Connected World”, de Werner Herzog (sobre o qual já comentei aqui antes) soube que adolescentes usam fraldas porque se recusam a levantar para ir ao banheiro durante as intermináveis partidas de videogame que disputam, sem poder correr o risco de perder. O documentário versa sobre essas e outras impugnações do mundo digital, sem deixar de destacar, por outro lado, algumas das grandes maravilhas fascinantes da nossa vida tão conectada.

“Heroína eletrônica”

Em 2014, um estudo da Universidade de Hong Kong revelou que cerca de 6% da população mundial seria viciada em internet. Na China, existem centros de reabilitação para dependentes da rede, que são como acampamentos militares, como conta esta matéria do Business Insider. No vídeo abaixo, dá para sentir um pouco do clima de um local como esses:

Nesse minidocumentário, no qual os games aparecem como os campeões de vício, um especialista refere-se aos jogos como uma espécie de “heroína eletrônica”. Ele fala do tal medo (preocupante, para dizer o no mínimo) que os dependentes sentem quanto a pausar para ir ao banheiro e perder o jogo. Muitos aparecem fumando enquanto jogam, o que mostra outro vício associado. Outros não se identificam como viciados. Os pais são aconselhados quanto às formas de lidar com o problema dos filhos. O especialista questiona: “Vocês sabiam que eles se sentem sozinhos?”

Conectados, mas sozinhos

A pesquisadora Sherry Turkle reforça esse argumento. Estamos hiperconectados, mas… nunca estivemos tão sozinho, diz ela, que é autora de vários livros sobre o tema e professora no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

As pessoas deixam de se comunicar num mundo em que só se fala em comunicações e no qual as redes sociais online proliferam. Batem seus carros porque estão lendo mensagens no celular, ou checando suas redes sociais. Vidas são perdidas – no sentido literal ou não – em função desse vício. Perdem-se vidas, perde-se tempo. Ganha-se tempo com as tecnologias, também, é claro; sou uma entusiasta delas, afinal. Mas faço questão de criticá-las. Penso ser fundamental que todos nós façamos isso, pois somos os principais interessados. Tecnologias são feitas por nós e para nós, então para que nos interessam? Como podem nos ajudar, ampliar nossas capacidades, contribuir para que evoluamos como sociedade? Mais do criticar, isso é buscar aprofundamento, tentar compreender a função das tecnologias, o que está por trás delas, o que nos move para que tentemos tanto desenvolvê-las, aonde queremos chegar, em que elas nos transformam. Quem somos com as tecnologias? Quem seríamos sem elas? Somos dominados por elas ou as dominamos? #ficaareflexão

Imagem do post: foto de Luís Berbert

Os museus e a inteligência artificial

Recentemente, tive o prazer de entrevistar profissionais do Museu do Amanhã e da Pinacoteca de São Paulo, além de um especialista da IBM, para escrever sobre o uso da inteligência artificial nesses dois museus. Trata-se de um recurso múltiplo, capaz de aproximar o público das exposições e envolver os visitantes em uma experiência diferente.

Há muitas incertezas no cenário do uso da I.A., seja em museus ou em qualquer contexto. Mas não há dúvidas de que a tecnologia abre vários caminhos novos para que o público explore formas inovadoras de se relacionar com as exposições nesses espaços de uma maneira mais ativa.

As entrevistas resultaram em uma matéria publicada no site Porvir.

Leia a matéria 

Foto do post: Guilherme Leporace/Museu do Amanhã

Vida, ciência, tecnologia: seleção de reportagens e artigos

Train PhD students to be thinkers not just specialists

Aqui no Brasil, imagino que bastante gente não saiba que a sigla PhD quer dizer ‘Doctor of Philosophy’. Pode ser até porque seu significado, na prática, anda deixado de lado. A ideia dos pesquisadores Gundula Bosch e Arturo Casadevall, que estão por trás da R3 Graduate Science Initiative na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, em Baltimore, Maryland, é fazer exatamente esse esforço: o de colocar o Ph de volta nessa sigla, para valer. Os pesquisadores alertam quanto à falta de pensamento crítico e de reflexão na formação de pesquisadores, e foi para mudar isso que criaram o programa.

Sem educação, os homens “vão matar-se uns aos outros”, diz António Damásio

O autor lançou um livro novo, “A estranha ordem das coisas”, que conta ser a continuação de “O erro de Descartes”, publicado há 22 anos. Para quem deseja saber mais sobre o papel das emoções nas decisões que tomamos, esse autor é importantíssimo.

Empresas tecnológicas barram pornô manipulado por inteligência artificial

Uma das preocupações que surgem com o desenvolvimento das tecnologias de inteligência artificial é a manipulação indevida de nossos dados e imagens. Imagina se seu rosto fosse “encaixado”, por meio de uma tecnologia, no corpo de atores/atrizes em um filme pornográfico? Aconteceu com algumas atrizes famosas, como mostra essa matéria do El País. E você aí achando que o maior perigo são os robôs.. que nada, são os humanos, mesmo…

A doença de Alzheimer não pode com a música

A música pode ser, para o cérebro, uma memória muito diferente das demais. Por isso, pessoas com Alzheimer são capazes de cantarolar canções antigas, apesar de terem dificuldade com outros tipos de conteúdo. Essa matéria fala sobre isso.

The “Father of Artificial Intelligence” Says Singularity Is 30 Years Away

Em cerca de 30 anos, as máquinas serão muito mais hábeis e rápidas que nossos cérebros, a tecnologia será mais barata, e assim teremos a singularidade tecnológica. É nisso que acreditam vários especialistas em inteligência artificial. Como venho repetindo por aqui, há pesquisadores que defendem que a questão não está apenas no cérebro, então… será que a singularidade tecnológica vai ser atingida mesmo somente com os devices feitos à semelhança de nossos neurônios e suas conexões? Bom, essa é mais uma matéria que diz que sim.

Imagem do post: Joel Filipe @ Unsplash

 

 

 

 

Vida, ciência, tecnologia: seleção de reportagens e artigos

Vejo tanto conteúdo bacana sobre inteligência artificial, tecnologia & seus impactos, vida digital & sociedade, robótica e afins, que vou tentar manter aqui no blog um espaço para seleções (ainda não sei se semanais, mensais ou de acordo com minha disponibilidade…) de artigos e matérias voltados para o tema; assim, eu não perco os links que tanto me interessaram e ao mesmo tempo os compartilho com os amigos leitores também conectados com esse universo. Importante destacar que não necessariamente concordo com tudo (provavelmente não!), mas pretendo trazer opiniões e pontos de vista diversos, para justamente formarmos um debate. É nisso que acredito, afinal.

O reconhecimento facial abre caminho para o pesadelo de George Orwell

Tudo tem, pelo menos, dois lados. Esse artigo da seção de Inteligência Artificial do El País, na verdade uma subseção da editoria de Tecnologia do veículo, mostra como podem ser os desdobramentos advindos da tecnologia de reconhecimento facial, uma vertente da I.A. bastante promissora e que não se limita à ficção faz tempo.

CEOs should do these three things to help their workforce fully embrace AI

Este é um conteúdo patrocinado pela Accenture, publicado no site Quartz; recomendo, portanto, que seja lido criticamente, uma vez que se uma empresa bancou um conteúdo sobre o tema… ao menos devemos ser analíticos ao ver os pontos destacados, certo? Considero alguns deles bem interessantes, como o fato de que o impacto maior das máquinas no mercado de trabalho não ser provavelmente tanto na quantidade de empregos, mas no conteúdo das funções realizadas.

O que é futurismo?

Você sabe o que ;é? O termo me chamou a atenção quando trabalhei no Museu do Amanhã, onde volta e meia ouvia alguém mencioná-lo. Esse artigo do Draft, de agosto do ano passado, ajuda a entender.

A.I. Is Doing Legal Work. But It Won’t Replace Lawyers, Yet 

O artigo não é novo, foi publicado há quase um ano, mas eu só o descobri esta semana graças a um post de uma amiga no LinkedIn. Trata de como a I.A. (ao menos ainda) não vai substituir o trabalho dos advogados, mas por enquanto poderá fornecer recursos para que suas rotinas se tornam mais rápidas e eles possam focar em trabalhos mais profundos, e necessários. A reportagem menciona este artigo: Can Robots Be Lawyers? Computers, Lawyers, and the Practice of Law, de Dana Remus e Frank Levy.

O impacto do ensino da arte (ou da falta dele) na percepção do mundo

Neste artigo, também não recente – publicado no site Fronteiras em 2015 – Camille Paglia fala sobre como faz falta o ensino da arte, que segundo ela seria um importante contraponto para a sociedade essencialmente digital em que vivemos.

Imagem do post Clem Onojeghuo @ Unsplash

 

 

Robôs: tecnologia corporificada?

O robô da foto acima é o Asimo, criado pela Honda. A primeira versão dele foi lançada em 1986. O Asimo anda, corre, sobre escadas, segura objetos, entende de comandos de voz; é um robô cada vez mais completo. Será mesmo?

Apesar de fazer tudo isso, Asimo consome 16 vezes mais energia que nós, humanos, para andar. Essa ineficiência energética decorre do fato de que, nesse robô, tudo é uma questão de processamento central: todo movimento que ele realiza, todas as suas ações são fruto de um design baseado em algoritmos, que resolvem questões relacionadas às funções da visão, navegação e do equilíbrio desse robô; os algoritmos passam instruções detalhadas para a máquina seguir.

Além da ineficiência energética, um outro problema que o Asimo enfrenta relaciona-se ao seu equilíbrio: ao caminhar sobre uma superfície plana, ele dá conta do recado. Mas, se precisar fazer movimentos para se resguardar de oscilações no chão, por exemplo, ele falha tentando realizar cálculos que o mantenham de pé.

Andrew D. Wilson é um cientista cognitivo interessado no estudo de robôs que conseguem aproveitar o ambiente para se saírem melhor nas tarefas para as quais são designados. Ele propõe em um artigo publicado no Psychology Today a comparação do Asimo a um outro robô, chamado Big Dog, desenvolvido pelo Leg Lab do MIT*. Contando com membros elásticos, ligamentos bem localizados, caudas que se movem corretamente por causa da forma como foram construídas, e não porque há um processador central no comando, diz Wilson, Big Dog se sai muito melhor do que Asimo no quesito movimentos corporais.

A forma como Big Dog foi pensado e construído voltou-se para o aproveitamento máximo do ambiente “real” (não de laboratório) com suas irregularidades e seus obstáculos. Esses elementos do ambiente, em conjunto com o “corpo” construído para o robô visando o melhor desempenho e fundamentado em suas características físicas, dá origem a um sistema dinâmico em que as partes se complementam. O resultado é que o Big Dog se sai muito bem em situações imprevisíveis; por exemplo, se cai, levanta; se é empurrado, seu “corpo” reage, e por aí vai.

O que esses robôs nos ensinam?

“A diferença entre os dois robôs é que o Asimo representa mentalmente suas habilidades, enquanto o Big Dog as corporifica”, diz Wilson. Isso significa que o Asimo precisa de um intrincado maquinário computacional, gerenciado por um processador central, capaz de apresentar um algoritmo para cada função que ele venha a exercer. Seu “corpo” é como se fosse um apêndice, um apoio; assim, para Wilson, o Asimo nao é de fato uma tecnologia corporificada: para sê-lo, precisaria de fato utilizar seu corpo e, na dinâmica com o ambiente, potencializar suas capacidades físicas. Esse é o caso do Big Dog e de muitos outros robôs, uma vez que essa tem sido a tendência no campo da inteligência artificial e da robótica.

Imagem: http://robohub.org/

O design do Asimo não reflete a forma como nós, humanos, funcionamos. Somos muito mais como o Big Dog.Nosso corpo aproveita o ambiente de diversas formas, algumas delas já exploradas aqui neste blog. Basta, para isso, nos observarmos andando a pé, correndo em ladeiras, pedalando bicicletas, andando de patins, enfim. Olhando para a forma de estarmos no mundo, de fato, poderemos ser melhores em produzir robôs. Mas para isso é necessário acreditar que nosso sistema cognitivo não se limita ao cérebro e que, acoplados ao ambiente, formamos com ele sistemas dinâmicos. Sobre isso, leia mais neste meu post aqui.

*Não encontrei, no site do MIT, o robô Big Dog, mas o artigo de Wilson é de 2012, então ele pode ter dado lugar a outros projetos (realmente não sei). De qualquer forma, a tendência no mundo da robótica é bem representada pelo Big Dog e por outros que você vê no MIT e em outros laboratórios, como os robôs-insetos da Barbara Webb.

 

 

 

 

Amor… artificial?

Imagem: https://cdn2.hubspot.net/

O uso da internet para encontrar um amor não é recente. Todos conhecem – e muitos usam – os sites de relacionamentos, os apps como o Tinder e tantos outros.

Reportagem recente do Daily Mail traz a previsão de que quatro em cinco pessoas solteiras irão procurar por um amor na internet até 2050. Além disso, a reportagem destaca que deverá haver um aumento na idade média de quem buscará por parceiros pela Web – o que parece natural, devido ao fato de que estamos vivendo cada vez mais (temos que cuidar da humanidade para continuarmos assim, no entanto…!).

O curioso é que também até 2050, prevê o pesquisador britânico David Levy, autor de “Amor e Sexo com Robôs”, teremos a possibilidade de nos casar legalmente com robôs (!!!).

Levy acredita que relacionamentos de humanos com robôs serão uma realidade porque até lá a nossa relação com as máquinas já estará bastante natural…

Pode até ser.

Porém… há muitas questões aí, é claro.

Mas vou falar de apenas uma: quem pesquisa inteligência artificial e robótica e também está ligado às questões filosóficas provavelmente conhece o hard problem da filosofia (da humanidade?!): o da consciência.

A ciência ainda não conseguiu concluir como e por que temos consciência.

Consequentemente, também não há previsão para que robôs tenham consciência.

Então, por mais que uma máquina seja capaz de reproduzir o cérebro humano com perfeição, lhe faltará algo. Esse “algo”, que tem a ver com a nossa percepção, ainda envolve bastante mistério.

E aí, talvez caiba a pergunta: você namoraria alguém, melhor dizendo, um ser sem consciência?

Neste link do Guardian há uma boa reflexão sobre que tipo de relacionamento as sex-robots poderiam substituir…

Imagem: Michael Prewett @ Unsplash