Pense antes de compartilhar

No documentário Eis os delírios de um mundo conectado (Lo And Behold: Reveries of the Connected World), de Werner Herzog, que assisti no Festival do Rio, um pai de família dá um depoimento dizendo que nunca mais teve uma noite de sono em paz depois que chegaram ao seu e-mail imagens do acidente de carro que matou sua filha, e que ele não presenciou. 

O pai guardava na mente uma certa imagem, já difícil de lidar, é claro, da cena pela qual a menina teria passado ao morrer, formulada a partir de uma autópsia. Mas ele recebeu uma foto em seu e-mail e a cena era outra, muito mais dramática. Ele teve a vida arruinada pela perda da filha e, depois, por essas imagens, que muito circularam e acabaram encontrando o infeliz destino da caixa eletrônica dele.



 
Pensei: para que esse conteúdo foi passado adiante? E por quê?

Foi quando eu estava pensando sobre esse assunto que, procurando por um determinado TED no YouTube, encontrei a palestra de Monica Lewinsky. Nunca tinha assistido a esse TED em que ela se abre e conta a história sob o seu ponto de vista, finalmente. A história que tanta gente se achou no direito de disseminar, ao custo da contínua humilhação sofrida por ela. E, enquanto o assistia, ia fechando alguns circuitos em minha cabeça que haviam sido abertos.


Se você nunca viu o TED Talk de Monica, assista abaixo. [ Mas sugiro que pense antes de se referir a ela como você deve ter se referido durante todo esse tempo. Mude o aposto, ou passe a falar somente o nome dela 😉 ]


Escrevi recentemente um artigo em que mencionava isso, mas, mais uma vez, repito: a internet somos nós.

Somos nós que temos  poder de clicar. De compartilhar. De repercutir. De aceitar ou não aceitar certos conteúdos. De ajudá-los a se fortalecer, contribuindo para que sejam mais visualizados, compartilhados, espalhados; para que, com isso, rendam dinheiro e estatísticas favoráveis a alguns e humilhação, desgraça e tristeza a outros. 


Também somos nós que temos o poder de denunciar ou de interromper um ciclo. Cada um pode ser aquele que mata um conteúdo. Cada um pode ser aquele que decide que dali aquele conteúdo não passa. Opta-se, assim, por passar adiante algo que em nada contribuirá positivamente, que só tende a espalhar dor, exclusão, humilhação e, muitas vezes, pode acabar inclusive incitando crimes, em vez de ajudar a reduzir sua incidência.


Não vou, aqui, listar conteúdos que considero terem esse perfil ou esse potencial. Vale cada um, ao se deparar com um deles, pensar sobre o que faz, escreve, comenta, compartilha. Na vida e na internet, que também – e cada vez mais – é a vida.


Pense antes de comentar, antes de compartilhar, antes de dar ´Like´. Aproveite e conheça o projeto da Monica, no Twitter pela hashtag .