No dia do aniversário de 84 anos da minha querida PUC-Rio recebi o prêmio dado pelo Centro de Teologia e Ciências Humanas à minha tese. O prêmio destaca uma tese de cada um dos departamentos do centro, do qual faz parte o Departamento de Educação.
Conhecendo tantos trabalhos incríveis feitos por colegas super competentes que estiveram comigo nessa caminhada, esse prêmio adquire um valor ainda maior. Aliás, eu devo muito – não apenas aos professores e, claro, ao meu orientador querido, Ralph Bannell – mas a todos os meus colegas incríveis que me incentivaram e me apoiam até hoje. Parabéns a todos nós que trabalhamos para melhorar a educação a cada ano, a cada semana e a cada dia!
O prêmio disponibiliza as teses premiadas na forma de ebooks. Essa edição laranjinha nas minhas mãos é uma impressão do ebook da minha tese, que pode ser conferido aqui.
Obrigada PUC-Rio, obrigada amigos que a PUC me deu e obrigada @edupucrio pelo reconhecimento. ✨⭐️
Todo dia eu pego o metrô e todo dia eu torço para dar tempo de pegar o vagão feminino (às vezes o trem está chegando quando eu desço as escadas e aí eu pego o que dá, na correria). Todo dia torço para que as ruas não estejam tão vazias nem tão mal iluminadas nem tão estranhas nem tão assustadoras nem com homens aleatórios esquisitos quando tenho que passar por elas. Tenho certeza que todas as mulheres que conheço torcem pelas mesmas coisas. Mas por que eu estou falando de vagão feminino e ruas vazias neste post para o qual escolhi a imagem de uma mulher sensual de cabelo rosa?
Essa mulher sensual de cabelo rosa é uma IA. Pois é, ela foi criada para ser uma influencer, porque algumas marcas estavam cansadas do “ego” das influencers reais. E o que isso tem a ver com o vagão feminino? Tem tudo a ver.
Acontece que a gente vive num mundo projetado para satisfazer as necessidades e os prazeres dos homens. E o vagão feminino só existe porque existem homens que acreditam que podem satisfazer suas necessidades com as mulheres que estão indo e vindo no metro. Quem não sabe, pesquisa.
Também as mulheres de IA só existem por isso. Ego dá trabalho, é chato, né? Mulher reclamona. Mulher que dá piti. Mulher que exige seus direitos. Ai, que saco – dizem os homens que acreditam que estamos aqui para saciá-lós. Eles preferem uma boneca inflável… ou uma IA. Bingo!
Este não é exatamente o texto de uma pesquisadora da IA, mas o texto de uma mulher cansada de ver as mulheres acuadas, tristes, nervosas e tentando caber onde definitivamente não cabem. Somos tão grandes. E temos crescido na medida em que alguns caras se reduzem mais e mais. Já repararam? Eles se reduzem até caber no que sempre mereceram: uma mulher que na verdade não existe.
Eu poderia achar ruim as mulheres de IA, e acho, principalmente porque tenho sempre em mente as meninas. Elas, que ainda nem menstruaram e já estão se perguntando por que são feias, quando são lindas. Elas, que se comparam com mulheres de peitos 44 e cintura 36 que nunca existiram. Elas, que sonham fazer plástica, sem saber que esse sonho não é delas. Elas, que cabem onde quiserem, podem sonhar com o que quiserem, e vestir PP ou XGG que podem realizá-los do mesmo jeito. Elas, essas meninas, são a minha principal preocupação enquanto mulher e educadora.
Para as mulheres mães e professoras dessas meninas eu gostaria de dizer o seguinte: deixem essa encheção de saco das mulheres de IA para os homens que gostam de ser enganados. Não gastem muito sua energia com isso. Deixem-nas para aqueles que nos querem caladas. Talvez isso reverbere de forma positiva para nós. Eles se ocupam de idolatrar as bonecas infláveis virtuais, enquanto nós nos ocupamos de ensinar as nossas meninas o valor da voz delas, o valor dos sonhos delas. Vamos combinar assim? Não vamos perder o foco. Alguns homens gostariam que perdêssemos. Assim ficaríamos todas deprimidas, gastando dinheiro com plástica na pele da vagina, no branco do nosso olho ou no buraco do nariz e, tudo isso, caladas. Não precisamos ser perfeitas para mudar o mundo, só precisamos SER. Nós existimos. Eu penso, eu luto, logo eu existo. Um salve às mulheres reais.
Crianças e adolescentes estão viciados em redes sociais e ninguém sabe o que fazer. Jovens estão modificando imagens com o uso de IA generativa (deepfakes) e ninguém sabe o que fazer. Outros sofrem essas novas formas de cyberbulling e ninguém sabe muito bem o que fazer. Outros jogam sem parar para comer, e mais uma vez não se sabe o que fazer. Percebo as famílias sobrecarregadas com essas preocupações. Os professores também.
Enquanto isso, as escolas têm a mesma cara que tinham há não sei quantos séculos. E se discute as razões pelas quais a escola “parou no tempo”.
Mas, olha, é tanto caroço nesse angu que fica até difícil começar a comentar.
Sinceramente – e não é achismo, falo a partir do meu lugar de pesquisadora da educação e também de quem trabalha há 21 anos com comunicação digital – me parece que a sala de aula ter a mesma cara que tinha há séculos não é o nosso principal problema. A escola pode ter a cara que for, mas ela precisa apoiar os jovens na sua formação para viver neste mundo, assim chamado digital. A preparação para viver nesse mundo nao é aprendida porque se tem acesso às mais brilhantes tecnologias, mas porque se tem CONVERSA franca, ESCUTA ativa, DIÁLOGO, acolhimento, orientação.
Claro, uma sala de aula equipada, com tecnologias como ar condicionado, boas mesas e cadeiras de qualidade, e tecnologias digitais como computadores, tablets, livros etc, é maravilhosa para a educação. Mas ela é maravilhosa porque a aprendizagem depende dela para acontecer? Não é bem isso. Claro, uma sala em condições degradantes dificulta o aprendizado. Mas, uma sala de aula bem equipada tecnologicamente é maravilhosa não porque “a escola tem que estar antenada”, mas porque faz com que os alunos tenham perspectiva. Enxerguem o FUTURO. Tenham horizonte. Sintam que PODEM realizar sonhos, ter uma carreira, ser um profissional na área que imaginam. Autoestima, autonomia, a sensação de que pode realizar algo bacana: isso tira o jovem do círculo vicioso das redes sociais – que degradam, matam a autoestima, geram inúmeros transtornos mentais.
Então, precisamos muito de tecnologias educacionais, mas precisamos, e muito, e já, de educação PARA o digital. É preciso parar de ver os jovens como “nativos digitais que já nasceram sabendo mexer” em tecnologias. Podem até ser bons usuários desses dispositivos, sim, sendo apresentados a eles tão cedo. Mas não nasceram sabendo sobre o mundo. Isso se aprende pela experiência. Pela formação. De caráter, de postura, de atitude.
Nem a escola sozinha, nem os pais sozinhos, nem os sistemas de regulamentação da IA sozinhos, nem institutos, ONGs, organizações sozinhas vão conseguir resolver os problemas que advêm da relação humana com as tecnologias. Isso é um esforço conjunto frente a questões para as quais ninguém tem resposta, ainda.
Mas, tem algo que pode ser feito já, e que não depende de ninguém além de você mesmo: aceitar que existe um problema e se envolver com ele. Procurar saber. Acordar. Vamos juntos.
Mês passado, fiz várias conferências sobre IA, dados, algoritmos etc para públicos diferentes. Uma delas, em especial, eu amei fazer e queria destacar aqui: a palestra “Um robô na família? Educação parental em tempos de inteligência artificial”, para os pais e responsáveis pelos alunos do Colégio Ao Cubo.
Eu achei bastante desafiador falar para eles sobre como a IA tem mudado as redes sociais, as plataformas digitais e quais os efeitos de uma “conversa” com um chatbot, que na verdade não é uma conversa como seria entre seres humanos. Falei sobre privacidade de dados, economia da atenção, os enviesamentos nas plataformas, o fato de estarmos “presos” nessas redes e por que razão isso acontece.
Mas o que achei mais desafiador foi procurar uma maneira de apoiar, de fornecer um horizonte para eles, não apenas apontando críticas e problemas mas também ideias sobre o que fazer. Mostrar só os problemas ficaria muito sufocante!
Por isso, foquei a segunda metade da palestra em uma série de ideias e ações possíveis em que eles (e todos nós) podem se envolver frente às novas características das tecnologias digitais e os seus desdobramentos. Com relação à transparência e à ética no uso de dados de crianças e adolescentes, em específico, sugeri que eles se envolvessem nos debates, pesquisassem e ficassem atentos ao que está sendo produzido, discutido e investigado nesse sentido.
A participação da sociedade civil é essencial quando se trata de dados nossos, das nossas crianças, circulando na rede e sendo usados de uma forma nem sempre responsável e capaz de beneficiar as pessoas.
O vídeo da minha palestra está disponível no YouTube do colégio Ao Cubo, neste link aqui. Vou adorar se mais gente for lá ver e me dizer o que achou! Mas, abaixo, deixo para vocês um link não da minha apresentação, mas de um TED de 12 minutos da Nina da Hora, que muito admiro e que explica de maneira simples e objetiva a razão pela qual você deve se envolver nesse debate. Não percam e enviem a todos os amigos e conhecidos. Sério!
#ia#dados#data#privacidade#algoritmos
Imagem do post: Alina Constantin / Better Images of AI / Handmade A.I / CC-BY 4.0
Lidar com a informação faz parte do meu trabalho de jornalista e de pesquisadora, bem como lidar com a desinformação. Desde 2004 eu trabalho com comunicação digital, o que me proporcionou a experiência de viver a internet antes e depois das redes sociais. Na verdade, antes e depois dos algoritmos. A virada das plataformas digitais para plataformas algorítmicas, alimentadas por big data (os dados dos usuários), acontece de maneira casada com a popularização dos smartphones. Os dispositivos móveis, afinal, facilitam o compartilhamento de dados em tempo real, incrementando as redes neurais artificiais e garantindo que elas operem, já que precisam dos dados dos usuários para fazer previsões e oferecer conteúdos relacionados, “personalizados”.
Isso parecia um bom recurso, numa época em que se preconizava que a internet poderia ser uma alternativa à mídia de massa, tratando nichos de público de maneiras diferentes e garantindo que os mais diversos perfis de pessoas acessassem conteúdos que lhes fosse interessantes (o livro “A Cauda Longa” fala sobre isso). Mas, na verdade, a busca incessante por personalização na Web culminou na criação de “bolhas” de desinformação. Cada um vivendo no “seu mundo”, habitando mundos pequenos e circulares – reduzidos a grupos de WhatsApp, por exemplo – em que a ciência e a informação de qualidade dão lugar às notícias falsas e nada embasadas. Hoje, para tornar isso ainda mais grave ou desafiador, as plataformas baseadas em aprendizagem de máquina são construídas de modo a fazer com que os usuários naveguem de determinadas maneiras pré-determinadas, gerando dados já dentro do que os sistemas são programados para gerar.
Estamos presos em uma circularidade. Quando ela é cercada por muros que não deixam as pessoas acessarem notícias reais, embasadas, e terem acesso à ciência, elas ficam isoladas em círculos de desinformação. Isso foi levado à máxima potência com a eleição da extrema-direita no Brasil, completamente impulsionada por notícias falsas disseminadas dessa maneira. O problema é que as big techs, ou seja, as empresas que mobilizam as plataformas digitais e manipulam os nossos dados, são as mesmas plataformas onde a informação – e a desinformação – circulam. Por isso venho trabalhando, como pesquisadora, educadora e jornalista, para que o público “acorde” e perceba que está sendo levado à desinformação.
É preciso alertar para a construção desses muros invisíveis que isolam as pessoas em círculos de desinformação, e consequentemente de desolação. Simplesmente não é possível dissociar disso tudo os grandes e complexos problemas que temos para enfrentar hoje como humanidade. Muitas vezes, “narrativas da sutileza” contribuem para que alguns vejam os problemas de maneira minimizada – a urgência climática, que alguns preferem ler como “acasos”, “ciclos naturais do planeta” e daí por diante; as guerras que viraram genocídios; as brigas que são, na verdade, crimes; a xenofobia disfarçada de acordo internacional e por aí vai. (Des)informação é uma questão educacional, científica, comunicacional, social, cultural e política.
Alguns dos livros e artigos que usei como base são estes:
DI PAOLO, E. A., BURHMANN, T. E BARANDIARAN, X, E. Sensorimo-tor Life. An Enactive Proposal. Oxford: Oxford University Press, 2017.
DI PAOLO, E. The Enactive Conception of Life. In: NEWEN, A., DEBRUIN, L. & GALLAGHER, S. The Oxford Handbook of 4E Cognition.Oxford: Oxford University Press, 2018
DI PAOLO, E. A.; CUFFARI, E. C. & DE JAEGHER, H. Linguistic Bodies.The Continuity between Life and Language. Cambridge: MIT Press, 2018.
DI PAOLO, E., ROHDE, M. & DE JAEGHER. Horizons for the EnactiveMind: Values, Social Interaction, and Play. In: Stewart, J., Gapenne, O. e DiPaolo, E. Enaction – Toward a New Paradigm for Cognitive Science. Cam-bridge: MIT Press, 2010.
DREYFUS, H. What Computers Still Can’t Do. MIT Press: New York, NY,USA: 1992.
DREYFUS, H. Skillful Coping – Essays on the phenomenology of everydayperception and action. Oxford: Oxford University Press, 2016
Quadro colaborativo feito durante a apresentação:
Para quem quer saber mais sobre Hubert Dreyfus, recomendo a leitura deste meu post:
Ser humano é verbo, é ser, mas não é permanecer; é tornar-se, mudar, se transformar, crescer. Sabe? Ser humano é ser criativo, pensar fora da caixinha, e a gente GOSTA disso. Se o ser humano não gostasse disso tudo, como poderia ser complexo, viajar em busca de experiências, querer conhecer coisas e lugares novos e tudo o mais?
Bom, e o que isso tem a ver com Chat GPT??
A tecnologia por trás do Chat GPT possibilita que esse sistema busque, em bases de dados extensíssimas, todo tipo de “informação” e, com isso, monte os conteúdos que a nós retornam. Onde está o poder do Chat GPT? Está, justamente, na sua capacidade astronômica de buscar, nessas bases, de maneira ultra rápida, os dados, e montar os conteúdos. Ok, isso é impressionante e pode trazer consequências, como já está trazendo. Mas é importante separar as coisas. Todas as bases nas quais a ferramenta busca foram construídas por seres humanos. A novidade fica por nossa conta. Somos nós que vivemos as experiências que vão gerar aqueles textos. As PESSOAS são o que importa, em TODO o percurso.
Não me interessa ler textos sobre dicas de viagem sem saber quem escreveu. Não me interessam descobertas científicas sem saber das fontes. Não me interessa uma opinião sem referência – quem disse e quando. Gente, o Chat GPT não dá fontes, nem teria como (talvez desse uma fonte a cada palavra?). Ele não “sabe” realmente de onde tirou cada retalho de informação. Na mistura que o sistema faz, as fontes de perdem. E isso pasteuriza tudo! O conteúdo que a gente acessa se torna rico justamente pelo estilo como as pessoas escrevem, as experiências que viveram e que resultaram naquele texto ou conteúdo multimídia, as pesquisas que fizeram. Cada texto é único e especial em si mesmo, e o Chat GPT pega e junta um monte de dados e gera um texto uniforme, técnico, que nao sei quem escreveu e que propósito havia naquela escrita. Não me seduz, não adianta!
Os conteúdos que vemos no Chat GPT são uma massa disforme. Tudo o que interessa, nessa maré sem fim de conteúdo que nos inunda todos os dias, são as fontes, as origens dos conteúdos, isto é, NÓS, seres humanos! E o Chat GPT simplesmente ignora as fontes. Não “sabe” informar de onde veio aquela massaroca de texto. Imagina páginas e páginas arrancadas de livros, sem capas, index, sumário, nada, e jogadas numa caixa, misturadas. Imagina parágrafos recortados de livros, montados com parágrafos de outros livros; imagina palavrinhas recortadas de páginas de livros e coladas nas páginas de outros livros. Uma sopinha um tanto indigesta, não?
Eu acredito que o medo de que o Chat GPT nos torne obsoletos vem da falta de valorização da capacidade humana de criar, ter empatia, sonhar, se conectar com os outros; porque, se nada disso for importante, mas apenas conteúdos técnicos, pode ser que essa tecnologia seja suficiente! Mas tudo isso É ESSENCIAL, no sentido mesmo da NOSSA ESSÊNCIA. O que somos? O que significa ser humano? Sem um pouco dessa filosofia, fica fácil ter medo do Chat GPT. Mas, se nos conectarmos novamente ao que significa ser humano, a IA vai ter que se esforçar mais, gente. Nada disso me seduz, apesar de me preocupar. Por isso sigo pesquisando!
Leia este post aqui da Giselle Ferreira sobre o assunto, que “conversa” muito com o meu!
Sobre terminar um doutorado e abraçar o que vem depois, mesmo sem saber ao certo o que é que vem!
Fiz um doutorado. Defendi a minha tese no dia 6 de janeiro de 2023, na primeira semana do ano. Só aí meu ano começou. Mas não foi exatamente alívio que senti. Talvez tenha sentido, sim, algum alívio por um dia ou dois. Mas o que tomou conta de mim depois da defesa foi a apreensão pela incerteza, pela dúvida do que vem agora. Foram quatro anos que passei envolvida em uma pesquisa, durante os quais eu mudei de casa oito vezes; morei no Brasil e em Portugal; publiquei artigos; organizei um livro que foi publicado em Portugal; editei um livro que ainda não foi lançado; traduzi artigos do inglês para o português. Apresentei trabalhos em eventos mais de 20 vezes.
Passei (passamos) por uma pandemia! Uma pandemia…
E mesmo assim, ali estava o meu horizonte, produzir a tese, produzir artigos, seguir pesquisando. Eu sabia o que fazer, eu tive financiamento para a minha pesquisa (apertado, mas tive) e eu segui fazendo. Cumpri minhas metas. Foi um bom truque de sobrevivência. Mas eu quase não respirei, e um dia a conta vem. Veio. Enquanto todos me perguntam se estou feliz e tranquila, eu tenho vontade de dizer não…! Tudo menos tranquila.
O doutorado é um tempo incrível em que a gente se dedica a um tema e o estuda com profundidade; no meu caso, machine learning e aprendizagem humana! Fantástico, não é? Mas esse período acaba, e quando a tese “nasce”, em vez de um bebê no colo, ficamos com a sensação de ter as mãos vazias. É um parto sofrido, mas o nosso “bebê” sai direto do nosso “útero” para o mundo. O que fazer?
Haverá dias difíceis, e todos a sua volta só dirão que você deveria estar aproveitando o fim do doutorado, “que alívio”, “aproveita”, etc e tal. Mas só quem chegou ao fim de um projeto importante – de qualquer tipo, não apenas uma tese! – sabe como é louca essa gangorra do alívio-e-vazio. Aprendendo enquanto vivo essa experiência, diria o seguinte: fugir do sentimento não adianta. É super importante se dedicar a novos projetos, participar de eventos em que haja a possibilidade de compartilhar aprendizagens, seguir adiante; mas também é preciso abraçar o aparente “vazio”, e simplesmente sentir. Sentir o fim de um ciclo para que outros venham. Sentir o que aquele aprendizado representou e no que ele pode se transformar. Abraçar o novo, abraçar o desconhecido e até mesmo abraçar a dúvida: será que fiz a(s) melhor(es) escolha(s)?
Faz parte. Até porque, enquanto estivermos vivos, sempre erraremos nas escolhas e poderemos escolher de novo e de novo. E quem tiver medo dos fins de ciclo nunca poderá viver os inícios, nem os processos, nem as transformações…
Concluí uma pós-graduação lato sensu (tipo MBA) em Marketing Digital em 2008. À vezes me perguntam se a pós não ficou “datada”, uma vez que os processos relativos ao mundo digital mudam rapidamente. Não, a pós não ficou datada, porque eu aprendi sobre a lógica de muitos processos, e essa lógica está valendo.
Por exemplo, as boas práticas de arquitetura de informação: a gente aprende, observa, põe em prática – como fiz com projetos como o do Acervo O GLOBO (2010 a 2014), a intranet da Oi (2014 a 2016) e venho fazendo mais recentemente com trilhas de aprendizagem online, por exemplo. Os recursos mudam, as ferramentas e plataformas se diversificam, mas os pressupostos se mantêm.
Outro exemplo: a lógica dos links patrocinados/das mídias pagas versus o SEO orgânico; boa parte dessa lógica vem de quando ainda trabalhava com Yahoo!, antes de trabalhar com Google AdSense… e usava Statcounter e não Google Analytics!
O que se preconiza como bons resultados para a navegação de um site pode mudar, de acordo com os KPIs (Key Performance Indicators) estabelecidos para cada projeto/empresa – por exemplo, o tempo que um usuário passa, em média, navegando num site: pode ser desejável que passe horas e horas, se for um site de e-commerce, ou que passe ‘voando’ pelas páginas, se for um site com informações sobre atendimentos médicos urgentes. No segundo caso, o sucesso está em levar informação rápida ao usuário para salvar vidas, enquanto no primeiro a ideia é tornar a experiência agradável, sem pressa e mostrando o máximo de opções possíveis. Aplica-se então o que se sabe sobre as boas práticas a cada caso específico, e avalia-se as métricas para ver se o empenho resultou como desejado. E por aí vai.
A lógica vale para SEO, Arquitetura da Informação, acessibilidade, user experience, CRM, webwriting etc.
Acho importante, porém, o seguinte: a lógica geral da comunicação pode não ter mudado muito, porque os paradigmas sobre os quais a Web se apoia estão mantidos. Mas… agora temos a dimensão do machine learning e do big data. São muitas e profundas camadas de dados que temos que tratar e gerir. Claro, nem todos os sistemas, sites, apps estão neste momento alavancados por #machinelearning. Mas as redes sociais e os sites de busca estão, e isso mexe com os sites e apps que se encontram inseridos nesse contexto maior. Afeta os caminhos que são feitos para se chegar a eles; afinal, os algoritmos “decidem” (com muitas aspas) muita coisa por nós.
Estou fazendo um curso na Universidade de Coimbra sobre comunicação de ciência para audiências não especializadas. Está sendo uma experiência excelente!
Eu acredito que a preocupação com essa comunicação começa no momento em que nós estamos escrevendo as nossas teses, dissertações e os nossos artigos.
Mesmo que nossas teses, dissertações e artigos sejam peças mais “duras”, com uma estrutura mais rígida, e que possivelmente não alcancem um público leigo, podemos escrevê-las e estruturá-las de uma maneira que de fato comunique as nossas descobertas (um bom revisor, aliás, pode ajudar e muito nisso! Recomendo demais o trabalho de meu pai, Sebastiao Jose Leporace Jr). Podemos adotar uma linguagem mais leve, direta e objetiva.
Para nos ajudar a comunicar bem o que estamos fazendo, podemos também participar de eventos que quebram a rotina dos congressos acadêmicos. Aqui em #portugal, onde estou fazendo doutorado sanduíche, vale a pena acompanhar a http://scicom.pt/, por exemplo. E há muitas outras iniciativas, como: